Pesquisar este blog

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Resenha Cinema: Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos


Vou confessar que os primeiros segundos de Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos me deixou com dúvidas...
Tá...
Me deixou com uma dúvida:
Eu não sei se o filme é um flashback.
Ele abre com a luta entre um guerreiro humano e um Orc, enquanto uma narração em off conta sobre uma guerra que aparentemente acontece a muito tempo.
Pronto.
É minha única dúvida a respeito do filme. E, eu concordo, é absolutamente insignificante no esquema maior das coisas. Eu comecei o review falando disso, justamente pra desmistificar a aura de hermetismo que cerca o longa que chegou ontem aos cinemas.
Não há crítica ou resenha de Warcraft (das poucas que eu li, verdade) que não tenha falado que era um filme difícil para "não-iniciados".
Eu nunca joguei nenhum dos games de Warcraft.
Sendo bem franco, não sei nem dizer se é um RPG estilo combate em turnos ou um game de estratégia.
Não faço nem ideia.
E,sim.
Consegui entender o filme.
E, não.
Não boiei em nenhum momento.
O longa do diretor Duncan Jones (Lunar, Contra o Tempo) parte dessa breve cena de luta para uma cena muito mais intimista, curiosamente protagonizada por um casal de monstros.
Os orcs Durotan (Toby Kebbell) e Draca (Anna Galvin) confabulam de maneira cúmplice e doce sobre os seus próximos passos. Durotan é o chefe de um clã de orcs guerreiros, os Lobos do Gelo.
O grupo de Durotan se juntará aos demais clãs do moribundo mundo de Draenor, e à escrava meia orc Garuna (Paula ohmeuDeus Patton) e partirá em uma jornada sob a liderança do mago Gul'Dan (Daniel Wu).
Gul'Dan, um mestre no uso da magia negra (na verdade é uma magia verde...) conhecida como Vileza, uma forma de mágica que usa vida como combustível, está abrindo um portal entre Draenor e um novo mundo. Um mundo ao qual os orcs poderão colonizar e dominar:
Azeroth.
Azeroth é um mundo formado por sete reinos, mas, ao contrário de Westeros, é um lugar pacífico onde humanos, elfos e anões vivem em harmonia. Não tarda para que a paz seja chacoalhada pelas investidas dos orcs, criaturas enormes, de grande brutalidade e força física superior, e o conflito chame a atenção de Anduin Lothar (Travis Fimmel, de Vikings), comandante dos exércitos do rei Llane Wrinn (Dominic Cooper).
Com a ajuda do jovem mago Khadgar (Ben Schnetzer), Lothar descobre a presença da Vileza nos resquícios do combate, e o mago Guardião do reino, Medivh (Ben Foster) é convocado para ajudar na defesa de Azeroth.
Simultaneamente, do lado oposto, Durotan começa a ter dúvidas quanto ao mérito dos métodos de Gul'Dan. E enquanto o chefe dos Lobos do Gelo avalia suas opções, os guerreiros sob o comando do feroz Mão Negra (Clancy Brown) matam, pilham, destroem e capturam prisioneiros para alimentar a magia de Gul'Dan e abrir de vez o portal entre Dreanor e Azeroth para transformar a invasão em uma ocupação, lançando o mundo todo nas chamas da guerra.
É bastante informação, não é?
E é quase toda ela jogada na audiência nos primeiros minutos de filme.
Ainda assim, estamos acostumados a andar por lugares como Lothlórien, Derivamarca e Azkaban... Conhecemos gente como Aragorn, filho de Arathorn, Alvus Dumbledore e Daenerys Targarien... Sabemos diferenciar um Lobo Gigante de um Warg, e só de olhar sabemos quem é Drogon e quem é Smaug o Magnífico... À essa altura, de quanta explicação prévia nós precisamos para acompanhar e curtir um novo mundo de fantasia, por mais complexo e longevo que seja?
Então, pra deixar bem claro:
Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos não é um filme apenas para iniciados e fãs dos games.
É muito bacana.
Mas o que me dá mais gosto de dizer é que, em meio a tantos efeitos visuais que variam do excepcional ao excessivo, o diretor/roteirista Duncan Jones e seu co-roteirista Charles Leavitt preferiram focar a história nos personagens e não na ambientação ou na pirotecnia.
Desde aquela corajosa sequência inicial, onde Durotan e Draca conversam em sua tenda como um verdadeiro casal, ou os interlúdios de Durotan e seu amigo Orgrim (o ator viciado em WoW, Rob Kazinsky) fica claro que Jones queria contar uma história onde houvessem heróis e vilões dos dois lados do conflito, e onde cada um dos personagens (ou a maioria deles, pelo menos) tivesse mais de uma dimensão.
Por estranho que pareça, isso é mais evidente nos orcs... Os humanos, de modo geral, são apenas heroicos e ponto (Medivh é uma honrosa exceção).
Nada de errado com isso.
É alta fantasia, afinal de contas, e se hoje em dia somos capazes de encontrar espaço em nossos corações para personagens meio escrotos como Jaime Lannister e Stannis Baratheon, não é menos verdade que heróis puros como Gimli, Legolas e Gandalf funcionam muito bem, obrigado.
E por isso Anduin Lothar, rei Lalane e Khadgar são maneiros o suficiente para que nos preocupemos com eles quando estão em apuros.
A despeito de, inicialmente o longa parecer ser arrastado pela imensa quantidade de informações e personagens a apresentar e com quem desenvolver conexões mais significativas do que "uh, roupa legal", ou "olha que foda as botas dele!", Warcraft decola ainda no primeiro ato, quando há o... Bom.. Primeiro Encontro de Dois Mundos, numa divertida sequência de batalha partilhada por quase todos os protagonistas.
Obviamente que Warcraft não vai escapar das comparações com O Senhor dos Anéis, o ápice do estilo, e é óbvio que vai perder na comparação.
Talvez exatamente por isso (e para honrar sua fonte), o longa aposte em uma estética completamente distinta, colorida e polida, com uma magia brilhante, luminosa e pirotécnica em oposição ao opaco gasto e da magia discreta e elegante da trilogia de Peter Jackson... A aposta é acertada, e qualquer audiência com dois neurônios funcionais e a capacidade de prestar atenção à história poderá aproveitar o filme.
Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos não oferece nenhuma novidade, mas oferece de maneira inventiva e divertida uma abordagem diferente para um blockbuster dessa estirpe. Ao mostrar coração e coragem para com seus personagens e não se deixar levar unicamente pela grandiloquência da ambientação, Duncan Jones fez muito mais do que apenas o melhor filme baseado em um videogame já produzido, ele fez um ótimo filme. Divertido, esperto, e excitante.
Assista no cinema. Vale a pena.

"-Salvar o mundo não é trabalho para um único homem."

Nenhum comentário:

Postar um comentário