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segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Resenha DVD: Jurassic World: Reino Ameaçado


Eu acho que sou a única pessoa que conheço que odiou Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros de 2015. Eu realmente achei aquele filme tenebroso, o tipo de subproduto da necessidade da Universal de sugar até a última gota de leite da teta de uma franquia não importa a que custo. Mas, como disse, acho que fui o único. Jurassic World fez mais de um bilhão de dólares em bilheterias sendo um dos maiores sucessos do ano de seu lançamento e deixando bem claro que aquele seria apenas o primeiro longa de uma nova franquia.
Três anos se passaram e, em junho desse ano, os dinossauros estavam de volta pra um filme que eu obviamente não iria ver no cinema, mas que apanhei na locadora no sábado e assisti ontem.
O longa abre, como de hábito, com uma sequência envolvendo dinossauros e pessoas que acaba mal para as pessoas. Um grupo de mercenários está na Ilha Nublar para, aparentemente, apanhar amostras genéticas dos dinossauros na localidade, agora, abandonada.
Três anos após os catastróficos eventos de Jurassic World o parque temático foi fechado para o público e, descobre-se que, irresponsabilidade suprema, foi construído sobre um vulcão.
É difícil saber como Jon Hammond ficou tão rico sendo tão burro, mas enfim, o vulcão em questão, após anos inativo, volta a entrar em erupção, ameaçando a existência de cada dinossauro na ilha.
Um comitê do congresso norte-americano é montado com o intuito de decidir se o governo dos EUA deve intervir na questão, e uma das pessoas ouvidas pelos políticos é o doutor Ian Malcolm (Jeff Goldblum, em uma ponta).
Em seu discurso, o doutor Malcolm deixa claro que os dinossauros não deveriam estar aqui em primeiro lugar. Eles tiveram sua chance e foram extintos, evoluíram e a natureza seguiu seu curso. Colocá-los no mundo contemporâneo foi irresponsável e o resultado foram quatro tragédias de grandes proporções. Então, que a natureza siga seu curso, e que os dinossauros voltem a ser extintos.
Apesar de a posição de Malcolm fazer todo o sentido do mundo em seu pragmatismo e ser o suficiente para convencer os congressistas a negarem apoio governamental ao empreendimento privado, nem todos concordam com ele.
Claire Dearing (Bryce Dallas Howard, linda), a "Mulher-só-negócios" do primeiro longa, que ganhava a vida explorando esses animais geneticamente modificados e, inclusive autorizou a criação do Indominous Rex, agora toca uma ONG de proteção aos dinossauros e está lutando com unhas e dentes para encontrar uma forma de salvar as criaturas.
Sua chance de ouro surge na forma do contato de Eli Mills (Rafe Spall), administrador do pecúlio do multi-bilionário Benjamin Lockwood (James Cromwell).
Lockwood foi parceiro de Hammond nas pesquisas que criaram o processo de clonagem que permitiu a criação dos dinossauros em 1993, eles eventualmente romperam relações e seguiram seus caminhos separados, mas agora, para honrar a memória de Hammond, Lockwood e Mills compraram uma grande ilha onde os dinossauros serão deixados para viver por sua conta, sem barreiras, turistas ou corporações, em um idílio natural feito sob medida para eles.
A questão é, eles não podem salvar todos os animais em Jurassic World, então, precisam salvar alguns indivíduos de cada uma das onze espécies clonadas, e precisam fazer isso rápido, pois o vulcão não está esperando por ninguém. Para ter acesso ao sistema do parque, eles precisam de Claire no local para acessar a segurança biométrica e, estão particularmente interessados em Blue, a velociraptor treinada por Owen Grady (Chris Pratt), o ser não-humano mais inteligente da Terra.
Se inicialmente Owen está disposto a seguir a linha de Malcolm e ficar de fora, deixando a natureza seguir seu curso, ele logo muda de ideia e embarca para a Ilha Nublar junto com Claire e dois millennials, a veterinária Zia Rodriguez (Daniella Pineda), e o T.I. Franklin Webb (Justice Smith).
Assim que chegam na Ilha, porém, os quatro descobrem que foram passados pra trás pelo caçador-chefe Ken Wheatley (Ted Levine), e que a operação de resgate não é exatamente o que parecia ser, colocando Claire e Owen novamente em uma posição de precisar lutar por suas vidas e pelas vidas dos animais que tentavam salvar.
