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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Resenha DVD: A 5º Onda


Eu não acho que me enquadre na categoria de público "jovens adultos" que tem se popularizado em anos recentes. A literatura focada em leitores de 14 a 21 anos não me atrai, seja porque eu já passei há muito tempo dessa faixa etária, seja porque eu sou um paradoxo cronológico e não consigo ser nem "jovem" e nem "adulto", ou seja porque, de modo geral, as obras voltadas a essa qualidade de público são mais ou menos como tudo o que é voltado para essa faixa-etária:
Raso e ligeirinho.
Ás vezes meloso.
Sério...
Crepúsculo, Divergente, Meu Namorado é um Zumbi... Mesmo os melhores exemplares do gênero, como Jogos Vorazes, podem ser resumidos à uma personagem central feminina forte, mas sensível, envolvida em um triângulo amoroso piegas, descabido, e mal ajambrado que move uma história que pode, ou não, passar-se em um futuro distópico.
Logo nos primeiros trailers de A 5º Onda, eu já podia dizer com toda a certeza, que o filme era mais um exemplar do gênero tentando beber o sangue da audiência após o fim de Jogos Vorazes.
Ontem assisti ao filme, e confirmei minha suspeita.
No longa dirigido por J Blakeson, somos apresentados à jovem Cassie (Chloë Grace Moretz, tenebrosamente subaproveitada).
A jovem, armada com um rifle semi-automático, entra em uma loja de conveniência abandonada, e vasculha o lugar procurando víveres. Ela apanha água, alguns enlatados, uma escova de dentes, e então ouve um pedido de ajuda vindo de uma sala nos fundos.
Ao entrar, se depara com um homem ferido que, sentado no chão lhe aponta um revólver.
Os dois trocam ultimatos de "largue sua arma" e olhares aterrorizados.
O homem cede e larga o revólver, mas Cassie não largará a sua arma até que ele mostre a mão que permanece escondida dentro de seu casaco.
Quando o sujeito o faz, Cassie vê um brilho metálico, e atira. Ao se aproximar do defunto, ela percebe que o metal não era uma arma, mas uma cruz.
Esse início abrupto e cru, quase traumático com ecos de The Last of Us e A Estrada poderia dar o tom de A 5º Onda.
Infelizmente, não o faz.
Daí em diante, entra em cena a narração em off de Cassie, contando como ela era uma jovem perfeitamente normal, vivendo uma vida perfeitamente normal em Ohio com seus pais e seu irmão mais novo até que o impossível aconteceu, e a Terra foi invadida por alienígenas.
A raça espacial referida como "Os Outros" estacionou uma grande espaçonave sobre a Terra e passou a lançar ondas de ataque.
A primeira onda é o blecaute, quando um pulso eletromagnético elimina toda a tecnologia da Terra, inutilizando aparelhos eletro/eletrônicos.
A segunda onda vem na forma de água. Os Outros causam gigantescos tsunamis que eliminam três bilhões de pessoas.
A terceira onda é uma peste disseminada através de pássaros. A doença extermina 97% dos sobreviventes das primeiras ondas.
A quarta onda é bastante simples em comparação. Os Outros se infiltram na população da Terra e usam atiradores para matar os sobreviventes.
Após as primeiras ondas a Terra praticamente voltou à Idade da Pedra. Os grandes centros urbanos foram abandonados, e as pessoas começam a viver em campos improvisados onde cuidam umas das outras.
As coisas seguem relativamente bem até o exército chegar explicando que a infiltração em andamento pode ser fatal, e que as crianças serão levadas a bases militares seguras e os adultos, após ouvirem uma pequena palestra, seguirão em seguida.
Enquanto o pai de Cassie (Ron Livingston) e os demais adultos seguem o coronel Vosch (Liev Schreiber) para a palestra, Cassie é alertada pelo irmão mais novo que esqueceu seu urso de pelúcia.
Quando Cassie, tentando encontrar o brinquedo de Sam, acaba ficando pra trás e acidentalmente descobre que os planos dos milicos não eram bem o que pareciam, ela acaba fugindo sozinha pela mata até ser atacada por um atirador e perder os sentidos, acordando na fazenda do estranho Evan (Alex Roe).
Ao mesmo tempo, Ben Parrish (Nick Robinson), jovem por quem Cassie era apaixonada na escola e último sobrevivente de sua família é recrutado pelo exército e levado à uma base militar secreta onde, sob o comando da sargento Reznik (Maria Bello) será treinado para fazer parte do Pelotão 53, uma força-tarefa de crianças soldados que lutarão contra os Outros.
Entre os colegas de Ben, agora chamado Zumbi, está Sammy (Zackary Arthur), irmão de Cassie.
Enquanto Ben, Sammy e seus companheiros treinam para levar a luta aos Outros infiltrados na população, Cassie tenta se recuperar para resgatar seu irmão ao mesmo tempo em que tenta descobrir quais são as verdadeiras intenções de Evan.
É muito ruim.
A despeito de ter um bom elenco e apresentar uma produção ajeitadinha nada em A 5º Onda sustenta aquela sequência inicial na loja de conveniência.
O livro no qual o longa se baseia é bastante elogiado pela crítica, e se for tão bom quanto dizem, o filme presta um desserviço à fonte.
O longa de J Blakeson é mal editado, estruturado de maneira pobre, e tem um roteiro confuso, raso, por vezes constrangedor, cometido por Susannah Grant, Jeff Pinkner e o veterano Akiva Goldsman.
Chega a ser triste ver um longa com uma sequência de abertura tão esperta quanto a de A 5º Onda se perder tanto no seu decorrer.
Ao invés de manter o foco nas questões fundamentais das histórias pós-apocalíptica, a luta por sobrevivência e por qualquer gota de normalidade (lembram de Viggo Mortensen com a lata de Coca-Cola em A Estrada?), ou o fundamento dos futuros distópicos, com tirania e Estados policialescos, A 5º Onda prefere apostar em olhares perdidos, sugestões de romance, e a adolescente de cabelo bem escovado no meio do mato observando um jovem com barriga-tanquinho se banhando no lago.
Em meio à diálogos confusos que não acabam nunca, separações e reuniões com as quais ninguém se importa, e um final tão clichê que pode ser antevisto com horas de antecedência, a única grande preocupação que A 5° Onda produz é a de que o filme ambiciona ser a primeira parte de uma pretensa trilogia.
Essa, sim, é uma invasão que mete medo.

"É assim que se elimina uma espécie. Primeiro, você se dos mais fáceis: Os fracos, os expostos. Mate-os o mais eficientemente possível. Foram as três primeiras Ondas. Mas mesmo quando você dedetiza uma casa, sempre sobram algumas baratas. Agora, nós somos como essas baratas. E os Outros estão nos matando... Um por um. E como os Outros se parecem conosco, não podemos confiar em ninguém."

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