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terça-feira, 22 de maio de 2012

Apenas Uma


-Eu não me preocuparia com isso. - Disse o Ernesto, tirando os pés do chão e equilibrando a cadeira apenas nos pés de trás enquanto a escorava na parede atrás de si e tomava um gole da cerveja em lata que tinha na mão.
-Tu não te preocuparia com isso porque tu não te preocupa com nada, Ernesto. - Foi o que retrucou o Fábio, com o controle vermelho do video-game na mão e os olhos colados na tela. -Pra falar bem a verdade eu nem sei porque eu continuo falando desses assuntos contigo. Tu já demonstrou em inúmeras ocasiões que é totalmente desprovido de qualquer tipo de sensibilidade.
-Tá precisando de sensibilidade, boneca? - Ernesto riu e arrotou. Então quase se desequilibrou e caiu, apenas aí endireitou a cadeira, largou a lata de cerveja no chão e apoiou os cotovelos nos joelhos:
-Mas falando sério - começou - Digamos que a Elena encontre uma pessoa de quem ela goste? De quem ela goste muito. Alguém que ela ame. E que não seja uma mercadoria danificada que nem tu, que tomou uma decisão importantíssima baseado apenas em medo-
-Não foi medo. - Interrompeu o Fábio, pausando o jogo. -Não foi medo. Eu só... Só não quis repetir um erro.
-Que erro? - Inquiriu Ernesto.
-Eu... Eu já te falei disso, velho... Eu tinha sido dispensado-
-Tu assumiu que tinha sido dispensado. - Dessa vez quem interrompeu foi o Ernesto.
-Tá... Eu assumi que tinha sido dispensado por alguém que... Enfim... Eu achei que tinha sido dispensado-
-Não sem razão. - Interrompeu de novo o Ernesto.
-Não sem razão - Assentiu em um suspiro o Fábio. E continuou:
-Eu assumi que tinha sido dispensado, não sem razão, por alguém que era tudo o que eu queria da vida. Alguém que parecia gostar das mesmas coisas que eu gosto, alguém com quem eu podia passar horas falando sem jamais ficar sem assunto, alguém que estava disposta a vencer distâncias pra ficar comigo, e que parecia, de verdade, contra todas as probabilidades, gostar de mim.
-E aí?
-E aí que eu sou um imbecil... Mercadoria danificada que nem tu disse. Eu tava com tantos problemas, sabe...? Na primeira vez que a gente se encontrou... Era junho. Tava tudo bem. Eu tinha tido um par de percalços, mas tava tudo bem... A gente ficou junto tanto tempo... Foi mágico, sabe? Parecia... Sei lá... Coisa de filme da Meg Ryan...
-Quem?
-Meg Ryan... A loirinha do orgasmo na cafeteria.
-Tu anda vendo uns pornôs muito estranhos, brother...
-Não, imbecil. Harry e Sally... Sintonia de Amor, Mensagem pra Você... Puta merda, velho... Mensagem pra Você...
-Não sei quem é... - Manteve Ernesto.
-Não importa. Era assim. Era perfeito. E quando ela voltou... Nas duas vezes em que ela voltou, tava tudo tão bagunçado... Tudo tão errado pra mim. De um jeito que eu não sabia como ia se resolver e nem quando. Tudo tão virado de ponta-cabeça. E eu não podia estar com ela como eu queria... Eu não pude estar com ela o tempo que eu queria. E aí... Aí eu faltei e ela se despediu de mim. Se despediu de mim com tanta doçura... Mas de um jeito tão definitivo, sabe?
-Ou tu assumiu que ela tenha se despedido de ti de maneira definitiva... - Corrigiu Ernesto.
-É... Enfim... Foi baseado nisso que... Sei lá. Um mês depois, nem isso...
-Tu tomou uma decisão extremamente complicada baseado em uma informação incorreta. - Disse Ernesto.
-Velho, para de falar comigo em termos militares. - Pediu Fábio.
-Desculpa, força do hábito. Mas não são termos militares.
-Tá... Que seja. De qualquer forma, a Elena tinha se despedido de mim... Eu tava reduzido a cacos... E, sabe... Não podia cometer o erro que eu tinha cometido com ela de novo. Ela era alguém que parecia gostar de mim, e eu a afastei. Eu não podia fazer aquilo de novo. Quem sou eu pra ficar afastando as pessoas que gostam de mim? Que tipo de cretino, nesse mundo desgraçado, fica se dando ao luxo de afastar afeto, carinho? E aí...
-Aí, cagado de medo, tu te decidiu. - Completou Ernesto.
-Não foi medo... - Retrucou Fábio.
-Claro que foi. Foi medo de repetir o erro.
-... É... Pode ser...
-Mas aí eu volto a perguntar: E se ela encontrar alguém? Alguém que ela ame de verdade, que saiba receber esse amor e dizer e demonstrar isso. Alguém que esteja lá quando ela precisar e que seja tão recíproco quanto tu diz que ela merece? - Perguntou Ernesto, olhando pro Fábio com um meio sorriso.
-Qual é a pergunta, aí? - Inquiriu o Fábio, vermelho de raiva contida.
-Tu acha que ela deveria renegar isso pra ficar te remoendo o resto da vida? - Quis saber.
O Fábio largou o controle no chão, e segurou a cabeça entre as mãos. Ernesto chegou a temer que ele fosse começar a chorar, mas não era do feitio do amigo. Fábio esfregou as mãos com força no rosto, e respirou fundo. Então, juntou o controle e olhou de novo pro Ernesto, sentenciando:
-Não. Ela merece encontrar esse cara, passar por cima de mim e ser a pessoa mais feliz do mundo. Qualquer coisa menor do que isso seria a maior sacanagem da História da humanidade.
-E então? - Deu de ombros Ernesto, vendo a obviedade.
-Então eu vou me esforçar pra me sentir bem por ela, mas a verdade é que eu nunca vou conseguir. Eu vou ser consumido pela culpa e pelo arrependimento e provavelmente é o que eu mereço.
-Quanto drama. - Provocou Ernesto.
-É... Eu ando meio dramático, mesmo. - Aquiesceu Fábio largando o controle no sofá.
-Minha vez! - Disse Ernesto, se curvando pra apanhar o controle, mas foi impedido por Fábio:
-Não. Joga com o controle preto. Só tem uma pessoa no mundo autorizada a jogar com esse controle vermelho. E ela não tá aqui. - Impediu Fábio.
E, com um aperto no peito, pensou:
E eu acho que ela nunca mais estará...

