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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Tape o buraco.


Jofre enfrentava um dilema. Um dilema que, pra algumas pessoas, não teria importância, pro próprio Jofre, na verdade, não teria muita importância alguns meses atrás. Jofre era um sujeito prático. Não era de se deixar levar pelas emoções, guardava seus sentimentos atrás de muralhas fortificadas que lhe garantiam uma zona de conforto e privacidade à qual ele prezava demais.
Essa zona de privacidade e de conforto era onde Jofre transitava, onde ele interagia com o mundo, sempre de maneira segura e sóbria, guardando uma distância acadêmica de tudo o que poderia incomodá-lo.
Jofre não era uma má pessoa. Claro, era humano, e, como eu já disse outras vezes, isso não é um elogio. Mas guardava algumas boas características que lhe haviam sido ensinadas em casa, e outras que adquirira sozinho. Jofre não foi criado sob uma presença masculina marcante. Seu pai era muito jovem quando Jofre nasceu, tinha muitos amigos, vida social agitada, não era muito de querer estar em casa, pegar o filho no colo e esse tipo de coisa. Também não tivera uma relação das mais carinhosas com seu pai, o avô de Jofre, de forma que não tinha lá muita base para saber como se criava um filho. Dessa forma, Jofre cresceu sob alguma ausência de seu pai, sendo criado de forma muito mais participativa pela mãe, pela tia e pelas avós.
Jofre poderia ter crescido e se tornado uma rematada bichona, mas isso não aconteceu. Ele cresceu gostando de mulheres.
Ele poderia ter se tornado um revoltado, um desajustado, quiçá um criminoso em potencial, mas isso também não aconteceu. Em parte por que Jofre teve uma boa criação das mulheres de sua família, em parte graças á Stan Lee. Pois é, Jofre, desde cedo, gostava de quadrinhos. Capitão América, Homem-de-Ferro, Thor, Superman (OK, esse não foi criado pelo Lee, mas dá pra entender, certo?)... E esses ideais de heroísmo acabaram tendo papel fundamental na criação de Jofre e na formação de sua identidade. Claro, Jofre não cresceu achando que tinha super-poderes ou que iria enfrentar criminosos, tirando um pequeno acidente envolvendo uma roupa de super-herói aos seis anos (que resultou em um cicatriz que ainda resiste ao lado do nariz dele nos dias de hoje), Jofre não teve nenhum problema por conta dos gibis. E é grato á eles.
Enfim, talvez tenha sido a vontade de ser melhor, de ser mais parecido com seus ídolos de infância que tenham colocado o Jofre naquela zona de conforto. Ali, ele podia ser o mais neutro possível para ver o que se passava ao seu redor, tomar decisões e assumir lados. Era a vontade de ser alguém com quem se podia contar, e, claro, de se preservar um pouco de todo o sofrimento que as relações interpessoais inevitavelmente causam.
E Jofre, á seu modo, vinha se dando bem. Não era lá um grande modelo de comportamento nem nada que o valha, mas não era o mais vil dos homens. Agia com correção na maior parte do tempo, assumia suas responsabilidades, e aguardava pacientemente o tempo de poder trocar as responsabilidades daquele momento por outras.
Não tinha pressa.
Parte dessa paciência e dessa predestinação vinham, justamente, da tal zona de conforto, onde ele guardava seus sentimentos.
Mas aconteceu... Era inevitável. Jofre acabou gostando de alguém. Não de qualquer pessoa, mas alguém especial de fato, alguém com quem Jofre se importava, alguém com quem Jofre era capaz de se ver passando o resto da vida. Isso não era inteiramente uma novidade pro Jofre. Ele já estivera apaixonado antes. A questão foi que, mesmo já tendo estado apaixonado, Jofre ainda mantinha algumas portas fechadas, mantinha o dedo no buraco da represa. Conseguia guardar algumas coisas pra si, manter-se seguro, manter-se em sua zona privada, em seu perímetro de segurança. Até agora. Jofre deixou coisas transparecerem, vocalizou, com todas as letras, de todas as sílabas de todas as palavras como se sentia. E, ao fazer isso, abriu uma caixa de Pandora. Agora não param de sair coisas lá de dentro, e Jofre está confuso, não sabe ao certo como reagir, nunca foi a mais emocional das pessoas, e agora tem a sensação de que cada vez que abre a boca acaba revelando como se sente e desencadeando uma hecatombe de proporções bíblicas. Ele não sabe se está agindo diferente com as pessoas, se as pessoas estão agindo diferente com ele e nessa semana ele chegou a chorar assistindo Kill Bill.
Volume I!!!
Ele está desesperadamente tentando tapar aquele buraco de novo.
Mas fica cada vez mais difícil.
Alguém tem umas tábuas e pregos pra emprestar pro Jofre?

2 comentários:

  1. Bem, infelizmente, como você disse, Capitão, uma vez aberta a caixa de Pandora... lamento, não haverá tábuas, pregos ou qualquer outra coisa que possa conter tudo isso.

    Acho, que agora é preciso deixar esvaziar e olhar profundamente no que estava sob toda a água da represa.

    Jofre, deve contar com os amigos, aqueles que um dia contaram com ele. Deve, ficar ao lados daqueles que o amam, pois somente estes poderão acolherer suas palavras, sentimentos e ajudá-lo a compreender-se.

    Grande abraço pra ti e pro Jofre!

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  2. Não dá pra tampar não. De agora em diante vai ser assim. Essa enxurrada de emoção, do tipo '' ando tão á flor da pele, que qualquer beijo de novela me faz chorar''.
    Mas essa situação, embora seja assustadora, pode ser boa se a recíproca for verdadeira.Caso não seja, o melhor que Jofre tem a fazer, é curtir a fossa, chorar horrores vendo a Uma matando 88 japas, e assumir as consequências de não ter tido papas na língua.

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