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segunda-feira, 13 de junho de 2016

Entendendo


Estavam sentados um ao lado do outro, na praça. Não estavam se tocando, ainda que ele, espertamente, tivesse seu braço espichado por trás das costas dela junto ao encosto do banco.
-Eu acho que te entendi... - Ele disse, com um meio sorriso triste.
-É mesmo? - Ela quis saber, olhando pra ele séria, mas sorrindo com os olhos.
-Sim. - Confirmou. -Não é engraçado que tenha demorado tanto? Que tenha sido só agora? - Ele perguntou.
-Eu não diria engraçado... - Ela falou, mudando a expressão. -A menos que, por engraçado, tu queira dizer irônico. - Conjecturou ela, erguendo bem as sobrancelhas.
-É... - Ele confirmou. -Foi exatamente o que eu quis dizer.
Suspirou. Era até irritante como ela e ele tinham isso. Se entendiam de maneira análoga. Subliminar. Orgânica. Ela e ele sempre sabiam um o que o outro queria dizer. Sabiam as mesmas coisas. Tinham variações do mesmo background. E ainda assim, não haviam dado certo... Certo?
Ela o tirou de seus devaneios:
-E como foi que tu me entendeu? - Perguntou.
-Não disse que entendi. - Ele corrigiu. -Disse que acho que te entendi. Vai uma diferença bem grande.
Ela fez um "hmmm" de compreensão. Continuou:
-E como tu acha que me entendeu? - Quis saber, enfatizando o "acho".
Ele mexeu a mão, ia tocar no cabelo dela, mas deteve-se. Olhou direto nos olhos dela, tentando ganhar um pouco de terreno.
Nunca soube se era verdade, ou não, mas sentia que possuía sobre ela, um poder semelhante ao que ela exercia sobre ele. Algo que outras pessoas não podiam ver, mas ela podia. Pequenos suspiros ou mudanças de expressão que, em um momento ou outro, sugeriam que ela o desejava, e que ele era capaz de surpreendê-la de quando em quando.
Ele nunca soube se aquelas reações eram autênticas ou se ela apenas as simulava de modo a oferecer-lhe, gentil, uma migalha de falso poder... Tinha, porém, tendência a creditar na veracidade daqueles pequenos deslizes por conta do coração dela, que fazia "Bum! Bum! Bum! Bum!" quando estavam de corpos colados.
A olhava direto nos olhos. Ela o olhava de volta. A expressão do rosto sensivelmente diferente, mas ainda firme. Sem sinal daquela fraqueza da carne que ele vislumbrara em um momento, ou dois.
-Como tu acha que me entendeu? - Ela repetiu.
Ele sorriu meio de lado:
-Eu vi Bonequinha de Luxo. - Disse.
Ela sorriu de volta.
-E daí?
-Eu não sei. - Ele disse. -Entendi, ou não?
-Tu acha que eu era uma puta antes de te conhecer? - Ela perguntou com um sorriso irônico, deixando escapar uma ponta de raiva ou desapontamento, ele não soube dizer, talvez porque não conseguiu decidir qual dois dois sentiria se estivesse no lugar dela. Talvez sentisse ambos...
Continuou:
-Não é esse o ponto, não é mesmo? - Disse.
-Não é? - Ela perguntou como quem não acredita.
-Não. - Ele confirmou.
-E qual é o ponto, então? - Ela quis saber, abrandando as feições.
-É que não importa. Não importa qual seja a tua jaula. Não importa o que tenha sido. Nunca importou... Não fazia diferença pra mim. Nunca fez. O "antes" não significava nada pra mim quando tu era o meu "agora" e o meu "depois"... Contanto que eu estivesse à altura da tua expectativa, o "antes" podia se explodir que eu não tava nem aí.
Ela sorriu entre triste e enternecida. Olhou pra baixo e então pra ele:
-E agora... Tu liga pro "antes"?
-Agora... É... Agora eu acho que ligo. - Ele confirmou, sério.
Ela fez outro "hmmm", de que entende. Mas mais curto. "hm". Ele continuava olhando pra ela. Disse:
-Eu ligo pro "antes" porque é onde tu e eu éramos "nós".
Ela sorriu um sorriso aberto. E ele sorriu um sorriso contido.
Havia tanto mundo pra ver, e eles estavam atrás do mesmo final de arco-íris...

Um comentário:

  1. "I'll always love you 'cause we grew up together and you helped make me who I am. I just wanted you to know there will be a piece of you in me always, and I'm grateful for that"

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