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terça-feira, 11 de junho de 2013

Resenha Cinema: O Grande Gatsby



Eu disse certa vez que uma das coisas que acontecem anualmente, é ver um filme muito bom com o Leonardo DiCaprio.
Quis o destino (e o calendário de lançamentos) que ano passado nenhum filme estrelado pelo ator fosse lançado por aqui (Django Livre um filme de 2012, só estreou no Brasil já em 2013.), isso fez com que, nesse ano, dois longas com DiCaprio fossem lançados no país.
Django, que estreou em meados de janeiro, e O Grande Gastby, que estreou na sexta-feira passada.
O Grande Gatsby é uma das obras seminais da literatura americana. Trabalho fundamental de F. Scott Fitzgerald já foi adaptado ao cinema cinco(!) vezes, uma em 1926, apenas um ano após o lançamento do livro, uma versão que permanece perdida, e a última em 2000, numa encarnação estrelada por Toby Stephens, Mira Sorvino e Paul Rudd, a mais famosa, entretanto, segue sendo a versão de 1974, com Robert Redford e Mia Farrow, com roteiro de Francis Ford Coppola.
Confesso que não assisti inteiramente a nenhuma das adaptações, embora tenha dado uma espiada vaga nas duas últimas, com Redford e Stephens e li o livro unicamente porque um professor de literatura da oitava série me disse que eu gostaria da obra, que achei interessante, mas que me pareceu, à época, apenas uma historinha de amor, já que, aos quatorze anos eu não tinha nem o interesse e nem o alcance necessários para apreciar espetáculos de enganação humana, fraqueza, amor e libertinagem na era do jazz.
De certo modo, a impressão que fica é que o mesmo aconteceu com o diretor Baz Luhrmann. O sujeito por trás de Romeu + Julieta, Moulin Rouge e Austrália deve ter lido o livro de Fitzgerald e visto uma história de amor que poderia dar frutos a mais um filme nos moldes dos outros citados. Uma história de amor cheia de percalços e tragédias.
E, embora Luhrmann mantenha a suas manias, aquela edição surtada, as músicas anacrônicas (Cadê o jazz na era do jazz???), a forma excessiva de filmar certas sequências, a exposição quase irritnte na figura do narrador e a grandiloquência demasiada da produção de arte, o filme é garantido pelos personagens e especialmente o trabalho do elenco, que seguram a peteca impedindo o pior.
Na trama, Nick Carraway (Tobey Maguire), um jovem do meio-oeste americano chega à Nova York para trabalhar em Wall Street. É 1922 e os Estados Unidos vivem um momento de prosperidade estratosférico no pós-guerra, e novos-ricos surgem de todos os lados enquanto ricos tradicionais ficam ainda mais abastados.
Um desses ricos tradicionais é seu ex-colega de faculdade, Tom Buchanan (Joel Edgerton), marido de sua prima Daisy (Carey Mulligan), herdeiro riquíssimo que vive em uma suntuosa mansão em East Egg, Long Island.
Nick se muda para um pequeno chalé em meio às mansões dos novos ricos, também em Long Island, mas no West Egg, do outro lado da baía, e logo descobre que é vizinho de um milionário misterioso, acostumado a realizar monstruosas festas todos os finais de semana.
Esse vizinho é Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), novo-rico de origem misteriosa cuja fortuna é motivo de alcovitices na alta sociedade.
Logo, o caminho de Nick é cruzado por Gatsby, e conforme sua relação com o misterioso vizinho se estreita, sua admiração aumenta e o passado em comum de Gatsby e Daisy vem à tona, o ingênuo Nick se vê como peão em um caso amoroso que pode acabar em tragédia.
Funciona. O Grande Gatsby de Luhrmann é melhor, por exemplo, do que a celebrada versão com Redford.
O texto é bastante fiel ao livro, a produção é caprichadíssima, e o elenco, como eu já disse, está excelente.
O jeitão fanho e enjoado de Tobey Maguire faz justiça à ingenuidade de Carraway. Carey Mulligan interpreta uma Daisy que hora nos enche de ternura, hora dá vontade de sacudir pelos braços, enquanto Joel Edgerton acha a medida certa para o nojentão Tom Buchanan, que fica insuportável, mas ao mesmo tempo verdadeiro, sem jamais se tornar um desses vilões que retorcem os bigodes planejando vinganças.
Dá pra destacar ainda a discreta e elegante encarnação da socialite golfista Jordan Baker (No livro Jordan é o interesse amoroso de Nick, o que não ocorre no filme, diminuindo seu tempo na tela e dando à personagem e à atriz gostinho de quero mais), vivida por Elizabeth Debicki, linda que nem um cabide, além de Isla Fischer, como a fogosa Myrtle Wilson, amante de Tom, e Jason Clarke no papel do marido de Myrtle, o simplório mecânico George Wilson. Todos ótimos, no tom certinho dos personagens.
O longa entretanto, tem dono. E o dono é o intérprete do personagem título.
O Grande DiCaprio mantém sua excelente média recente, mostra que é um dos maiores, se não o maior ator da sua geração, e que não dá ponto sem nó na hora de escolher seus projetos.
Seu Gatsby é magnético, o tipo de personagem de quem a gente não consegue e nem quer tirar os olhos, cheio de nuances, contido, misterioso e tirado de letra por um DiCaprio no auge da sua forma.
No fim das contas, em meio à histeria de Luhrmann, a força do texto de Fitzgerald e o trabalho afiado do elenco garantem a qualidade do programa, que podia ser melhor, mas não faz feio na telona.
Veja no cinema. Vale a pena.

"-Você não pode repetir o passado.
-Não posso repetir o passado? Não, porque, é claro que que você pode... É claro que você pode."

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