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quinta-feira, 29 de junho de 2017

Resenha Série: House of Cards - Temporada 5


Ano passado eu disse, após terminar de assistir à quarta temporada de House of Cards que seria um longo ano de unhas roídas esperando pela quinta temporada, mas a verdade é que não chegou a tanto. O calendário de seriados e filmes foi generoso o suficiente para que Frank, Claire e companhia não tenham causado pânico enquanto se preparavam para o seu retorno no final do mês passado.
Nesse ano, por sinal, não devorei House of Cards tão rapidamente quanto fizera ano passado. Comportadamente não assisti a mais do que um episódio por dia, e ainda intercalei o seriado com Better Call Saul e Last Week Tonight com John Oliver, de modo que a temporada me durou quase um mês, no qual pude me re-aclimatar aos meandros da política na série, que já foi cabeluda demais pra soar verdadeira e agora, tanto nos EUA quanto no Brasil, deixa os escritores na obrigação de fazer malabarismo pra surpreender como outrora (ainda assim comparar Frank a Trump e Temer é bastante ofensivo ao presidente Underwood).
A quinta temporada retomou de onde a quarta terminara.
Francis e Claire Underwood (Kevin Spacey e Robin Wright) estão em pé de guerra contra o ICO, o dublê do Estado Islâmico na série. Ou ao menos tentam... O congresso não parece particularmente disposto a outorgar a declaração de guerra que Frank pleiteia junto à Casa já que ele está no meio de uma eleição que, francamente, pode tanto ganhar quanto perder para o candidato republicano, Will Conway (Joel Kinnaman), a epítome pública do bom-mocismo.
A ideia do casal é tornar a Casa Branca a casa dos Underwood, com Francis vencendo a eleição, quiçá a reeleição, e Claire o sucedendo, de modo a fazer os dois permanecerem no comando do país mais poderoso do mundo por vinte anos, pelo menos. A questão é que a escalada de Francis até a presidência não foi um caminho suave, e ele fez todo o tipo de inimigos pelo caminho, cometeu todos os pecados possíveis, e agora ele deixou de ser pedra para se tornar vidraça.
Todos os antagonistas estão à espreita, aguardando o momento de tentar destruir Frank por alguma coisa que ele fez, ou deixou de fazer, nos anos anteriores. O editor do Herald, Tom Hammerschmidt (Boris McGiver) se tornou quase obsessivo com Frank, e não cansa de cavar atrás de provas que possam ligar o presidente à morte de Zoe Barnes ou de Rachel Posner, seja diretamente, seja através de Doug Stamper (Michael Kelly).
Acossados por todos os lados, não tarda para que Frank e Claire comecem a desconfiar de todos e cada um ao seu redor, incluindo um do outro. O casal que já fora desgraçadamente unido não tem uma cisão tão definitiva nessa temporada como tivera no ano anterior, mas as coisas certamente não voltaram aos eixos após Claire tentar voar por conta própria anteriormente, e, como já ficou claro, a única coisa capaz de ferir um Underwood, é outro Underwood.
Ou ao menos era o que se acreditava.
Eu já havia percebido que, historicamente, todos os antagonistas em House of Cards parecem formigas que surgem para serem esmagados pelos Underwood. Mesmo os Conway, que apareceram inicialmente como ameaças em potencial ao casal protagonista (Will e Hannah pareciam versões mais jovens, bonitas e antenadas de Claire e Francis) logo deixaram claro que não tinham bala na agulha para competir, o mesmo valendo para o general Brockhart de Colm Feore, ninguém parece capaz de competir com o maquiavelismo ilimitado de Frank e Claire, ao menos até o surgimento do conselheiro político de Conway, Mark Usher (Campbell Scott) e a oficial do Departamento de Comércio Jane Davis (Patricia Clarkson).
Se Usher já havia dado as caras nos episódios iniciais da temporada, deixando bem claro que a verdadeira ameaça a Frank e Claire era ele próprio, e não Will, Jane Davis aparece apenas na metade da temporada, durante uma crise que força o alto escalão do governo a se abrigar em um bunker sob a Casa Branca, e não tarda a percebermos que a personagem é uma víbora manipuladora, uma hábil titereira que não tem o menor pudor em mexer as cordinhas como melhor lhe aprouver.
São esses dois personagens que finalmente dão uma balançada na estrutura de House of Cards e, eu posso estar me precipitando e na próxima temporada os dois podem ser rápida e inapelavelmente comidos por Frank e Claire, mas isso seria realmente desapontador, haja vista que os dois parecem ser adversários à altura para os nossos heróis (?), oferecendo um bem vindo elemento de desconhecido à trama, já que as intenções de ambos jamais ficam totalmente claras para a audiência, e ajudam a manter Frank e Claire na defensiva, algo que nunca é muito saudável já que, o presidente em especial, tem uma veia toda particular para destruir o tabuleiro quando sente que está prestes a perder o jogo e, como fica claro no final de temporada, por mais que Usher, Davis, e mesmo Claire sejam competidores fortes, Frank ainda parece ser a pessoa mais disposta a jogar o tempo todo, mesmo quando faz escolhas erradas.
É bacana perceber que House of Cards segue fazendo um bom trabalho, ainda que não tenha descoberto uma forma de se equilibrar totalmente. As temporadas eventualmente falham na hora de equilibrar algo. No ano 3, por exemplo, o foco nas tramas paralelas desequilibrou a série ao tirar os holofotes do casal protagonista, na quarta temporada, pareceu o oposto, com Frank e Claire tão envolvidos em sua guerra pessoal que o restante da série parecia não andar, a quinta temporada balanceou bem o tempo dado aos protagonistas e aos coadjuvantes, fechando arcos e trazendo reverberações de fatos de toda a temporada para dentro do armário dos Underwood. Se alguma coisa ainda permanece por ser azeitada é a forma como House of Cards vai da política à tragédia grega em um átimo, algo que não chega a ser um problema, haja vista que a série sempre teve como sua principal característica não ser um programa sobre política, mas sim sobre a busca por poder de duas pessoas embalada por atuações acima da média de um elenco muito bom encabeçado por um casal de atores de primeiríssima grandeza.
Vai ser interessante ver, na temporada seis, como as coisas andarão com o cenário como ficou no episódio final.
Aliás, aqui vai um pequeno spoiler para aqueles que não se importam com isso, ou que, porventura estejam curiosos:
Sim.
Nessa temporada Claire Underwood se dirige à audiência da mesma forma que Frank faz desde o início, e é bem bacana.
Vamos lá pra mais um ano de expectativa até o ano que vem e a estréia da sexta temporada...

"-Bem-vindos à época da morte da razão..."

Um comentário:

  1. Falar da Robin Wright significa falar de uma grande atuação garantida, ele se compromete com os seus personagens e sempre deixa uma grande sensação ao espectador. O mesmo aconteceu com esta produção Blade Runner 2 que estreará em TV para mim é um dos grandes filmes de Hollywood e o melhor filme de ficção cientifica! Se vocês são amantes do género, este é um que não devem deixar de ver.

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