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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Inconstante


Ela estava deitada nua por cima dele. Aquela era a primeira vez que a via nua. Já haviam feito sexo antes, mas fora sexo corrido, ligeiro, de pé contra uma estante.
Agora, não. Agora estavam em quarto. Em um motel, o primeiro motel onde ele entrara, e ela estava sentada em cima dele, completamente nua, ajustando a temperatura do ar-condicionado sem deixar de rebolar maliciosamente o quadril enquanto manuseava o controle remoto do aparelho.
"Que abafamento nojento.", disse, sem cessar o rebolado.
Sorriu de olhos fechados ao sentir a lufada de ar gélido deixar o aparelho. Sua pele se arrepiou e ela dançou com os ombros enquanto se remexia sobre ele, intumescido como estivera desde o momento em que recebeu a ligação dela, no dia anterior, dizendo que Jorge viajaria e ela teria três dias livres.
"Me leva pra algum lugar e me come.", disse em sua habitual maneira impiedosa.
Ele sequer pensara duas vezes. Perguntou onde. "Num motel." ela respondeu. "Escolhe e me diz onde é. Te encontro lá.".
Ele desligou o telefone sem nem pedir o número dela. Foi para a internet procurar um motel. Não precisou de muito tempo para encontrar um. Alimentou, brevemente, a ideia de escolher algo que pudesse agradá-la, mas dado o que sabia de Ludmila, julgou que o ideal era escolher por seu próprio gosto.
Se ela não gostasse, tinha certeza, lhe diria, ou simplesmente não entraria mais em contato.
Parecia o estilo dela.
Escolheu um motel com banheira na suíte. Estava calor e ele julgou que seria agradável poder esperar por ela em um banho de imersão após sair da academia. Fez a reserva online e só então se deu conta de que não tinha como avisá-la de onde deveriam se encontrar.
Remoeu a própria tolice por quase três horas até ela ligar. Ela pediu seu número de celular.
Não pediu. Ordenou que ele o entregasse.
"Me dá teu celular.", disse do outro lado da linha, de forma tão incisiva que se ela estivesse diante dele ele provavelmente teria tirado o aparelho do bolso e entregue nas mãos dela.
Assim que ele declamou o último algarismo do número, ela desligou sem se despedir, e ele passou a receber mensagens dela por aplicativo de troca de mensagens.
Ele lhe disse em qual motel fizera reserva, o endereço do lugar, e que pensara em encontrá-la às seis.
"Por que tão tarde?", ela perguntou numa mensagem. Para na seguinte, enviada segundos depois inquirir "Que horas tu sai do trabalho?".
Ele respondeu, ela enviou "Quatro e meia.".
E não disse mais nada. Ele entrou no site do motel novamente e reagendou a reserva.
No dia seguinte, não foi à academia e tomou um táxi na esquina do trabalho assim que saiu, descendo diante do motel e pensando no ridículo de chegar de táxi a um motel.
Foi à recepção, pagou o quarto por duas horas com opção de mais duas, e para o quarto.
Luz rosa/lilás no ambiente.
Cama do tamanho de um tatame.
Lençóis de tecido brilhoso e liso... Cetim, talvez? Ele era péssimo com tecidos. TV de tela grande e canais adultos, segundo o display ao lado do aparelho. Uma banheira redonda dominava o meio do ambiente . Ele se despiu, largou as roupas junto à cama e encheu a banheira, deitando-se lá dentro.
Não teve nem dez minutos de relaxamento quando bateram à porta. Levantou-se, enrolou-se em uma grande toalha branca e atendeu à porta.
Ela sequer lhe deu oi, foi entrando. Tirou os óculos escuros, e andou até o meio do quarto, olhando em volta. Estava estranhamente despojada. Calças de ginástica pretas, bustiê esportivo azul-marinho, tênis de corrida Asics com mais cores do que ele se julgava capaz de nomear, o cabelo longo e platinado preso em um prático rabo de cavalo.
Ele a ficou olhando. Era ainda mais gostosa em roupas de ginástica do que em seus trajes sóbrios e elegantes.