O mais irritante em Jurassic World: Reino Ameaçado, é que o filme começa interessante. Eu preciso admitir que, a despeito das óbvias falhas do roteiro de Derek Connoly e Colin Trevorrow, no primeiro ato do filme eu me vi interessado e investido na trama por mais rocambolesca que ela fosse.
Eu gostei da alegoria do aquecimento global, do dilema moral de deixar essas criaturas serem carbonizadas no parque temático mais mal localizado do mundo ser a coisa lógica a se fazer, mas haver uma responsabilidade para com animais que não pediram para ser trazidos de volta, mas foram e agora merecem seu quinhão de cuidado. Eu realmente fiquei com um nó na garganta com a cena do braquiossauro engolido pelas chamas no píer, então, preciso assumir que, até aquele momento, eu estava conseguindo suspender a descrença necessária para que o filme funcionasse e mesmo com todos os absurdos da sequência da erupção vulcânica, que deveria ter matado Justice Smith, Bryce Dallas e especialmente Chris Pratt se qualquer tipo de realismo fosse ser respeitado, eu pensei "Esse filme não é tããããããããããão ruim assim...".
Mas aí, da metade em diante, Jurassic World: Reino Ameaçado vai de um filme que demanda uma boa dose de suspensão de descrença, a um filme que só anda através de conveniências incrivelmente idiotas e decisões imbecis de cada um dos personagens.
De novo.
Veja, sem entrar muito na zona dos spoilers, a ideia do (óbvio) vilão do filme é, novamente, usar dinossauros como armas.
Para isso, ele transporta os animais resgatados da Ilha Nublar até uma mansão na Califórnia, ainda que houvesse uma ilha perfeitamente próxima e pronta para receber dinossauros em confinamento logo do lado: A ilha Sorna de O Mundo Perdido e Jurassic Park 3.
O roteiro faz com que todos os personagens, heróis e vilões, tomem sempre as decisões mais idiotas para fazer a trama andar e deixar a porta aberta para um terceiro filme. Joga as próprias regras pela janela quando convém à trama e bola sistemas absolutamente cretinos para transformar dinossauros em armas. O Indominous Raptor é o melhor exemplo, o dinossauro meio velociraptor, meio Indominous Rex (que já era meio Velociraptor, então, acho que é dois terços raptor, um terço T-Rex...?). O sistema consiste em apontar um dispositivo em forma de rifle, com mira laser de rifle para um alvo, e então apertar o gatilho desse dispositivo, que emite um sinal sonoro e faz com que o Indominous Raptor ataque o alvo em questão. É como um rifle que, ao invés de disparar uma bala, dispara um dinossauro. O ponto é, se tu tem um alvo na mira de um dispositivo em forma de rifle, não dava pra ter um rifle e simplesmente atirar no alvo?
É desse tipo de idiotice que eu falo. Ou do fato de que nem mesmo o dispositivo em questão é usado para justificar a longa sequência de perseguição do Indominous por dentro da mansão no terceiro ato do filme... Ou de que o Tiranossauro-Rex virou um recurso de roteiro estilo Deus Ex-Machina, surgindo, vez que outra, pra resolver qualquer situação...
Por mais que o diretor J. A. Bayona se esforce para criar momentos de tensão e, por vezes, consiga, como na sequência que abre o filme, com o T-Rex surgindo nas sombras iluminado por relâmpagos, a verdade é que à certa altura do filme estamos de novo com portas fechando bem devagar, heróis se esgueirando ao redor de móveis perseguidos por um lagartão, ou corridas desenfreadas e mordidas no ar porque isso funcionou no passado, e Jurassic World se recusa a tentar qualquer coisa de diferente.
Apesar de começar com uma ideia que, a despeito dos problemas de sua execução, poderia render um Jurassic Park um pouco diferente, o longa descamba para justificar mundo dos dinossauros literal no terceiro longa (ainda que apenas uns 40 animais tenham escapado vivos desse filme...), deixando claro que não é o melhor filme que importa, mas o que pode ser mais lucrativo no longo prazo.
Tão ruim quanto o filme anterior, só que mais triste, Jurassic World: Reino Ameaçado é um autêntico filme produto. Desprovido de alma, cérebro ou coração.
Espere passar na TV.

"Estamos diante de uma nova era. Bem vindos ao mundo dos dinossauros."

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