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terça-feira, 27 de outubro de 2015

Resenha Blu-Ray: A Dama Dourada


Se houveram filmes esse ano que eu simplesmente não tive vontade de assistir no cinema (Terremoto: A Falha de San Andreas e Jurassic World, por exemplo), houveram outros que eu estava com bastante vontade de ver na tela grande, mas não consegui devido ao circuito restrito em que foram lançados.
Nesse segundo grupo, encontra-se esse A Dama Dourada, que eu não pude ver no cinema, mas acabei encontrando ontem no Netflix.
A Dama Dourada narra a história de Maria Altmann (Helen Mirren), uma refugiada austríaca do Holocausto que, aos oitenta e dois anos de idade, descobre, em uma carta da irmã recém falecida, que possui propriedade sobre pinturas de Gustav Klimt, incluindo a "Mona Lisa da Áustria", Retrato de Adele Bloch-Bauer, referido apenas como "A Dama Dourada" do título.
O quadro, um retrato encomendado da tia de Maria, Adele, por seu tio, tornou-se, mais de cinquenta anos após o Holocausto, uma das grandes atrações do Museu Belvedere, em Viena.
Tentando reaver não apenas o que ela julga ser sua posse, mas também alguma medida de justiça frente à humilhação, perseguição, morte e roubo perpetrados pelos nazistas na Áustria durante a Segunda Guerra, Maria recorre a Randol Schoenberg (Ryan Reynolds).
Schoenberg, um jovem advogado de ascendência austríaca, sem nenhuma experiência em restituição, recém começando em um emprego numa grande firma de direito após quase falir tentando abrir o próprio escritório concorda em "dar uma olhada" no caso de Maria. Inicialmente sem grandes expectativas com relação ao caso, Randol se empolga conforme descobre o valor das pinturas em questão, estimadas em mais de cem milhões de dólares, e aceita ajudar a senhora Altmann a tentar recuperar sua herança.
Ao chegar à Áustria, porém, os dois descobrem que a restituição de obras de arte em geral, é mais complicada do que imaginavam, e a de uma pintura popular como O Retrato de Adele Bloch-Bauer, considerado um tesouro nacional na Áustria, pode ser ainda mais.
Conforme vão vendo sucessivos obstáculos se interporem em seu caminho, Maria e "Randy" recebem ajuda do jornalista austríaco Hubertus Czernin (Daniel Brühl), talvez a única pessoa na Áustria inclinada a ajudar a octogenária judia.
É graças a Hubertus que Randy e Maria conseguem acessar arquivos que embasam a pretensão de posse da refugiada, mas após uma curta deliberação, a comissão de restituição nega o pedido de Maria, a aconselhando a deixar pra lá, ou ir à corte, um empreendimento legal incrivelmente custoso nos tribunais austríacos.
Se m alternativas, os dois decidem ir embora, mas não sem antes prestar seus respeitos no memorial do Holocausto, onde Randy finalmente percebe que há mais em jogo no caso de Maria do que apenas o dinheiro que ela poderia ganhar com as pinturas.
De volta aos EUA, o advogado encontra precedentes para acionar o governo da Áustria em tribunais norte-americanos, levando o caso até a suprema corte, enquanto os austríacos criam obstáculo sobre obstáculo para atrasar o processo na esperança de quê Maria morra antes do julgamento da última instância.
Com isso em mente, Randy se vê sem alternativa, exceto levar o caso à uma mediação em território austríaco, mas será que Maria terá disposição para retornar à Áustria uma vez mais, revivendo todas as amargas memórias da ocupação nazista?
E se ela não tiver essa força, o que acontecerá a Randy, que arriscou sua carreira e o sustento de sua família em nome do caso?
O longa de Simon Curtis (o mesmo de Sete Dias Com Marilyn) tinha um grande potencial, contando uma história sobre uma das facetas menos exploradas da Segunda Guerra Mundial (ou "menos bem" exploradas), o grande saque promovido pelos nazistas nas nações ocupadas pelo terceiro reich. Conforme o recordatório no final de A Dama Dourada nos lembra, mais de cem mil obras de arte roubadas pelos nazistas durante o conflito, permanecem fora das mãos de seus verdadeiros donos.
Infelizmente, a exemplo de Caçadores de Obras Primas, outro filme com o mesmo viés, A Dama Dourada também falha em se tornar um grande filme, a despeito de ter uma grande história pra contar e uma grande protagonista, uma Helen Mirren na ponta dos cascos.
O roteiro de Alexi Kaye Campbell abusa de dois expedientes, o sentimentalismo e flashbacks, e diminui o filme. Só não diminui mais porque nos referidos flashbacks, a Dama Dourada encontra sua outra atuação acima da média, quando Tatiana Maslany dá vida à versão jovem de Maria, incorporando com estilo os trejeitos o sotaque e o timbre de Mirren, e com muito mais sorte que Reynolds, que, apesar do esforço, falha em manter o ritmo de Mirren, assim como quase todo o restante do elenco que inclui uma acabada Katie Holmes, Max Irons, Charles Dance, a Faora Ul de O Homem de Aço Antje Traue, Elizabeth McGovern e mais Jonathan Pryce (esse, sim, roubando a breve cena em que aparece).
Apesar de seus problemas, porém (que ainda incluem a caracterização demasiado vilanesca das autoridades Austríacas), A Dama Dourada tem mais sorte do que o totalmente equivocado Caçadores de Obras Primas, conseguindo criar um filme mais agradável, e que, ainda que raso, tem seus bons momentos ao produzir uma dinâmica interessante entre os protagonistas a despeito do abismo de estofo dramático entre eles.
Com enxutos 109 minutos, e disponível no Netflix, não há razão para não se assistir A Dama Dourada.

"-Na primeira vez, eu vim por mim mesma. Agora, eu vim por ele."

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