Deus salve a Lycra, pensou.
Ela se virou com pouco caso, e o percebeu a olhando.
Sorriu. "Não gostou?".
"Gostei.", ele respondeu sentindo-se estranhamente seguro. "Só estranhei. Nunca te vi tão à vontade.".
Ela riu. "Não estou à vontade. Estou na academia.". Tirou o bustiê num movimento rápido sobre a cabeça e completou, "Vou ficar à vontade agora. Tira meu tênis.".
A mulher realmente gostava daqueles joguinhos de mandar, ele pensou. Começava a estranhar ela jamais tê-lo chamado de escravo. Subitamente deu-se conta de que vê-la em trajes de ginástica em um ambiente onde ambos estavam em pé de igualdade a desmistificou um bocado.
A desmistificou mas não a tornou menos sexy. Ele pôs um dos joelhos no chão diante dela e apanhou sua perna pela panturrilha firme, erguendo-a. Desatou o laço do tênis e folgou o cadarço com movimentos ligeiros e decididos. Removeu o calçado e o jogou pra longe.
Esperou um segundo por uma reprimenda que não chegou. Descalçou a meia de cano curto do pé delicado dela. Cheiro de talco. As unhas pintadas com base translúcida e feitas com esmero. Beijou o peito do pé dela, e o pousou no chão.
Repetiu a operação com o pé esquerdo. Livre dos calçados, agarrou a calça de ginástica pelo elástico da cintura, e a puxou apenas até o meio das coxas. Agarrou-a com as duas mãos pelas nádegas e a puxou para seu rosto, beijando-lhe os pelos bem aparados do púbis com voracidade.
"Não." Ela disse, afastando-lhe o rosto com uma das mãos. "Isso a gente já fez. Figurinha repetida não completa álbum.", sorriu maquiavélica. "Eu vou sentar na tua cara.".
Ele se levantou, desenrolou a toalha da cintura, e andou em direção à cama secando-se rapidamente e deitando-se em seguida. Ela terminou de despir a calça, andou nua até onde ele estava enquanto soltava os cabelos, e cumpriu a promessa, sentando-se languidamente sobre o rosto dele, e pondo-se a rebolar.
Ela rebolou por um bom tempo, e, se tivesse que arriscar um palpite, ele diria que ela gozou ao menos uma vez fazendo aquilo.
Talvez mais.
A lubrificação abundante entre as coxas rijas era testemunho, no mínimo, de uma fagulha de satisfação.
Vez que outra, o agarrava pelo pênis, o masturbando brevemente, ou se esticava e lhe chupitava a glande por alguns segundos, apenas o suficiente para mantê-lo com uma ereção quase dolorida de tão constante.
Depois disso, levantou-se, e o chupou com voracidade, mas apenas por alguns minutos, então, pôs-se de quatro, e ordenou que a comesse com força, ao que ele obedeceu.
Ergueu-se sobre os joelhos e se posicionou atrás dela, agarrando-a pela cintura. Pegou o próprio pau junto à base, e direcionou para a entrada da boceta dela.
Enfiou devagar, até suas bolas estarem coladas ao monte de Vênus dela.
Começou a se movimentar pra dentro dela, realizando os movimentos fortes e compassados, quase uma pancada com o púbis à cada estocada. Não levou vinte minutos para ouvir o arfado dela se tornar um gemido, e o gemido um quase uivo que terminou com um tremor leve percorrendo-lhe o corpo e fazendo-a apoiar um dos braços no cotovelo, e não na mão.
Ele se sentiu poderoso, e ainda que suasse em profusão, sentindo as gotículas escorrerem-lhe pelas costas, testa, peito e braços, negou-se a parar. Manteve-se comendo-a de maneira inexorável, quase com raiva que lhe transbordou dos movimentos e escapou por seus lábios em um asqueroso "Goza, puta.".
Todavia, ela não se ofendeu.
Pelo espelho que ocupava a parede diante da cama ele a viu sorrir com todos os dentes, e fechar os olhos enquanto movia o quadril para cima e para baixo no compasso da metida dele.