6 comentários:

  1. ...já te fiz uma pergunta, e você não me respondeu, eu prefiro não acreditar que por conta do medo você vai deixar que ela (o amor da sua vida) vá embora, não posso acreditar que prefere sofrer, escrever coisas "lindas" aqui neste blog, descrever tão bem as pernas dela, o cabelo, o cheiro, pó mano, sou muito revoltado em ver os dois lados querendo ficar juntos, e por puro capricho seu, isso mesmo, (capricho)não larga tudo pra ficar com ela, ela ja largou tudo, largaria de novo se fosse preciso, e a única coisa que me leva a pensar que Elena vai ficar melhor longe de você, é se você ja descobriu que tem aquela doença maligna que esta jurado a morte, e não quer que ela sofre te vendo morrer aos poucos, e como você ama muito ela, disse adeus, sem uma explicação centrada e verdadeira, igual acontece nos filmes, ou novela, o casal apaixonado não fica junto por que sempre tem um vilão na historia, no final sempre é "foram felizes para sempre" fala para o autor mudar isso, ok? o autor é você? então muda isso, tenha atitude, por favor.

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  2. Nem tudo o que eu escrevo é autobiográfico.

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  3. ...mano, queria te pedir desculpas pelas palavras acima, fiquei pensando, você não me conhece, não sabe nada sobre mim, eu até penso que sei, porque entro no seu blog todos os dias depois que descobri ele, então digamos que a mensagem acima que estou indignado, é porque você escreve tão bem, (tão bem) que por um instante acreditei que a história fosse real. Mas uma vez; desculpa.

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  4. Não te esquenta. Há, de fato, coisas autobiográficas nos textos, mas nem tudo é literal, embora algumas coisas sejam, enfim, a vida é uma merda. Abraço.

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  5. kkkkkk a vida é uma merda! nunca falei e escutei tanto isso, nesses últimos 7 anos...abraços.

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