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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Saber


O Cabral era reconhecido por ser um sujeito inteligente. Bem informado, culto. Era conhecido por ser agradável e educado, polido, até. O Cabral tinha sido o primeiro da família dele, uma família humilde, a fazer faculdade, o que encheu a avó dele de orgulho, mas pra ele não era nada demais, era apenas trabalho. E Cabral levava o trabalho á sério.
Cabral tinha uma vontade louca de aprender e saber coisas novas. Sempre queria saber mais, sempre queria conhecer mais, daí vinha toda a sapiência de Cabral, de sua vontade infinita de saber. Se Cabral encontrasse uma proverbial lâmpada ao estilo das histórias de Sherazade, e de dentro dela saísse um gênio lhe oferecendo três pedidos, Cabral usaria apenas um: Ele pediria para saber tudo.
Cabral acreditava que, se soubesse tudo, ele não precisaria de mais nada, pois, sabendo tudo, saberia a melhor maneira de suprir suas próprias necessidades sempre que elas surgissem.
Mas Cabral, embora soubesse já bastante, não sabia tudo.
Cabral não sabia expressar o que sentia.
Cabral não sabia perdoar.
Cabral não sabia dançar, nem cantar.
Cabral não sabia como coçar a barriga de um cachorro até a perna dele tremer.
Cabral não sabia fazer cafuné, ou rir de si mesmo.
Cabral não sabia desenhar cavalos e nem o Garfield.
Cabral não sabia que viver com alguém é se equilibrar em uma teia, onde um passo em falso aqui pode reverberar enormemente pra alguém ali adiante, e que o que pra ele parece uma breve oscilação, pra pessoa que tenta andar ao seu lado tem a força de um terremoto.
Cabral sabia muito, e muito pouco...

3 comentários:

  1. Embora seja triste o dileme de Cabral, confesso que ri MUITO quando li que esse não sabe como coçar a barriga de um cachorro até a perna dele tremer.

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  2. Cá estou eu e minha psicanálise:
    o mais importante que saber o que temos e podemos fazer sozinhos é saber o que ainda não sabemos e o que e quando precisamos de alguém para poder fazer.

    Diz Bion, que aí mora a sabedoria...

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