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sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Resenha Game: Marvel's Spider-Man


É interessante como o tempo nos traz perspectiva.
Em mais de uma ocasião a pressa em publicar um review criaria uma crítica abaixo da grandeza do produto revisado.
Minhas resenhas de The Last of Us e Horizon: Zero Dawn, publicadas antes de ter terminado o jogo são testemunho disso. São dois jogos infinitamente melhores do que os meus reviews fizeram parecer, e eu me peguei pensando nisso ao reler as postagens após ter terminado os games. De modo que, nos últimos jogos dignos de resenha que joguei, resolvi, se não terminar, ao menos dar mais tempo de jogo antes de escrever a respeito.
Marvel's Spider-Man se enquadra nessa categoria.
Se eu tivesse escrito essa resenha no dia 8 de setembro, apenas um dia após ter comprado Marvel's Spider-Man, é bem possível que ela tivesse sido neutra, ou até negativa. Isso porque, no começo de minha aventura aracnídea com o Homem-Aranha exclusivo do PS4, eu me encontrei bastante frustrado, e essa frustração só foi passar após dedicar algum tempo ao jogo, dominar suas mecânicas e abrir minha mente para a sua história pela qual, devo admitir, nutria alguma antipatia antes de me engajar.
Nessa história, Peter já é o Homem-Aranha há oito anos. Ele está com 23, já deixou a faculdade para trás, o emprego no Clarim, também, e hoje ele é assistente de pesquisa nas Indústrias Octavius, que não é nenhum conglomerado científico, mas apenas um grande laboratório onde Peter e seu chefe, doutor Otto Ocatvius, trabalham.
Ele segue dividindo seu tempo entre o trabalho e suas atividades do dia-a-dia, como ajudar a tia May em seu trabalho voluntário na Fundação F.E.S.T.A., iniciativa filantrópica de Martin Li, e o trabalho como o vigilante mascarado que é metade de sua vida desde os quinze anos.
Logo de cara já saltamos fora do acanhado apartamento que Peter mantém em Manhattan para uma caçada humana. A polícia finalmente juntou evidências suficientes para prender Wilson Fisk, o Rei do Crime, e Peter está há quase uma década esperando por esse momento.
Juntando-se à força-tarefa encabeçada pela capitã Yuriko Watanabe, ele finalmente derruba o Rei, a questão é que, na esteira da derrocada do maior chefão criminoso de Nova York, o vácuo de poder deixado faz com que novos poderes emerjam das sobras, jogando a cidade em um turbilhão de crimes cometidos pela gangue dos Demônios, chefiada pelo misterioso Senhor Negativo.
Enquanto tenta descobrir mais sobre esse novo inimigo, Peter ainda precisa lidar com a ameaça do corte de verbas da pesquisa na qual trabalha com Octavius, com sua relação conturbada com sua ex-namorada, a repórter do Clarim Diário Mary Jane Watson, e com seus problemas financeiros.
Eu sou o primeiro a admitir que as mudanças na mitologia de Marvel's Spider-Man me incomodaram uma barbaridade.
Peter trabalhando para Octavius, Mary Jane trabalhando no Clarim, J. Jonah Jameson sendo o apresentador de um programa de rádio ao melhor estilo Alex Jones, Norman Osborn, prefeito de Nova York, fora outras alterações chave que vemos no desenrolar da história... Tudo isso realmente dava um pouco nos nervos de um cabeça-de-teia velha guarda igual a mim.
O alarde que a Insomniac Games, produtora do jogo deu a fatos como não ser uma história de origem e o sistema de balanço em teias ser baseado numa física real, com a necessidade de pontos de ancoragem e a possibilidade de acrobacias pessoais, também não ajudou. Eram coisas que eu já tinha visto antes. Ultimate Spider-Man era o melhor game do Homem-Aranha, pra mim, e não era uma história de origem. As adaptações gamísticas dos filmes O Espetacular Homem-Aranha já contavam com o balanço de teia respeitando leis da física e a necessidade de pontos de ancoragem, de modo que eu não estava vendo grandes vantagens no game da Insomniac exceto o tamanho do orçamento e a liberdade para criar uma história independente de filmes.
E ao começar a jogar, a dificuldade de lidar com um sistema de combate semelhante ao da série Batman Arkham, mas ao mesmo tempo com diferenças cruciais, fizeram com que eu estivesse a um passo de odiar Marvel's Spider-Man.
Mas, estranhamente, apenas até eu me dedicar a um dos pontos mais criticados do game até aqui.
Os colecionáveis.
Eu fico facilmente obcecado por colecionáveis quando estou jogando. E Marvel's Spider-Man não foi diferente. Enquanto me balançava por Nova York procurando antenas de comunicação da polícia e mochilas perdidas de Peter dos tempos de colegial ,repletas de memórias de sua aurora como Homem-Aranha, comecei a me afeiçoar ao game e à sua proposta.
O Homem-Aranha do PS4 é, grosso modo, a mais interativa adaptação cinematográfica que o Homem-Aranha já teve.
O game muda elementos da mitologia de lugar para se encaixar na história que deseja contar da mesma forma que Sam Raimi, Mark Webb e John Watts fizeram, e o produto decorrente disso é, devo admitir, mais fiel do que qualquer um dos outros mencionados.
A história do game é muito boa, repleta de grandes momentos e o protagonista criado pela equipe da Insomniac é simplesmente perfeito tanto com a máscara quanto sem ela.
