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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Resenha DVD: Promessas de Guerra


Eu sempre fico com o pé atrás quando vejo astros de Hollywood fazendo a transição de atores para diretores de cinema. Sou um pouco preconceituoso com os atores que se aventuram atrás das câmeras, ainda que vários bons diretores tenham surgido justamente assim, que o digam Ron Howard, Ben Affleck e, claro, Clint Eastwood.
Ontem assisti a primeira incursão de Russel Crowe à direção, este Promessas de Guerra (The Water Diviner, no original), onde o astro de Gladiador, Uma Mente Brilhante e Los Angeles: Cidade Proibida interpreta um pai à procura de seus filhos desaparecidos na campanha de Galípoli, na Turquia, uma das mais trágicas da Primeira Guerra Mundial, contando mais de cento e cinquenta mil mortes entre abril de 1915 e janeiro de 1916.
Crowe interpreta Joshua Connor, um fazendeiro australiano e "adivinho d'água", que perdeu os três filhos na Batalha de Galípoli.
O homem capaz de encontrar água no subsolo da árida planície australiana vive em sua modesta fazenda ao lado da esposa Eliza (Jacqeline McKenzie), que jamais se recuperou da perda dos meninos.
Em seu frágil estado mental, ela segue pedindo que Joshua leia histórias para os três aos pés de suas camas feitas com os pijamas esmeradamente dobrados esperam por seus donos.
Quando Eliza comete suicídio, Joshua resolve ir à Turquia para reclamar os corpos de seus três filhos e enterrá-los ao lado da mãe.
Começa a luta de Connor para, após vencer a longa jornada da Austrália à Turquia, tentar chegar aos campos de batalha de Galípoli e procurar pelos restos mortais de seus filhos em meio à milhares de outros jovens mortos durante a campanha, uma empreitada que não é vista com bons olhos pelo exército britânico, gerenciando uma região transformada em um barril de pólvora por conta de seu valor estratégico.
Em sua jornada, o caminho de Joshua se cruza com o do tenente-coronel Hughes (Jay Courtney), encarregado das buscas pelos restos mortais dos soldados de Galípoli, do sargento Jemal (Cem Yilmaz) e do major Hasan (o ótimo Yilmaz Erdogan), militares otomanos incumbidos de auxiliar na procura.
Conforme cruza a Turquia, Joshua também conhece o menino Orhan (Dylan Georgiades) e sua mãe, a inicialmente antipática Ayshe (a linda Olga Kurylenko), que partilham com ele o histórico de perdas durante a guerra.
Promessas de Guerra é uma boa história. Um drama de guerra que se equilibra com uma história de aventura graças à presença marcante de Crowe, um ator muito acima da média com estofo e carisma para segurar um filme nas costas (e utilizado sem nem um pingo de constrangimento pelo Crowe diretor).
Infelizmente, fica evidente que o Crowe diretor precisava de um pouco mais de cancha antes de abraçar um projeto do tamanho de Promessas de Guerra.
O roteiro de Andrew Knight e Andrew Anastasios por vezes perde o rumo, sendo incapaz de se decidir entre um drama enlutado e um libelo anti-guerra, e uma aventura empolgante passada em um país exótico, uma dicotomia partilhada por seu protagonista, que lamenta ter enchido a cabeça dos filhos com bobagens heroicas sobre Deus, rei e pátria, mas não titubeia em sair na porrada com o cunhado abusivo de Ayshe, por exemplo.
Fosse um diretor mais experiente, talvez Crowe tivesse malandragem para escolher uma abordagem em detrimento da outra, ou, ao menos assumir a ironia decorrente, como não é o caso, Promessas de Guerra patina um pouco sem decidir que tipo de filme quer ser.
Outro ponto que causa algum desconforto, ao menos nesse cético que voz escreve, é o elemento de sobrenatural presente no roteiro.
O protagonista conseguir encontrar água no deserto, ou os restos mortais de seus filhos no campo de batalha, ainda passa, mas os sonhos que ele tem, quase como vislumbres Jedi do futuro, são um pouco excessivos, outra coisa que um cineasta mais experiente poderia ter evitado nem que fosse na sala de edição (A edição, aliás, é o ponto baico na parte técnica do filme. Trabalho bem meia-boca de Matt Villa), nada, porém, que estrague o filme.
Promessas de Guerra ainda é um ótimo programa, com bela fotografia do oscarizado Andrew Lesnie (seu último trabalho, ele faleceu em abril), música discreta de David Hirschfelder e apesar dos eventuais furos no roteiro, é uma bonita e tocante história história, contada por um bom elenco, e um diretor que, em seu primeiro trabalho, não manda nada mal.
Assista. Vale horrores a locação.

"-Por que mudar tudo por causa de um pai que não consegue sossegar?
-Porque ele é o único pai que veio procurar."

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