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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Resenha DVD: Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível


Desde o final do ano passado, Tomorrowland vinha sendo alardeado como um dos grandes lançamentos de 2015. O longa metragem de Brad Bird, egresso da Pixar com o divertidíssimo Missão: Impossível - Protocolo Fantasma no cartel, prometia a criação de um filme estrelado por atores com a alma e o coração das animações do estúdio que revolucionou os desenhos animados. Por meses todos ficaram ansiosos pelo filme, que figurava nas listas de mais aguardados de quase todos os sites e revistas de cinema.
Mas junho (maio, nos EUA) chegou, Tomorrowland estreou e não chegou nem perto do evento que todo mundo esperava.
O longa fracassou nas bilheterias, sequer chegando a cem milhões de dólares nos Estados Unidos, e somando um total de pouco mais de duzentos e nove milhões para um orçamento de 190, dando a entender que a reação de todo mundo foi a mesma que eu tive à época diante do poster e dos trailers do filme, um sonoro "Hmmm..." enquanto erguia as sobrancelhas e entortava a boca pro lado.
Ontem aluguei o filme para conferir se eu (e aparentemente todo o mundo mais) havia cometido alguma grave injustiça para com Tomorrowland (que na tradição brasileira ganhou um extremamente longo, pouco acurado e genérico sub-título).
O longa abre com um flashback.
Frank Walker (George Clooney) conta à audiência sua experiência quando, em 1964, viajou à Feira Mundial para concorrer em um concurso de inventores com um jetpack feito em casa. O jovem Frank mostra sua invenção para um jurado (Hugh Laurie) e é esnobado por ele, pois sua invenção ainda não é cem por cento funcional.
Se o jurado David Nix não parece interessado, o mesmo não se pode dizer da menina que o acompanha.
Athena (Raffey Cassidy), uma jovenzinha sardenta de franja no cabelo e grandes olhos azuis, se aproxima de Frank e lhe dá as coordenadas para que ele a siga quando ela for embora com Nix e outros homens, e um aparentemente inofensivo pin.
Agindo conforme ordenado por Athena, o jovem Frank (Thomas Robinson) entra na atração "It's a Small World", da Disney, para, ao entrar em um túnel, ser tragado para um futuro utópico repleto de imensos arranha-céus art-déco que convivem com áreas verdes verticais, piscinas suspensas, monotrilhos voadores que serpenteiam pelo céu e enormes e prestativos robôs construtores, tudo isso cercado por imensos trigais dourados.
Ao sobreviver a uma grande queda graças à sua invenção, Frank reencontra Athena, que lhe deseja boas vindas.
Aí, Frank é interrompido, e conhecemos Casey (Britt Robertson), como ela própria se autodenomina, uma otimista.
Casey é filha de um engenheiro da NASA, e está preocupada com o futuro de seu pai, uma vez que a plataforma de lançamento de Cabo Canaveral, onde ele trabalha, está por ser desativada e desmantelada.
Durante o dia, Casey vai à aula, cuida do irmão mais novo e faz coisas de adolescente. À noite, ela invade as instalações e sabota os guindastes que trabalham na desmontagem da estrutura de lançamento.
A jovem Casey também recebe a visita de Athena, e o misterioso pin. Eventualmente, ela também é levada a Tomorrowland, mas é trazida de volta, e, ansiosa por voltar à Terra do Amanhã, começa uma busca que a coloca em grande perigo, mas também no caminho de Frank Walker, hoje um homem desiludido e amargurado, escondendo-se em uma fazenda isolado do mundo.
Agora, a jovem inventiva e brilhante, precisa se unir ao velho inventor cínico em uma perigosa missão para, com a ajuda de Athena, não apenas encontrar o caminho de volta até Tomorrowland, mas também, para impedir a destruição do nosso mundo.
Assistindo ao filme é fácil perceber porque ele foi tão antecipado.
Tomorrowland é um deleite visual, um festival de apuro técnico em cada aspecto de uma produção cinematográfica. A edição, o som, os efeitos visuais, a trilha sonora, a fotografia, é tudo muito, muito bom.
O filme frequentemente premia a audiência com momentos de fantasia de ficção científica quase oníricos entrecortados por pequenos vislumbres de uma lógica extremamente prática, os ângulos escolhidos por Bird para filmar são sempre espertos, e a maneira como o pin símbolo do filme funciona com Casey, fazendo ela existir em dois espaços de tempo/espaço simultaneamente, é particularmente inspirada.
Em seus melhores momentos, Tomorrowland tem uma pegada firme, que deixa claro o quanto de paixão pelo projeto motivou Bird a realizá-lo. O elenco, em especial Clooney e Cassidy, compra a paixão do diretor, e se esforça para dar lastro à trama, mas a verdade é que há algo em Tomorrowland que impede o filme de empolgar a audiência como obviamente empolgava a Bird...
Talvez seja a própria natureza da trama engendrada por Damon Lindelof, o próprio Bird e mais Jeff Jensen, quase uma ode à ciência e aos privilegiados (ecoando o trabalho de Bird em Os Incríveis...), onde as grandes mentes do mundo se cansaram dos medíocres e fizeram um mundo perfeito só para eles e alguns poucos escolhidos livres das amarras da ambição, da burocracia e da burrice. Talvez seja a personagem de Britt Robertson, a verdadeira protagonista do filme, que não tem absolutamente nada pra mostrar além de gritinhos agudos e teimosia, ou quem sabe o fato de que, a despeito de todo o otimismo salpicado ao longo das duas horas e dez de projeção, o vilão de Hugh Laurie, de fato, tenha um ponto melhor a defender do que os heróis?
Seja como for, Tomorrowland não é ruim. Especialmente, não é ruim como a bilheteria raquítica sugere, e merecia melhor sorte nas bilheterias.
Há momentos genuinamente empolgantes e ao menos um momento realmente tocante, e eu vi filmes infinitamente piores fazendo obeso sucesso financeiro (coff, Transformers, coff, coff, Piratas do Caribe, coff).
Tomorrowland não é um excelente filme, e certamente não vive à altura da antecipação que criou, mas é um trabalho de notável paixão, e qualquer trabalho advindo de tão palpável sentimento, merece, ao menos um pouco de platéia.
Certamente vale a locação.

"Todo o dia é a oportunidade de um amanhã melhor."

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