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segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Resenha Série: Better Call Saul, Temporada 4, Episódio 2: Breathe


Eu não me lembro se já disse isso aqui, ou se foi em alguma roda de amigos, mas a verdade nua e crua é que, pra mim, Better Call Saul funciona em uma frequência totalmente diferente de Breaking Bad.
E, por mais que eu goste dos elementos Breaking "Badianos" do programa, eu estou tão investido na história de Jimmy McGill, que eu poderia assistir indefinidamente à sua história sem grandes menções à série mãe e ficaria mais do que satisfeito, e a prova cabal disso é Breathe.
No segundo episódio da temporada nós temos claras referências a Breaking Bad, com a presença de Lydia Quayle (Laura Fraser) e sua relação com Mike, Gus Fring, que se movimenta ferozmente para ocupar o vácuo de poder deixado por don Hector, e os retornos de Marco e Leonel Salamanca (Luis e Daniel Moncada)...
O lado criminal da narrativa teve os maiores momentos de tensão e de ação do episódio, especialmente quando estivemos junto com Nacho Varga que vai caminhando para ser o Jesse Pinkman de Better Call Saul ao menos no que tange ao tamanho dos riscos que ele corre, e no fato de que, até o presente momento, seus planos tendem a dar errado. As paredes se fecham rapidamente ao redor do pobre capanga, que paulatinamente se torna a melhor razão para termos Gus Fring na série. Porque somos capazes de nos identificar com Nacho, interpretado de maneira extremamente acertada por Michael Mando, cobrindo de humanidade o que poderia ser só mais um capanga mexicano unidimensional na longa lista de capangas unidimensionais do "Breakingverso".
Falando em interpretações, Rhea Seehorn botou pra foder no episódio. A sequência com Kim e Howard falando a respeito do testamento de Chuck foi um show da loira. Desde sua chegada ao escritório nós somos capazes de ver em cada detalhe, do tom de voz à linguagem corporal da advogada, o tamanho da ira que ela está contendo, e quando ela explode, o faz em todas as direções demolindo seu ex-chefe tanto pelo tratamento que vem sendo dispensado a Jimmy, quanto pelo seu discurso a respeito do provável suicídio de Chuck no episódio anterior.
O mais bacana aqui é que Kim parece estar cem por cento certa de que Jimmy está enterrando um profundo abalo emocional pela morte do irmão, e luta para protegê-lo ao mesmo tempo em que quer que ele externe sua mágoa.
A questão é que eu, enquanto espectador, não tenho certeza de que Jimmy esteja tão ressentido.
Ainda assim, me parece notório que ele se importa com Kim, e é bom ver que ela também se importa com ele, ainda que, o futuro de Saul Goodman acene com a possibilidade de um desfecho desastroso para o casal.
Ainda assim, com tantos bons elementos, o grande momento de Breathe é sequência em que Jimmy é entrevistado por dois gerentes de uma loja de copiadoras para um emprego de representante comercial. Simplesmente sensacional.
Na breve interação entre McGill e seus chefes em potencial nós temos um vislumbre de quem, realmente, Jimmy McGill é. Ele fala, e fala e fala em um balé verbal onde transforma seus interlocutores em plateia usando todo o seu arsenal de charme e persuasão para conseguir o emprego.
A forma como Jimmy interage com os dois é testemunho vivo do personagem que conhecemos em Breaking Bad.
A sua retórica animada e a forma como ele se vende como a solução de todos os problemas dos dois empresários é o embrião de Saul Goodman com seus ternos coloridos e anéis duvidosos especialmente pela forma como acaba.
A procura por emprego de Jimmy é uma das facetas mais leves desse momento de Better Call Saul, e ainda assim, encerra um mistério que é até mais empolgante do que todas as tramas criminosas da outra linha narrativa da série:
O que Jimmy está planejando?
Breathe é o exemplo máximo de como uma cena bem escrita não precisa de sangue ou reviravoltas mortais para empolgar. Sem nenhum tiro, assassinato ou tirada do tipo "diga meu nome", a sequência de Jimmy na loja de copiadoras é tudo o que Better Call Saul precisa para se manter como uma das melhores séries em exibição na TV.

"-Sabe por que Deus criou cobras antes de advogados? Ele precisava treinar."

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