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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Resenha DVD: A Colina Escarlate


Um dos filmes que eu lamentei não ter assistido nos cinemas no ano passado certamente foi A Colina Escarlate.
Pode parecer estranho, tendo em vista que eu não sou um grande fã de filmes de horror, mas, que diabos, sou um grande fã de Guillermo del Toro.
O cineasta mexicano por trás dos dois Hellboy e Círculo de Fogo é um desses diretores de identidade visual ímpar de quê eu tanto gosto, capaz de se arriscar entre gêneros sem perder a mão.
Seus dois Hellboy são fantasias sensacionais. Seu Blade II é uma mistura extremamente competente de filme de super-herói e terror, e eu ainda me pergunto como teria sido a trilogia O Hobbit com ele na cadeira de diretor...
No final de semana, aluguei A Colina Escarlate, e fui lembrado de que del Toro é um cineasta talentoso e de visão singular, capaz de trafegar entre gêneros, mas que o horror... Ah... O horror é seu ambiente natural.
A Colina Escarlate é narrado pela jovem Edith (Mia Wasikowska), uma aspirante a escritora apaixonada por histórias de fantasmas.
Ainda que em suas histórias os fantasmas sejam alegorias literárias representando o passado, Edith já testemunhou fenômenos paranormais, quando, aos dez anos de idade, foi visitada pelo espírito de sua mãe morta, que a avisou que tomasse cuidado com a colina escarlate.
Edith cresceu sem jamais entender o alerta do mundo dos mortos, e seguiu sua vida na sociedade de Buffalo, no estado de Nova York, no início do Século XX.
Ainda que Edith aspire a ser mais do que uma dona de casa, ela é incapaz de se esquivar dos encantos do baronete Thomas Sharpe (Tom Hiddleston), um jovem aristocrata inglês que chega a Nova York tentando obter financiamento para construir máquinas que permitam-lhe reabrir as minas de propriedade de sua família.
Mesmo à revelia da vontade de seu pai, o austero empresário Carter Cushing (Jim Beaver), e para tristeza de seu amigo de infância Alan (Charlie Hunnan), Edith eventualmente cede às investidas de Thomas, e os dois terminam se casando, e partem rumo à Inglaterra.
Lá, Edith viverá com Thomas e sua irmã Lucille (Jessica Chastain) na propriedade Sharpe, Allerdale Hall, uma gigantesca e dilapidada mansão gótica erigida sobre uma colina de argila vermelha que ao longo dos séculos a vem engolindo.
Lá, Edith se vê novamente ás voltas com o sobrenatural, conforme volta a ser visitada por sinistras aparições nos cômodos sombrios da mansão, onde a jovem americana percebe que talvez as assombrações que a fomentam não sejam os piores monstros à solta na Colina Escarlate.
Excelente.
Guillermo del Toro já deixara bem clara a extensão de seu talento para narrar contos sombrios equilibrados entre o aterrador e o fantástico em O Labirinto do Fauno, e volta à carga em A Colina Escarlate.
Há monstros no longa, fantasmas aterradores que se arrastam pelo chão, ou espreitam detrás de portas. Criaturas medonhas, negras ou escarlates apontando dedos longos e esfregando unhas compridas nas paredes, mas o grande monstro de A Colina Escarlate são as emoções tenebrosamente humanas que assombram a história.
Essas emoções, muito bem ilustradas por um elenco afinadinho, são apresentadas no primeiro terço do filme, passado em Nova York, com uma fotografia calorosa e dourada, e, nos dois atos subsequentes, são exploradas em Allerdale Hall, um milagre de design de Thomas E. Sanders, que transforma a mansão gótica em um personagem tenebrosamente vivo.
Sob os olhos sempre atentos de Lucille e seu molho de chaves, Edith tenta se aclimatar à nova realidades, explorando a mansão contra os avisos dos irmãos Sharpe de que há cômodos que não devem ser visitados, isso leva à sequências sensacionais, tensas, filmadas de maneira clássica com a jovem de camisola branca andando por corredores escuros com um candelabro na mão, ou a mulher de negro carregando uma bandeja de chá em meio à neve que cai dentro do salão de entrada de Allerdale Hall por causa de um buraco no teto.
O diretor mexicano consegue criar tensão e desconforto mesmerizantes até mesmo em algo simples como um brinquedo construído por Thomas, um boneco que engole e vomita esferas de metal, ou nas transições de câmera entre as cenas.
Se o último ato pode ser um pouco expositivo em excesso, isso não chega a ser ofensivo, tendo em vista que a revelação dos segredos era o mote do filme após a chegada de Edith à propriedade Sharpe. Realismo não é, em de longe, a regra dos filmes de del Toro, graças aos céus, e nada no filme acena com essa bandeira em nenhum momento.
A Colina Escarlate não é um produto do terror moderno de "filmagens amadoras", ou mesmo um filme de horror do tipo "aquilo que não vemos é mais assustador do que aquilo que vemos". Nos longas do cineasta mexicano, ver, é muito importante. É a visão do diretor que catalisa sensações e oferece tom à estória.
E uma visão como a de Guillermo del Toro não é algo que deva ser desperdiçado.
Não cometa o mesmo erro que eu. Assista ao filme sem demora.
Vale demais a pena.

"Fantasmas são reais. Disso eu sei. Os tenho visto por toda a minha vida..."

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