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sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Resenha Cinema: Pan


Eu não vou começar outra resenha falando a respeito de crise criativa em Hollywood, sobre a obsessão com franquias, reboots e sequências, e sobre como é mais fácil apostar em uma marca conhecida do que apresentar um projeto saído do zero.
Desculpem, eu menti. "Faço isso, ás vezes."
É impossível falar de Pan (No Brasil transformado em Peter Pan, porque apenas metade de uma marca conhecida pode não ser o suficiente para levar completos imbecis ao cinema) sem mencionar todas essas questões.
O filme de Joe Wright (diretor dos filmes baseados em obras de Jane Austen estrelados por Keira Knightley) é um desses projetos feitos clara e exclusivamente pra espremer um pouco mais de suco de uma história conhecida. Um Peter Pan begins, uma possibilidade de levar a audiência a reencontrar personagens e lugares conhecidos contando uma nova história, acrescentando elementos e surpresas, ainda que, no processo, descaracterize e contrarie a história no qual se baseia.
Mas estou colocando o carro na frente dos bois.
Pan, é um bom filme.
A história abre com uma ágil jovem (Amanda Seyfried) abandonando um bebê às portas de um orfanato em Londres. Ela coloca uma carta em seu cobertor e um colar com uma flauta de pan (Arrá, entenderam? Entenderam?) em seu pescoço, e parte fazendo-lhe juras de amor.
Doze anos se passam, e durante a Segunda Guerra, Peter (agora o jovem Levi Miller) ainda está no orfanato esperando por sua mãe, mas não só isso. Ao lado do amigo Nibs (Lewis McDougall) ele se envolve em diversas enrascadas por conta de seu perfil rebelde e aventureiro. Sua principal atividade é desafiar a malvada diretora da instituição, a madre Barnabas (Kathy Burke).
Durante uma expedição aos aposentos da madre, Peter e Nibs descobrem, além de comida e dobrões de ouro escondidos, a carta de Mary, que o disléxico Peter é incapaz de ler sem ajuda.
Pegos no flagra e punidos, os meninos se preparam para dormir conjecturando que os dobrões de ouro de Barnabas provém da venda de órfãos para casais do Canadá quando as luzes se apagam e meninos começam a ser abduzidos de suas camas por piratas em cordas!
Peter e Nibs são capturados e levados á bordo de um galeão voador onde os piratas prendem os jovens em porões e os levam embora.
Nibs consegue saltar de volta para o teto do orfanato, mas Peter, que ironicamente tem medo de altura, permanece no navio, e é levado à Terra do Nunca.
Lá, ele e outros órfãos são perfilados a mineradores que trabalham escavando túneis de pedra em busca de um raro mineral chamado Pixum para o pirata Barba Negra (Hugh Jackman).
Trabalhando nas minas, Peter conhece James Gancho (Garrett Hedlund), outro escravo de Barba Negra. É com a ajuda de Gancho que Peter escapa das minas após Barba Negra descobrir que o menino pode voar, e lhe contar a respeito da profecia que diz que um menino voador lideraria um levante contra o senhor de todos os piratas.
Fugindo com Gancho e mais o aparvalhado Smiegel (Adil Akhtar), Peter acaba sendo encontrado pela princesa Tigrinha (Rooney Mara), e lá, descobre que é filho de uma humana com o príncipe das fadas, e que seu destino é destruir Barba Negra.
Mas será que o jovem Peter está à altura de tal tarefa? Será que ele é capaz de encontrar a força interior para cumprir a profecia e impedir que Barba Negra destrua o reino oculto das fadas e proteger a Terra do Nunca?
Como eu disse lá no início, Pan é bacana.
O filme tem uma das melhores produções de arte que eu vi esse ano. O visual, ainda que algo reciclado, é muito bonito, os efeitos visuais são caprichados e o elenco manda bem.
Hugh Jackman faz um tremendo trabalho como o malvado Barba Negra, cheio de presença e malícia, Rooney Mara está uma graça como a princesa Tigrinha, e o jovem Levi Miller não faz feio, enquanto Garrett Hedlund cria um jovem James Gancho que ecoa como Han Solo (Aliás, tudo no roteiro de Jason Fuchs ecoa como alguma outra coisa, Avatar, Star Wars, Piratas do Caribe... ).
O longa tem diversas sequências interessantes, das perseguições entre galeões voadores a cenas de lutas com espadas, além das ótimas cenas em que os piratas e os mineiros cantam hinos do rock durante os trabalhos forçados (somos apresentados às minas de Pixum ao som de Smells Like a Teen Spirit, do Nirvana, e as sessões de punição de Barba Negra são embaladas por Blitzkrieg Bop, dos Ramones).
Ainda assim, por mais divertido e bem montado que seja, Pan não parece um prelúdio de Peter Pan. Eu teria gostado muito mais do filme se ele fosse a sua própria história. Alguns elementos simplesmente não encaixam com o que conhecemos do universo da Terra do Nunca, dando a impressão de que para Pan chegar lá, precisaria se tornar (adivinhe) uma franquia, uma ideia idiota já que o protagonista Levi Miller já está com treze anos, e ao contrário de Harry Potter, Peter Pan não cresce.
Além do mais, o Peter Pan de Levi Miller, embora seja um personagem bastante interessante, com todas as ferramentas de um herói mirim, não lembra em nada o Peter Pan original.
Falta ao mocinho a arrogância juvenil e o garbo cheio de si que, por exemplo, Jeremy Sumpter esbanjou no excelente Peter Pan de 2003.
Ainda que tenha todos esses defeitos, Pan é um filme bacana, um espetáculo divertido e mesmo que não faça ninguém bater palmas pra Sininho e dizer "eu acredito", vale a ida ao cinema.

"-Nós seremos amigos pra sempre, não é, Gancho?
-Para todo o sempre, Peter. O que poderia dar errado?"

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