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terça-feira, 7 de outubro de 2014

Resenha Cinema: Garota Exemplar


Antes mesmo de assistir Garota Exemplar, já havia duas coisas que se podia dizer a respeito do filme. Primeiro, que não seria ruim. Filmes assinados por David Fincher nunca são. Mesmo seus piores filmes, como o chatinho Quarto do Pânico e o desnecessário Millenium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres, valem a pena assistir, afinal, o sujeito nos deu Zodíaco, Se7en e Clube da Luta, então, ele merece a deferência, e tem crédito.
A segunda coisa que se podia dizer de Garota Exemplar antes de ver o filme, é que o longa tinha o que é, fácil, o melhor trailer de um longa metragem nos últimos anos. Se duvida, dê uma olhada antes de continuar lendo essa resenha:



Agora, isso é um trailer, meus amigos... Eu nem precisaria tê-lo assistido cinco ou seis vezes no cinema nos últimos tempos para ficar babando pra assistir ao filme, uma teria bastado, e, diga-se de passagem, a vontade de assistir a Garota Exemplar, é totalmente justificada na medida em que o filme em si, é infinitamente melhor do que o genial trailer ali em cima sugere.
No longa, com roteiro adaptado do best seller de Gillian Flynn pela própria, conhecemos Nick Dunne (Ben Affleck, muito bem, crescendo exponencialmente como ator para o alívio dos fãs do Batman), um ex-jornalista, agora professor de redação criativa em uma modesta universidade do Missouri e dono de um bar chamado O Bar, que dirige com sua irmã Margo (Carrie Coon, de The Leftovers). Na manhã de seu aniversário de cinco anos de casamento com Amy (Rosamund Pike, um capítulo à parte), Nick chega em casa e descobre o que parece uma possível cena de crime. A sala de estar apresenta sinais de luta e Amy desapareceu. Preocupado, Nick imediatamente chama a polícia, e, dado cenário, a detetive Rhonda Boney (a eterna coadjuvante da coadjuvante Kim Dickens, ótima, devorando o papel com vontade) e o policial Jim Gilpin (o sumido Patrick Fugit, de Quase Famosos) imediatamente passam a tratar o fato como um desaparecimento.
Conforme as investigações transcorrem e o caso se torna um circo midiático, detalhes da vida aparentemente perfeita do casal começam a ser sistematicamente derrubados, o que transforma Nick no principal suspeito do crime.
Enquanto tenta provar sua inocência com a justiça e o escrutínio público o apontando como o assassino da própria esposa, Nick passa a perceber um padrão que sugere que pode haver muito mais por trás do sumiço de Amy do que ele inicialmente acreditava.
Com certeza um dos melhores filmes do ano até aqui, pegando parelho com O Grande Hotel Budapeste e Inside Llewin Davis, Garota Exemplar é David Fincher no que pode ser sua melhor forma desde Clube da Luta, entretenimento do bom, com cérebro e fígado aos borbotões.
Se a premissa sugere um daqueles tradicionais filmes "noir suburbano" que se tornaram moda nos últimos anos, a execução de Fincher é precisa na hora de olhar a trama com algum cinismo, sem deixar, no entanto, que ela se torne uma paródia ou mesmo uma desconstrução típica de um gênero de filme. Garota Exemplar é tão bem arquitetado e cheio de reviravoltas, que passa tranquilamente por três ou quatro tipos de filme em sua projeção de pouco menos de duas horas e meia que jamais cansam.
Com uma fotografia propositadamente estática, que não muda de cor para sugerir nada à audiência, Fincher conduz o público por uma trama que está sempre um passo à nossa frente usando a narração em off de Amy (cheia de ácidas verdades inconvenientes no melhor estilo do narrador sem nome de Edward Norton em Clube da Luta, como a lista de coisas que a "namorada legal" deve fazer, incluindo comer pizza fria e continuar magra, beber cerveja no gargalo vendo filmes do Adam Sandler e muito, muito sexo oral.) para nos colocar a par do que realmente aconteceu (ou não) no passado do casal protagonista.
Bem amparado no trabalho de um aplicado Affleck, da surpreendente Dickens, da competente Carrie Coon e ainda de Tyler Perry (o advogado mezzo Johnnie Cochran de Nick, Tanner Bolt) e Neil Patrick Harris (interpretando uma variação mais séria e sem bigode de seu personagem em Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola), o filme pertence, mesmo, é a Rosamund Pike.
A linda loira, com sua beleza fria e distante, consegue passar uma aura etérea que a torna inatingível mesmo quando ela está por perto, como se ela morasse dentro de um globo de neve. A diferença gritante entre sua beleza aristocrática e o jeitão proletário de Affleck são um aditivo aos atritos do casal e testemunho do talento de Fincher ao escalar seu elenco e contar sua história, e isso, somado à atuação precisa da linda atriz inglesa que se despe de sua vaidade em mais de uma cena, e consegue ser mais atraente quando sua personagem deveria ser mais repulsiva, são o lastro do que torna Garota Exemplar o baita filme que é.
Corra para o cinema e assista. É obrigatório para quem gosta de thrillers, dramas, mistérios, reviravoltas, grandes atuações e diretores que brincam de fazer filme.

"O que você está pensando? O que você está sentindo? O que foi que nós fizemos um ao outro? O que nós vamos fazer?"

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