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segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Resenha DVD: Power Rangers


Quando eu passo pela locadora e apanho um filme como Power Rangers, eu me sento para assistir à película me esforçando o melhor que posso para fazê-lo tendo consciência de que eu não sou o público alvo que os produtores, roteiristas e diretor tinham em mente quando bolaram o longa em questão.
Foi o que fiz ontem, quando, no meio da tarde, resolvi matar duas horas assistindo um filme que gritava censura dez anos já pelo simples fato de ser um remake de um super sentai japonês transformado em série infantil norte-americana que ocupava as manhãs da Globo antes de a vênus platinada resolver que crianças não valiam quatro horas de programação e que era mais rentável transformar a Fátima Bernardes em palhaça.
Eu nunca fui fã de Power Rangers. Os únicos Super Sentai que acompanhei na vida foi o saudoso Changeman (eu era o change grifo nas brincadeiras. Não porque gostasse de me vestir de preto, mas porque grifos eram minha besta mitológica favorita aos sete anos) e o CyberCop, os policiais do futuro, eventualmente o Google Five (nada a ver com o mecanismo de busca, nem existia internet à época), e o Flashman, mas esses bem menos do que os dois primeiros, que assistia com avidez de fã.
Power Rangers, por sua vez, chegou ao Brasil em uma época em que eu estava no começo da adolescência, e de repente futebol e gurias eram mais atraentes para mim do que séries de TV, filmes e mesmo quadrinhos, de modo que os protetores de Alameda dos Anjos não significavam nada pra mim nem quando ganharam um longa metragem mais parrudo do que os episódios diários na TV Colosso em meados de 95, e não me levaram ao cinema quando chegaram aqui em março desse ano em sua nova roupagem.
Power Rangers abre com uma batalha tomando curso na era cenozoica. Em meio a dinossauros e pteranodontes, o ranger vermelho Zordon (Bryan Cranston) faz um último e desesperado esforço para derrotar a renegada Ranger verde, Rita (Elizabeth Banks), lançando um asteróide contra a Terra. Antes do impacto, porém, ele guarda os amuletos que geram a transformação dos Rangers, ordenando que eles encontrem os mais valorosos quando a hora chegar.
Corta para o presente.
O jovem Jason Scott (Dacre Montgomery) quarterback do time de futebol da escola que é um delinquente juvenil nas horas de folga, fazendo coisas como amarrar um boi ao vestiário do time de futebol, os Bulls, sendo descoberto pela polícia, se acidentando, e no processo perdendo sua vaga no time, e as potenciais bolsas de estudo universitário que elas ofereceriam, além de se machucar e ser condenado à prisão domiciliar e detenção escolar no processo.
É na detenção que Jason conhece Billy Cranston (RJ Cyler), um jovem com uma forma leve de autismo que sofre bullying de um colega mala e vê em Jason um novo amigo em potencial. Ainda na detenção está a popular Kimberly Hart (Naomi Scott), (uma líder de torcida ou membro da equipe de saltos, francamente, eu não lembro) que está lá por ter divulgado fotos íntimas de uma colega.
Quando Bily promete hackear a tornozeleira eletrônica de Jason em troca de companhia na exploração da pedreira adjacente à mina de ouro local, Jason aceita, e acaba esbarrando com Kimberly, que gosta de nadar num rio próximo à noite.
Ainda no local, estão o garoto-problema Zack Taylor (Ludi Lin), que gosta de matar aula e acampar em trens abandonados e a garota problemática Trini (Becky G), que apenas curte o isolamento.
Quando Billy causa uma explosão num paredão rochoso, revelando cinco moedas ancestrais enterradas por Zordon há 65 milhões de anos, os cinco adolescentes logo percebem que há algo errado quando, após um desastroso acidente de carro, acordam no dia seguinte sem nenhum ferimento, com força sobre-humana, e agilidades ímpar.
Decididos a descobrir a causa da mutação, eles retornam à mina e descobrem uma nave estelar enterrada há milhões de anos. Lá eles conhecem o robô Alpha 5 (dublado por Bill Hader) e Zordon, cuja consciência foi assimilada pelo sistema da espaço-nave mantendo-o parcialmente vivo, mas confinado à máquina.
