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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Fan-Fic...

Sou um fã inveterado de Homem-Aranha. Foi em meados de 2004 que, traumatizado com as histórias do cabeça de teia, resolvi fazer algumas. A primeira, usei pra estabelecer umas bases com relação ao personagem, Ainda não era o Aranha que eu queria ler, mas me deu uma ideia de como ele poderia, e deveria ser escrito no futuro.
É uma história em estilo Conto, e se chama:

Essência

O que você diz, quando fica cara á cara com a pessoa que destruiu sua vida?
Um turbilhão de frases, emoções e memórias rodopiam em minha mente até me deixar com náusea.
-Bastardo nojento!!! Desgraçado!!! -Eu me imagino berrando, enquanto agarro seu colarinho:- Você me roubou tudo! Me tirou tudo! Eu tento furar seus olhos com os dedos ao mesmo tempo em que puxo os cabelos ralos atrás de sua nuca. Ele se contorce e tenta escapar, se desvencilhar de mim, eu sou mais forte.
Ele fede á cigarro, eu sinto o fedor quando ele empurra meu rosto e bafeja em um esforço inútil para me afastar.
-Filho da puta! -Eu rosno, enquanto o derrubo da cadeira e começo á lhe socar com toda a minha força, é bastante força, eu posso erguer um carro com as mãos, posso sustentar um edifício, o primeiro soco esmigalha sua mandíbula, os outros, eu nem vejo que estrago causam, ele uiva de dor, implora por piedade, mas não há ninguém aqui para salvá-lo, como não houve ninguém para salvar o tio Ben, a Gwen, o capitão Stacy, Ned Leeds, Harry, Flash, e todos aqueles á quem amei e foram espoliados de seus sonhos, de suas vidas, eu bato cada vez mais enfurecido, sinto seus dedos se comprimindo contra o braço que uso para segurar a sua cabeça no chão, e os pingos de sangue me batem no rosto cada vez mais pesados, ele pára de se debater, e eu já estou socando um saco de ossos disforme e ensangüentado. Me levanto e olho minhas mãos, imundas de sangue, dele e meu. Quando me viro para dar uma última olhada no miserável, eu fico horrorizado ao constatar que onde estava seu rosto demolido, agora está o meu. Fecho os olhos para me acalmar, para tentar entender aquilo, estou subitamente desesperado, quando abro meus olhos de novo agradeço á Deus por ter sido apenas um sonho. Eu não posso, nem quero matar, não posso deixar que ele se torne uma vítima, não posso matá-lo por que acredito na lei, acredito em justiça, vivo para garanti-la, sou um vigilante, um herói, eu sou o Homem-Aranha. Olho a mulher que dorme despida á meu lado, linda, tranqüila, linda, minha esposa, linda, minha melhor amiga, meu alicerce, como eu amo essa mulher, Mary Jane. Aqui, nesse quarto, nesse apartamento fuleiro eu sou o homem mais feliz do mundo, por que ela está aqui ao meu lado, e queira Deus, sempre estará, assim como eu só quero poder estar aqui por ela.
De súbito, o barulho inconfundível de sirenes da polícia me enche os ouvidos, seis, sete viaturas, e eu me lembro que, por mais injusto que isso possa ser não posso estar aqui apenas por ela, pois eu sou um cara normal, que levou um tapinha nas costas da vida, e fui abençoado com grandes poderes, e amaldiçoado com grandes responsabilidades, responsabilidades que não posso relegar. Enquanto visto o uniforme, escuto os suspiros de MJ atrás de mim, e uma vez mais, me pergunto por que, entre tantas pessoas nesse mundo, logo eu tinha que ser o escolhido para sempre desapontar aqueles á quem amo.
Vejo os carros vinte e sete andares abaixo de mim, o vento me bate no rosto mesmo através da máscara, desço um pouco, passo apenas alguns metros acima da cabeça dos transeuntes, eles gritam e me apontam, eu faço isso desde os dezesseis anos, e elas ainda se surpreendem, eu devo melhorar com o tempo...
