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quinta-feira, 3 de maio de 2012

Rapidinhas do Capita


Ao amanhecer, após uma noite em claro como a muito tempo não passava apenas uma palavra lhe vinha à cabeça:
Alquebrado.
Se sentia assimo Leonel: Alquebrado. Por alguma razão parecia ser a única palavra capaz de fazer referência ao modo como se sentia, não física, mas moral e espiritualmente, "espiritualmente" fazendo referência a estado de espírito e não a fantasmas idiotas de nenhuma espécie.
Sentia-se alquebrado... Alquebrado... Alquebrado?
À sua maneira pensou se a palavra fazia justiça à situação. Foi até o dicionário procurar. Estava lá:
Alquebrado: Curvado. Enfraquecido, abatido, debilitado. Prostrado.
Sim...
Fazia sentido. Ele estava, de fato, alquebrado. Estava alquebrado e só não temia permanecer assim pra sempre porque sabia que "pra sempre" era muito tempo.
Não era capaz de lembrar da última vez em que se sentira assim. Logo ele, a quem todos sempre buscavam em momentos difíceis por saber que ele não se deixava abater por nada. Que era tido como uma pessoa de pés no chão e de inabalável tranquilidade... Estava ali... Sentado no sofá, de madrugada, com a TV desligada encarando um facho amarelho de luz de mercúrio que pintava a parede da sala vindo através da janela. Sem saber em que pensar... Sem vontade de pensar, na verdade.
Estático.
Sabia o que lhe diriam:
Toca o barco. Bola ao centro e segue o jogo. Keep walking Johnnie Walker. É... Claro...
É por isso que ele não pedia conselhos a ninguém. As pessoas têm o dom de diminuir o que os outros sentem achando que isso as fará sentir melhor.

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Não há violência maior do que um abraço que tem consciência de ser o último.
Não existe dor maior do que a de uma despedida derradeira e consciente de ser a derradeira.
Há peso em excesso. Uma pontada de maldade. De auto flagelação...
Que as despedidas sejam leves como aquela em que se diz "Até quinta, então", com a crença inabalável de que haverá um outro dia, um outro abraço. Um outro "boa noite", mais um "dorme bem" e um inevitável novo "baita dia amanhã"...
Dói menos... Menos peso, sabe? Funciona melhor.
Um "adeus" definitivo, e que conhece o fardo de ser definitivo é sisudo demais pra ter espaço pra sorrisos. O "adeus" definitivo fecha todas as portas. As chaveia e as empareda por dentro com tijolo e argamassa.
A despedida vaga, aquela que se tinha como intervalo, e não final, essa ainda é capaz de deixar um sorriso aqui e ali. Mesmo que entre lágrimas.
A despedida casual permite que se deite na cama, se olhe pro teto, e se sussurre baixinho, com o peito apertado, um "até a próxima", sem nenhuma convicção, mas cheio de tola e insensata esperança.

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-Ora, francamente, Roberval... O que tu esperava?
-Tu, Acreditando? Botando fé?
-Tendo esperança, Roberval?
-Sério, isso? Esperança?
-Vou te contar, viu, Roberval? Espero que esse choque de realidade tenha te ensinado alguma coisa.
Ah... Ensinou, sim.

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