O antigo Ranger vermelho explica aos jovens que eles foram escolhidos para se tornarem os novos Power Rangers, e enfrentar a ameaça de Rita Repulsa, que
planeja utilizar uma antiga abominação chamada Goldar para alcançar um cristal de poder que gera a vida na Terra. Goldar se alimentará dos cristal, e Rita herdará o universo para reinar como desejar.
A única coisa capaz de impedir a vilã de conquistar tudo é que os Ranger aprendam a dominar os poderes que os amuletos lhes trouxeram e detenham Rita.
Mas estarão esses cinco jovens problemáticos à altura do desafio?
Serão eles capazes de proteger a Terra quando eles não conseguem nem mesmo resolver os próprios dramas adolescentes?
Seria muito fácil eu simplesmente começar a pichar Power Rangers sem dó nem piedade dizendo o tamanho da bomba que o filme é, mas a verdade é que Power Rangers não é um filme ruim.
Ao menos, não de todo.
Talvez o maior problema do longa seja a irregularidade, o que não chega a ser surpreendente haja vista que o roteiro do longa conta com cinco créditos (John Gatins, Matt Sazama, Burk Sharpless, Michelle e Kieran Mulroney) fora o dos dois criadores do conceito (Haim Saban e Shuki Levy). O resultado final é que Power Rangers soa como dois ou três filmes costurados em um único longa, e o que deveria ser o produto principal, o longa de super-herói, é o menos interessante.
O segmento com os renegados se encontrando, com a maior cara de Clube dos Cinco, é provavelmente o mais bacana. Os atores são carismáticos, em especial RJ Cyler, que consegue ser o elemento que mantém o grupo unido e o alívio cômico sem perder a dignidade, mas o personagem de Ludi Lin, que tem uma mãe doente com quem conversa em mandarim também tem seu potencial, enquanto a Trini de Becky G se destaca por, à certa altura do longa, revelar que é lésbica, o que seria motivo para parabenizar Power Rangers por ter a primeira heroína assumidamente homossexual do cinema, se a revelação não viesse em um átimo no meio de uma conversa repleta de revelações.
Quando esses párias sociais começam a explorar seus poderes, Power Rangers flerta com o ótimo Poder Sem Limites, e é pena que seja tão breve porque a história precisa avançar para os bonecos de massa, e os Zords e as armaduras, e o fan-service e o merchandising... Porque quando tudo isso acontece, Power Rangers se dilui e chega perto de ser aquela bomba que eu poderia pichar sem dó nem piedade.
Chega perto, mas não se torna.
Talvez porque o longa de Dan Israelite tenha duas qualidades que normalmente me fazem simpatizar com um filme:
Primeiro, ele não se leva demasiado a sério. Durante suas duas horas e pouco de duração o longa está sempre ciente do seu absurdo, do ridículo inerente ao esquadrão super sentai tentando pegar carona na onda dos filmes de super-heróis em geral, de super-grupos em particular. E com isso ele mantém algum frescor, uma ponta de dignidade irônica para manter a cabeça fora d'água. Segundo, o filme é honesto.
Power Rangers de fato acredita na mensagem que alardeia, de que a união faz a força. E quando o longa acredita tão vigorosamente na ideia em seu cerne, fica difícil fazer troça dele. Porque a despeito de todos os seus exageros, ele jamais se torna um exercício vazio de estilo.
Não quero dizer com isso que Power Rangers é um bom filme. Ele não é.
Ao menos, não pra mim. Ou pra maioria das pessoas com faixa etária superior aos doze anos.
Mas ele é franco. É honesto. Tem caminhadas em câmera lenta de heróis em armaduras coloridas, robôs dinossauro que se acoplam para formar um enorme guerreiro mecânico, um Walter White holográfico na parede de uma espaçonave que manda uma molecada matar a Rita sem o menor pudor, e uma sequência de ação final cheia de exageros ao redor de uma loja de rosquinhas do que, eu suponho, seja uma grande rede de lojas de rosquinhas americana, a Krispi Kreme... Mas jamais é pedante, jamais é sorumbático ou falsamente cool.
Não é pra todas as audiências, mas se tu tem doze anos ou menos, ou filhos com essa idade, talvez Power Rangers possa ser um bom programa em família.
Mal, eu tenho certeza que não vai fazer.

"-É hora de morfar."

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