Sou mais rápido do que as viaturas, viajo á 250 km por hora em certos trechos, ao longe vejo a fumaça de um incêndio, não levo um minuto para chegar ao fogo e visualizar a cena: Um carro capotado no meio da avenida, uma loja no andar térreo de um prédio de moradores começa á queimar, onze policiais, fora os que devem chegar nos próximos três minutos, e no centro de tudo, Max Dillon, vulgo Electro, um ex-eletricista á quem um acidente concedeu poderes elétricos, o acidente que lhe tornou um super-vilão dá uma idéia de sua incompetência no antigo ofício, o tempo que passa na cadeia de lá pra cá, dá uma idéia da incompetência na atual ocupação, piadinhas á parte, Electro é perigoso, você já deve ter visto as caveiras pintadas em caixas de força, elas não são meramente ilustrativas, é possível morrer lidando com eletricidade, a possibilidade de que isso venha á acontecer se você não tomar as precauções necessárias é bastante elevada, mas eu não posso me preocupar com isso agora, eu tenho alguns poderes, e muitas responsabilidades.
A principal nesse momento é impedir que alguém se machuque, tirando Dillon, que eu pretendo machucar um pouco.
Apesar da minha força, eu sei que é difícil nocautear Electro com apenas um soco, todos esses pirados parecem ter um tipo de resistência ampliada depois que ganham poderes, como a que eu tenho, uma das alternativas seria acertar ele com toda a força, mas só funcionaria se eu conseguisse chegar despercebido, é um pouco complicado, pois me visto de modo chamativo, nesse caso minha alternativa é improvisar alguns cálculos de distância e velocidade (física pura), ângulos de curvatura (geometria), e do estrago que um Ford Tauros da policia de Nova York causaria ao se chocar com o crânio elétrico de um delinqüente super-poderoso de trinta e poucos anos (essa a gente só aprende na prática).
Um pouco pesado de início o automóvel se rende á minha força e a força centrífuga e deixa minhas mãos quase sem peso, Electro está, como de praxe, fazendo uma recapitulação de sua vida difícil, com especial ênfase ao fato de que a sociedade foi injusta com ele e que não lhe deu oportunidades, uma ladainha que os psicólogos da Gruta fizeram o favor de enfiar na moleira de alta tensão do cretino. Mas eu tenho que admitir, ele é impressionante, pois percebe o carro e, com um gesto rápido, explode a minha pretensa arma em pleno ar, causando mais estragos, quando ele se vira, já sabe que sou eu, posso ver o ódio em seus olhos, que literalmente faíscam, ele me detesta, uma de suas principais aspirações é me matar, mas não rápido, ele quer me torturar, me estraçalhar e arrastar minha carcaça esfolada e tostada por Manhattam, imagine a Tia May vendo isso, imagine Mary Jane.
Ele rosna, e berra palavras desconexas, relâmpagos de oitenta e cinco mil volts deixam suas mãos derrubando postes e estourando vidraças, ele me ataca diretamente, mas eu sou rápido, forte e antevejo suas ações milésimos de segundo antes de ele executá-las, as rajadas passam á centímetros de meu corpo, meus cabelos se eriçam sob a máscara, devido á eletricidade estática, eu serpenteio em meio ao calor dos raios e me aproximo como preciso, Electro aponta a mão espalmada para meu rosto, eu sei o que aconteceria em seguida, e me desvio ouvindo o estalo no asfalto atrás de mim, ele me acompanha com os olhos e dispara novamente, eu escapo, o policial atrás de mim, não.
Eu olho de relance e o vejo estendido no chão atrás de mim, a mão treme, os olhos abertos e vidrados o distintivo derretido sobre o tecido da camisa, dois outros se juntam á ele, que deixa a saliva escorrer pelo canto da boca, este homem precisa de cuidados médicos que não terá enquanto Electro estiver aqui, contabilizo minhas opções:
A primeira, pegar o policial e levá-lo eu mesmo até o hospital, não é viável, pois há mais gente aqui e só eu posso enfrentar Electro, a segunda é arrancar o hidrante da esquina e jorrar água no otário e colocá-lo pra dormir, também não serve, pois o prédio está em chamas e os bombeiros vão precisar daquele hidrante, as pessoas no edifício gritam nas janelas, os bombeiros tentam entrar na área isolada, mas são afastados por Electro, e o policial está cada vez mais ausente, a cada minuto as chances das pessoas aqui diminuem.
