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segunda-feira, 19 de maio de 2014

Resenha Cinema: Godzilla


Ah, o Godzilla... O kaiju definitivo, o deus dos monstros, a besta alegórica que permitia aos japoneses exorcizarem os pavores da destruição nuclear de Hiroshima e Nagazaki sem precisar lembrar da sova de relho que sofreram na guerra, o bicho meio tiranossauro, meio estegossauro, meio qualquer coisa que destruía Tóquio massacrando outros monstros gigantes enquanto vomitava chamas atômicas e lembrava ao mundo que a aurora da fissão do átomo transformara a balança de poder do planeta Terra que poderia, por qualquer fagulha de animosidade, tornar-se em um deserto radioativo de proporções cataclísmicas.
Tudo isso numa boa sessão de matinê.
Não vou nem falar da crise criativa de Hollywood (mentira, já falei), mas só pode ser ela a responsável por Godzilla voltar aos cinemas em uma nova produção norte-americana, desta vez, pelas mãos da Warner/Legendary, (anteriormente, em 1998, a TriStar havia cometido o Godzilla de Roland Emmerich) mesma parceria de Círculo de Fogo.
Nas mãos de Gareth Edwards, do interessante Monstros (seu único outro longa metragem como diretor), muita coisa muda desde o "Gojira" original dos anos cinquenta.
Estamos em 1999. O engenheiro Joe Brody (Bryan Cranston, que mesmo tendo a cabeça forrada de cabelo sempre me dá a impressão de estar de peruca) vive no Japão com sua esposa Sandra (Juliette Binoche, numa ponta inexplicável) e seu filho Ford.
CDF absoluto, Joe controla a usina nuclear pela qual é responsável com esmero digno de monge budista, atento às menores alterações no status quo.
Alterações como a atividade sísmica que destrói a usina onde ele e Sandra trabalhavam, tragédia que abala a vida de Joe, o arremessando em quinze anos vivendo como um pária, bitolado por uma teoria conspiratória que o faz crer que o desastre que acabou com sua vida não foi um terremoto, mas sim alguma outra coisa, algo que as autoridades lutam para ocultar da opinião pública.
Nesses quinze anos o filho de Joe, Ford, cresceu, virou soldado, casou, se tornou pai, e ganhou a cara e os músculos volumosos de Aaron Taylor-Johnson (O Kick-Ass).
Ford virou um homem que jamais foi capaz de perdoar o pai por não ter assimilado a morte da esposa e lhe dado uma infância normal.
Voltando pra casa após quinze meses trabalhando no oriente-médio, Ford só quer ficar com o filho Sam e com a esposa Elle (Elizabeth Olsen), mas a notícia de que seu pai foi preso no Japão o obriga a se afastar novamente da família.
Na Terra do Sol Nascente, Joe e Ford acabam encontrando a conspiração à qual Joe dedicou os últimos anos na forma do doutor Ishiro Serizawa (Um subaproveitado Ken Watanabe), especialista em tenebrosas formas de vida pré-históricas anteriores aos dinossauros que se alimentam de radiação.
Justamente enquanto Joe e Ford estão nas instalações de Serizawa, uma dessas criaturas, que passou os últimos anos dormente, desperta!
Não é o Godzilla, no entanto, é um massivo organismo terrestre não-identificado, ou, em inglês, MUTO (Mothra?), uma mistura de arraia, borboleta, aranha e alguma outra coisa, que sai voando do Japão rumo aos EUA, onde existe outro MUTO! Ainda maior, (mas não alado) que aguarda o primeiro monstro para ter filhotes e devastar o mundo.
Enquanto os militares americanos tomam as rédeas da ação de Serizawa, uma outra força emerge das profundezas do anel de fogo do Pacífico:
Godzilla!
Outro representante dessa raça de imensas bestas ante-diluvianas que se alimentam de radiação (é... não são alteradas pela radiação, apenas a comem), mas, diferente dos MUTOs, um ultra-predador, no zênite absoluto de todas as cadeias alimentares!
Enquanto o cientista japonês, como bom fã de tokusatsu quer ver os monstros brigarem entre si, e tomara que Zilla esteja do nosso lado, os obtusos militares americanos (encabeçados por David Strathairn) planejam atrair as criaturas à costa oeste dos EUA e destruí-los com uma bomba nuclear (apesar de Godzilla ter sobrevivido à vários bombardeios nucleares na década de 50 e se alimentar de radiação, assim como os MUTOs).
Enquanto a humanidade se vê entre a cruz e a caldeirinha, obrigada a decidir se usa as bombas atômicas ou se sai de lado e deixa os monstros se comerem entre si, Godzilla e Ford percorrem jornadas paralelas para cumprirem seus respectivos destinos.
Francamente?
Não sei por que a crítica está incensando tanto esse Godzilla. Em que se pese que é sempre divertido ver monstros gigantes trocando bordoadas e devastando cidades no processo, esse Godzilla é apenas OK.
Ao remover todo o elemento de sátira do original, onde a humanidade é diretamente responsável pelo próprio flagelo ao despertar e alterar o Godzilla com a energia atômica, e criar um protagonista humano para ser o herói em paralelo ao monstro, Gareth Edwards tornaria o Zilla apenas mais um monstro, não fosse o gigantesco réptil japonês um ícone tão poderoso.
As boas ideias do longa, em especial a abordagem estilo "discovery chanell", com Godzilla e os MUTOs agindo como animais, não são suficientes para fazê-lo se destacar entre outras filmes de brigas colossais (como Transformers), seus protagonistas humanos não tem estofo para carregar a história (como em Cloverfield), e nem a inocência da ação é honesta o suficiente pra dar a sensação de recompensa imediata que a audiência espera quando vai ver um filme com essa premissa (como Círculo de Fogo).
O elenco é cheio de bons nomes, mas nenhum tem muito tempo de tela, ou muito o que fazer, Elizabeth Olsen, por exemplo, só olha pra TV e faz cara de sofrimento a maior parte do tempo (pior sorte têm Juliette Binoche e Sally Hawkins, que mal tem tempo de fazer isso...) e Johnson, um ator que se mostrou bacana em Kick-Ass e O Garoto de Liverpool, aqui poderia facilmente ser substituído por algum outro sujeito parrudo, já que seu papel exige muito pouco, o que, aliás, é natural em um filme que todo mundo foi ver por causa do monstro, que, pra piorar, passa metade do longa sendo identificado apenas pelas protusões ósseas das costas e relances em meio à fumaça, aos escombros, à poeira, às sombras... Menos mal que, quando finalmente surge em toda a sua glória, Zilla entrega aquilo que todos esperavam, se não em cérebro e malícia, ao menos em termos de rosnados e destruição gratuita.
É bom, assista no cinema, dispense o 3-D.

"O erro do Homem é achar que controla a natureza, e não o contrário..."

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