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sexta-feira, 25 de maio de 2012

Ainda era. Sempre seria.


O Igor vinha andando pela rua com a mochila pendurada nas costas por apenas uma das alças. Vestia uma camisa clara e calças pretas além de um tênis branco e na mão direita carregava uma garrafa de Fanta. óculos escuros, fones de ouvido, parecia um kit de "deixe-me alheio a tudo", mas há coisas às quais simplesmente não dá pra ficar alheio. Como a Juliane.
Igor e Juliane eram desses casais que haviam sido feitos pra estar juntos.
Verdade.
Se tu apanhasse um deles, individualmente, e procurasse em algum banco de dados do mundo quem era o seu par ideal, e o tal banco de dados fosse minimamente confiável, o resultado apontado seria o outro.
O interessante foi que, de imediato o Igor reconheceu na Juliane a sua cara metade, e a Juliane pareceu seguir pelo mesmo caminho, tanto que, a despeito de os dois terem uma qualidade inerente meio de bicho do mato, eles acabaram vencendo seus instintos naturais, e se aproximaram.
Hoje, olhando em perspectiva, Igor não acreditou na velocidade e na naturalidade com que aquilo havia acontecido... Seus pouquíssimos relacionamentos anteriores, pareciam ter sido paridos a fórceps, com muito esforço de parte à parte até se transformarem em alguma coisa, pois pra ele, era impossível simplesmente ir se entregando de corpo e alma e coração à uma pessoa nova, mas com Juliane... Com Juliane foi diferente. Do primeiro abraço que ele deu nela, na noite em que se conheceram, até o último, quando se despediram com promessa de se verem novamente na sexta depois de ir ao supermercado juntos, Igor sabia que ela era diferente.
No primeiro beijo, em frente à janela do quarto do sexto andar ao último, na calçada no Menino Deus, do primeiro carinho no queixo, na fila do cinema pra ver um filme de super-herói, ao último, naquela mesma calçada do Menino Deus, depois do último beijo, e na primeira vez em que fizeram amor, termo que ele achava tremendamente brega mas que, que diabos, se aplicava àquele caso... Ele sabia...
Ele sempre soube. Ela a mulher de sua vida.
O problema é que a vida prega peças nas pessoas, e aparentemente prega peças mais pesadas nas pessoas mais incautas. E Igor era incauto como só sabem ser incautos os homens que se veem de coração partido.
E entre o primeiro e o último beijo, entre o primeiro e o último abraço, entre o primeiro e o último carinho no rosto... Muita coisa havia acontecido. Muitas coisas haviam mudado mesmo em tão pouco tempo... E eles se separaram.
Se apartaram um do outro seguindo caminhos opostos e tocando a vida. Não se falaram mais. Não se viram mais, embora, pro Igor, fosse impossível não pensar em Juliane. Não querer saber dela, e tentar deixá-la feliz de alguma forma, por pequena que fosse. E foi à distância e em silêncio que viu sua presença diminuir na vida dela até minguar e ela estar pronta pra seguir em frente e preparada para encontrar um novo amor.
Foi dolorido. Ainda estava sendo e provavelmente seria sempre. Mas Igor, que tinha todos os defeitos do mundo, não era incoerente, e sabia que não tinha direito de ficar se lamuriando, nem magoado, nem nada do tipo. Não com ela. Não depois de tudo o que ela havia feito por eles.
E agora, ali estava ele, de mochila e tomando refrigerante, e ela vinha andando na direção contrária. Ele ficou sobressaltado, passou a mão nos cabelos desalinhados, alisou a camisa que usava e endireitou a mochila no ombro para poder cumprimentá-la direito, diminuiu o passo enquanto ela se aproximava, e, assim que ela estava perto o suficiente para enxergá-lo, ele sorriu meio sem jeito, e ergueu a mão em um aceno tímido.
E ela acenou de volta, também sorrindo. Não o sorriso amplo e iluminado que ele aprendera a amar. Um sorriso menor. Daqueles que se reserva ao colega da sexta série com quem encontramos na fila do banco e o síndico do prédio.
Ela sorriu esse sorriso comedido e perguntou "Tudo bem?", e seguiu andando. Seguiu na direção oposta. Seguiu em frente.
Igor continuou caminhando por instinto, agradeceu aos céus por aquele instinto. Ficou pensando quão ridículo seria se ele tivesse ficado parado enquanto ela passava. Virou a cabeça e ainda a viu, pequenina, sumir entre os transeuntes.
Sorriu enquanto balançava a cabeça negativamente e entendeu que, a despeito do que almejava e ansiava, não era o amor da vida dela.
Mais doloroso, porém, foi continuar com a certeza de que ela era o amor da sua.

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