E esse, talvez, seja o maior diferencial de Marvel's Spider-Man. Entender que, para contar uma história do Homem-Aranha, Peter Parker é tão fundamental quanto o Homem-Aranha.
Quando somos cativados por esse Peter Parker meio John Krazinski, meio Andrew Garfield, começamos a subir de nível e entender como funciona o combate do game, a coisa toda se torna menos frustrante.
Não há sistema de contra-ataque como na série Arkham, mas de esquiva. Enquanto o Batman pode ficar parado e vencer um exército de agressores apenas com o toque de um botão, o Homem-Aranha precisa desviar de golpes e então atacar. Estar em constante movimento é a chave para o sucesso em qualquer luta. O que segue relativamente frustrante a qualquer momento do game é que Peter é forte o bastante para erguer um carro, mas precisa aplicar torrentes de golpes para derrubar qualquer bandido de rua, e pode ser nocauteado por golpes de pé de cabra apesar de conseguir trocar murros com o Rino, de toda a sorte, uma fez que aprendemos a nos manter em movimento e balancear socos e chutes com ataques de teia e outras engenhocas que Peter vai construindo conforme o jogo avança, as lutas se tornam mais recompensadoras e divertidas.
O sistema de balanço em teia é realmente viciante, após uma breve curva de aprendizado, a coisa toda se torna intuitiva o suficiente para que o jogador se torne capaz de emular as mais belas sequências de voo aracnídeo dos filmes, intercalando o balanço, a corrida pelas paredes, o web zipping e a escalada tradicional com efeitos belíssimos em animações que mostram o herói deslizando por dentro de canos suspensos por guindastes e pelo meio os gradis de caixas d'água entre uma teia e a próxima.
Sim, há missões algo repetitivas, os crimes aleatórios, especialmente no terceiro ato do game, se tornam quase uma dor de cabeça. As bases inimigas são mais interessantes, por oferecer a chance de equilibrar stealth e combate puro, e é quase viciante tentar descobrir por quanto tempo conseguimos acabar com a bandidagem das sombras antes de sermos descobertos e cair na porradaria franca. Entre as missões secundárias, algumas são muito boas, como os desafios do Treinador (que realmente são desafiadores e pros quais eu fiquei inevitavelmente retornando para conseguir a graduação máxima), enquanto outras, como as estações de pesquisa de Harry Osborn, são algo aborrecidas e demandam que o jogador salte por dentro de nuvens de fumaça, conserte o Wi-Fi de Manhattan, cace pombos ou dê um antídoto para os peixes envenenados do rio Hudson... Somos impelidos a cumprir todas essas tarefas, porém, tanto porque elas permitem que o jogo se alongue em mais de vinte horas, quanto porque elas oferecem como recompensa emblemas que podem ser usados para aumentar as habilidades do Homem-Aranha em três árvores de desenvolvimento, criar novas engenhocas como teias de impacto, drones ou armadilhas de teia, e, claro, para se obter novos trajes.
Há 28 uniformes no game, cada um deles com uma habilidade especial que, ainda bem, não é restrita ao traje que estamos utilizando. E, eu preciso dizer que o traje avançado do jogo, com a aranha branca no peito, é simplesmente medonho.
Eu o utilizei apenas na animação em que ele aparece logo após ser confeccionado, e tenho me dividido entre o uniforme clássico e o traje de Homem-Aranha: De Volta ao Lar.
Há um modo de fotografia que é simplesmente viciante, a possibilidade de andar a pé no nível da rua interagindo com os pedestres e até um sistema de viagem rápida usando o metrô que vale a pena apenas porque é engraçado ver o Homem-Aranha entre os passageiros.
A atenção aos detalhes é de encher os olhos, da animação dos personagens centrais, como a Mary Jane com carinha de Elisabeth Moss, o doutor Octavius e a tia May, à forma como o vento incide no traje do Homem-Aranha quando ele está em queda livre, passando pela genial recriação digital de Nova York, certamente a melhor em um game desde GTA IV.
A dublagem em inglês é ótima, a brasileira, embora esteja tecnicamente boa, é composta por um elenco de vozes ruins, e a trilha sonora é excepcional.
Não fosse o excesso de repetição na hora de povoar esse mundo aberto de atividades, e a pouca inspiração na hora de criar os embates entre o herói e sua sensacional galeria de vilões, é possível que Marvel's Spider-Man fosse um game perfeito, como está, ele é o melhor game do Homem-Aranha, sem dúvida, mas ainda está levemente abaixo do pináculo das adaptações de super-heróis para games, que segue sendo a série Batman Arkham. Ainda assim, com suas mecânicas de movimentação sensacionais, combate sólido, uma história emocionalmente pujante de uma maneira inesperada e coadjuvantes e especialmente protagonista cheio de coração, Marvel's Spider-Man acerta muito mais do que erra, e entrega uma apaixonada declaração de amor ao mais popular herói da Marvel.
Marvel's Spider-Man não é perfeito, mas está no caminho certo.
Quem sabe na inevitável sequência?

"-Talvez não seja tão ruim quanto parece.
-Adorei o otimismo, mas pela minha experiência, quando parece ruim, geralmente é pior."

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