É então que eu vejo, enquanto ouço os berros do Electro, a minha terceira opção, no alto de um prédio no outro lado da rua, uma caixa d’água, enquanto traço meu plano, escuto a voz rouca do Dillon:
-Aranha, seu filho da puta, a gente não acabou ainda, seu cuzão, eu vou fritar o teu rabo, e te pendurar em Times Square que nem um porco, vou arrancar a tua máscara descobrir quem tu é, e descobrir se tu tem uma vadia, então eu vou atrás dela, e vou matar a cadela, mas antes vou me divertir, e fazer a mesma coisa com a tua mãe, me diz uma coisa:Tu tem filha, Aranha?-
Ele está começando á falar de novo quando eu decido que já aturei tempo demais essa merda toda, me viro pra ele, e tiro o prédio, a policia e os bombeiros da mira, me tornando o foco do palhaço, me mexo rápido entre os raios e chego perto o bastante pra fazer o que eu faço melhor, esmurro o imbecil com força o bastante pra derrubar uma parede de tijolos, escuto o ruído de ossos se partindo, mas sei que não é o fim da linha, ainda, eu o vejo cair e se erguer de novo, uivando de dor e raiva, mas uma coisa é certa, ele não vai falar besteira com o maxilar quebrado, ele dispara á esmo enquanto vem em minha direção, eu me desvio com certa facilidade, e quando ele passa por mim, lanço minha teia em seu peito, e dou meu melhor salto, cerca de 13 metros sem nenhum tipo de aditivo mecânico, no caso uma âncora de teia em algum lugar mais elevado, quando chego ao ápice da altura, eu rodopio minha carga e o arremesso contra a caixa d’água previamente escolhida, ele voa alto e cai exatamente em cima do reservatório, atravessando a fibra de vidro da tampa e do fundo,e fazendo os cinqüenta mil litros de água em seu interior lhe caírem na cabeça, o clarão e o estalo característicos do curto circuito que se seguem me aliviam pois sei que ele não vai mais acordar, enrolo Electro em teia e o deixo sob custódia das autoridades, não sem antes saber que o policial Mayhew está em choque mas deve se recuperar bem, e sem seqüelas. Claro que isso não impedirá o Clarim Diário de amanhã de estampar na capa uma manchete dizendo o quanto eu fui irresponsável em agir colocando vidas inocentes em risco, além de ter usado força excessiva contra Electro, seguindo-se do editorial de J. Jonah Jameson intitulado: “Homem-Aranha: Desgraça ou ameaça?” Que conterá uma lista das lesões que Max Dillon sofreu durante a luta: Três costelas quebradas, fissura de bacia, fratura de tíbia e perônio, quatro dentes arrancados, nariz quebrado, mandíbula partida, e maxilar quebrado em três partes, fora escoriações médias e leves não contabilizadas. Além disso, mostrará que agi de má fé ao deixar que o policial Mayhew fosse atingido pelo ataque de Electro, um levantamento dos danos infligidos á propriedade da cidade de Nova York, tudo isso ilustrado por uma foto que eu mesmo tirei do instante em que Electro tem sua cara literalmente quebrada por mim.
No caminho de volta pra casa me pego com raiva, raiva do Electro, do Jonah e da mídia, dos políticos asquerosos que mentem para começar guerras, dos terroristas pirados que se explodem e só matam quem menos merece, raiva de mim mesmo por insistir nessa vida que só me traz tristeza, e decepção aos que eu amo, com raiva do homem que matou meu tio Ben, e me fez aprender de modo tão dolorido a lição que rege a minha vida, com raiva do Deus que apontou pra mim e disse que eu não teria uma vida normal.
Chego em casa, cheio de angústia, começo á tirar o uniforme e escuto a voz doce de Mary Jane. Sonolenta, ela pergunta:
-Noite difícil, gatão?
-Não mais do que o normal. -Eu respondo
-Vem deitar, meu herói, eu te amo. -Ela conclui.
Eu a observo se virar, se aninhar na cama, linda, linda, as mãos sob o travesseiro, e não consigo conter o sorriso que me brota nos lábios. E me lembro de uma coisa que a tia May sempre me diz, que a gente só cobra de quem a gente espera muito, partindo desse raciocínio, o Homem-Aranha não é uma punição, é um voto de confiança, um voto de confiança que eu devo honrar como tenho feito a minha vida inteira, á custa de sacrifício, esforço e perda, enquanto me deito, me lembro da pergunta que abre meu pesadelo: O que você diz quando fica cara á cara com a pessoa destruiu sua vida? Uma pergunta difícil, para respondê-la é necessário pensar um pouco, refletir com clareza, fazer das perdas professores, e extrair sabedoria das tragédias, depois de ter feito isso, acho que eu diria:
Te perdôo.

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