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segunda-feira, 10 de junho de 2013

Encontre-me em Montauk



Estavam os dois passeando de mãos dadas. Pra ele, mãos dadas eram um crachá. Um símbolo. Eram uma declaração de intimidade e de apreço perene.
Ás vezes encontrava ex-namoradas na rua, e pensava em passar reto, fingir que não viu, mas não conseguia. Pensava "Ah, não. Não posso fazer isso. Já andei de mãos dadas com essa mulher...". Pra ele, mãos dadas eram mais representativas do que sexo. Sexo, vez que outra, as pessoas fazem fora de hora. Fazem em um impulso. Mãos dadas não. Mãos dadas são friamente calculadas. São termômetro de muito mais do que mera atração física. Mãos dadas são uma promessa que demanda contexto.
E ela e ele sempre andavam de mãos dadas.
Era importante pra ele andar de mãos dadas com ela. Quando não podiam, ele sempre se sentia deslocado. Sem saber onde pôr as mãos. Ansiando pelo fim da calçada, pois então, ao atravessar a rua, ele colocaria a mão espalmada nas costas dela...
E ali estavam eles. Andando de mãos dadas na rua, durante o dia.
Eles nunca se viam durante o dia. Era muito raro. Acontecera apenas uma vez, que ele lembrasse, de os dois saírem juntos de dia. Eles se viam durante o dia, eventualmente, mas geralmente era jogo rápido, quando ele queria entregar algum presente pra ela e não podia esperar nem mais um minuto, por exemplo. Mas sair, sair, mesmo, só uma vez.
Eles tinham ido comer um doce, depois jogaram Supertrunfo na lanchonete, e ele nunca contou que, enquanto ela mexia nas cartas, de pernas cruzadas, ele viu a calcinha dela, de renda cor de rosa, e ficou sem ar até pra apresentar sua carta no jogo.
Depois eles voltaram pra casa a pé, passando por alguns parques, e já era noite quando ele a deixou em casa.
Então, eles estavam lá, de mãos dadas, durante o dia, como só acontecia eventualmente, notívagos que eram.
Passaram por uma velhinha vendendo flores, e ela perguntou se ele não gostaria de comprar uma rosa pra ela.
Ele comprou duas, uma amarela e a outra rosa, lembrando dois esmaltes de menina que ela usava. A velhinha disse que eles eram um casal muito bonito, ao que ela agradeceu com um largo sorriso.
Quando eles voltaram a andar, ele sorriu de lado e disse:
-Tu é linda, eu sou muito feio, juntos, somos um casal muito bonito. Espero que o mesmo valha pros nossos filhos.
Ela abraçou o braço dele. Ergueu os olhos fazendo uma cara pidona que ela fazia de vez em quando, meio Gato de Botas, e perguntou:
-Nós vamos ficar juntos pra sempre, né? Vamos casar, ter filhos, envelhecer juntos... E eu vou ter que te levar pro hospital com o quadril quebrado porque tu foi dar salto de Homem-Aranha brincando com o nosso neto, não vou?
-Pode apostar. - Ele respondeu.
Ela apertou a mão dele com muita força, e disse:
-Eu vou te cobrar isso, E.T., não esquece.
-Nunca que eu ia me esquecer disso. Tu não vai conseguir se livrar de mim tão fácil, mocinha.
Ele se abaixou pra beijá-la, mas ela abriu um sorrisão olhando pro lado e disse:
-Olha!
E ele acordou. Estava na sala, enrolado em um edredom, com a cabeça sobre as palavras dela. Na TV, Kate Winslet recomendava a Jim Carrey "Meet me in Montauk".
Era dia 10...

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