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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Intriga



A Berenice entrou no refeitório da empresa com cara, não de poucos, mas de nenhum amigo. O tempo todo, na fila do buffet, bateu o pé no chão compassadamente enquanto tamborilava os dedos da mão no braço. Após servir-se e pagar pela comida, andou batendo os pés pelo salão até encontrar a mesa onde estavam sua amiga Silvana, e seu colega Viktor de SanMartin (pronuncia-se SanMartã.).
Sentou do lado da Silvana e do Viktor jogando o seu prato de salada verde e frango grelhado sobre a mesa. Abriu sua lata de guaraná zero com truculência, fazendo um ruído alto e respingando a bebida gasosa pra todo lado.
Serviu o refrigerante no copo sob o olhar atento de Silvana, e tomou um gole rápido. Quando engoliu, ao invés de fazer "aaah!" como nas propagandas, fez "ârh.". Deu uma garfada brutal em um tomate cereja no prato, que atingido de esguelha pelo talher, voou pela mesa até cair no chão.
Berenice rosnou enquanto cortava com fúria uma folha de alface quando Silvana finalmente perguntou:
-Manhã cheia?
-Quê? - Perguntou Berenice, agressiva.
-A tua manhã, no trabalho... Muito difícil? - Explicou Silvana perguntando novamente.
-Ah... Não. Nem fiz nada. Fiquei a manhã inteira encarando a tela do computador e tamborilando os dedos na escrivaninha. Um inferno. - Contou Berenice com olhos cansados.
-Quê foi que houve? - Quis saber a amiga.
-Ah... O Norberto e eu andamos nos bicando. - Disse Berenice, referindo-se ao marido. - Não sei nem por quê, eu falei alguma coisa com ele e ele me respondeu atravessado, aí eu fiquei brava, falei grosso com ele, nós fomos estúpidos mutuamente e brigamos. Ontem ele dormiu no sofá, e eu, de tão furiosa, só consegui dormir quando já era quase hora de acordar.
-Ah, isso acontece, é da dinâmica da vida de casada... Os casais brigam de vez em quando, é normal. - Acalmou-a Silvana.
-Ah, mas anda frequente demais, Sil... Eu nem lembro quando foi a última vez que eu e o Norberto passamos uma semana sem uma discussão... Isso não pode ser normal, não foi pra isso que eu me casei. - Confidenciou Berenice, cansada.
-Ah, ele deve estar estressado com alguma coisa, pode ser um problema no trabalho afetando a vida pessoal, acontece. Tenta ser um pouco mais compreensiva, Berê, ás vezes o teu gênio atrapalha um pouco o teu julgamento. - Aconselhou Silvana.
-Meu gênio? - Perguntou Berenice, cabreira.
-É, tu é muito sanguínea, temperamental, se te pisam nos calos tu já fica toda fula. Eu sei pois trabalho contigo já tem uns bons cinco anos e vi como é o teu humor. De repente o Norberto tá cheio de coisa na cabeça, é um pouco mais sucinto numa resposta, tu sobe nas tamancas e fala grosso com ele, ele também se irrita pois já teve, de repente, um dia complicado, e pronto. Vocês fazem um furacão Katrina num copo d'água. - Explicou Silvana, o mais diplomaticamente possível.
-Pois é... Será que é isso? Pode ser, né? - Ponderou Berenice. - O que tu acha, Viktor? Será que é isso? - Inquiriu dirigindo-se ao colega que passara o tempo todo em silêncio e poderia oferecer um ponto de vista masculino pra questão..
-Pode ser isso, sim... - Respondeu Viktor, com os olhos baixos semiocultos por detrás de seus cílios compridos, se levantando.
Berenice, aliviada, suspirou enquanto colocava um tomate-cereja na boca. Mas Viktor, enquanto passava por trás dela, se agachou e disse em seu ouvido:
-...Ou então ele tem uma amante e não suporta mais ter que manter as aparências.
Berenice mordeu o tomate com fúria, enquanto o colega se afastava sob os olhares reprovadores da Silvana.
Viktor de SantMatirn, o intrigante, atacara novamente.

2 comentários:

  1. Pra Durval saber, se a vizinha é de fato a deusa do sexo, basta ele digitar - movimentos pélvicos desafiadores - no magnânimo, se aparecer a foto dela, é bom ele ficar esperto mesmo.

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  2. Ahahahahahahah, olha, ouvi falar que isso pode ser propaganda enganosa, viu?

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