Após alguns minutos que começaram a parecer excessivamente lentos para ele conforme suas virilhas sentiam a carga do movimento de vai e vem, ela enunciou "Eu vou gozar de novo.".
A declaração dela o fez esquecer do cansaço e da dor. A segurou com firmeza pelos quadris e meteu sem piedade, o saco chicoteando-lhe a bunda à cada investida até ela confirmar, em um grito sussurrado e rouco "Tô gozando, tô gozando", e desmoronar sobre a cama.
Ele jogou o peso do corpo pra trás. O pau continuava duríssimo, mas as pernas latejavam acima dos joelhos. Sem dizer nada, a virou de barriga pra cima, de maneira decidida. Abriu-lhe as pernas, e se colocou entre elas. Achou o caminho até dentro dela e continuou se movimentando. O suor brotava de sua têmpora escorria por seu rosto e pingava nela. No rosto, pescoço e peito.
Ele pensou que se fosse outra situação. Outra pessoa, seria o momento em que ele sorriria e diria alguma coisa a respeito da chuva de suor que lançava. Mas não era o feitio dela.
Continuaram.
Por um longo tempo, por posições diversas, até que, ela por cima, achou que estava muito quente, e ajustou a temperatura do ar-condicionado.
Rebolava com ele rijo dentro de si. Então, o olhou e concedeu. "Tem alguma coisa que tu queira fazer antes de eu ir embora?", perguntou.
Ele sorriu. "Acho que cobrimos quase tudo o que eu gosto de fazer.".
"Não precisa ser alguma coisa que tu goste. Alguma coisa que tu queira.", ela disse, maliciosa, mas deteve-se "Quase... O que faltou?", perguntou.
Ele pensou em sorrisos e cumplicidade. Mas achou que seria risível pra ela.
Ela era uma mulher prática. Pragmática. Não entenderia ou quereria entender do que ele sentia falta. Sem razão consciente, disse "Ficar deitados sem roupa.".
Ela se levantou de cima dele de cara amarrada.
"Isso eu só faço com o meu marido.".
Andou até o chuveiro. Tinha uma vitrine que dava para o quarto, de modo que, deitado na cama, ele a enxergava perfeitamente se banhando. Estava de costas para ele.
Teve a sensação inequívoca de quê havia acabado ali sua breve aventura com a mulher mais velha e casada.
Era, a bem da verdade, uma sensação de certo alívio.
Vestiu novamente a cueca boxer preta, e ficou deitado encarando o teto espelhado. Olhando além de si. Sempre tinha alguma repulsa à própria imagem após fazer algo errado, e tinha a sensação de que aquelas últimas horas, desde atarde anterior, haviam sido uma inexequível sucessão de erros crassos.
O chuveiro se desligou.
Ele olhou na direção dela, que juntava os tênis e as meias que ele jogara pelo quarto. Vestiu as calças e o bustiê, sentou na cama atrás dele e se pôs a vestir as meias.
Ele a olhou de esguelha pelos espelhos. Parecia cansada.
Teve um ímpeto de tocar de leve nas costas dela, mas não o fez.
Não sabia como ela reagiria, e ele não tinha certeza de que tipo de relação era aquela.
Ela calçou os tênis e os atou. Pegou os óculos escuros no chão do meio do quarto, os colocou sobre os cabelos como uma tiara e saiu sem se despedir.
Ele tomou banho e chegou à recepção pouco antes de fechar as duas horas pelas quais havia pagado.
Saiu do motel pelo estacionamento, e a viu parada junto a um Mondeo prata.
Ia passar reto, mas ela o chamou. Andou a contragosto, como um moleque.
"Quer uma carona pra casa?", ela perguntou.
"Não. Obrigado." ele respondeu. Não queria mais andar com ela. Não queria mais passar nem um minuto perto dela. "Quero andar um pouco.", mentiu sentindo as pernas e a musculatura da pélvis e cintura latejarem.
Ela assentiu em silêncio. Ele andou mais alguns passos e ouviu a porta do carro se abrir.
"De novo, amanhã?", ela perguntou quando ele esperava ouvir a porta batendo.

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