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sábado, 28 de maio de 2016

Resenha Cinema: O Jogo do Dinheiro


Uma das coisas idiotas da TV norte-americana que nós (ainda) não adotamos aqui no Brasil foram os programas malucos sobre mercado financeiro.
Nos EUA existem vários.
São programas sobre bolsa de valores, cotação, índices, enfim, todas aquelas coisas das quais a maioria dos espectadores ouve vagamente na hora em que William Bonner mostra um gráfico atrás de si e vala do preço do dólar e se a Bovespa fechou em alta ou em baixa e zero vírgula alguma coisa por cento...
Nos EUA, com uma bolsa de valores consideravelmente maior e mais interesse público no mercado, já que mais gente toma parte, existe um nicho de programas de TV que falam exclusivamente do assunto, dando dicas e mostrando indicadores de uma forma descontraída, repleta de piadinhas e gagues visuais e sonoras, dando sequência à tradição estadunidense de transformar comediantes em apresentadores.
Em O Jogo do Dinheiro, George Clooney interpreta um desses apresentadores. Lee Gates.
Gates apresenta o programa Money Monster do título original, um programa onde analisa o mercado financeiro e dá dicas aos telespectadores de onde colocarem seus caraminguás, tudo isso enquanto dança, canta, simula lutas de boxe, usa cartolas coloridas, solta pombos e todo o tipo de apelação cômico-ridícula que se puder imaginar.
Lee é um sujeito chato e egocêntrico, que acha que os astros orbitam seu umbigo e é cheio daquela fanfarronice e displicência dos famosos, tanto que sua diretora de anos, Patty Fenn (Julia Roberts) está prestes a largar o posto para trabalhar em outra emissora.
É justamente às vésperas do último dia de trabalho de Patty que a Ibis, empresa do gênio dos investimentos Walt Camby (Dominic West), despenca violentamente, perdendo 800 milhões de dólares em capital e destruindo as economias de milhares de investidores após o que a empresa denomina uma "pane" no seu algoritmo.
Prestes a abordar o assunto com sua costumeira irreverência no programa, Lee e Patty são surpreendidos pela chegada de Kyle Budwell (Jack O'Connell, de Invencível).
Jack é um rapaz pobre, que trabalha como entregador, e perdeu todo o seu dinheiro na quebra da Ibis após seguir os conselhos de Lee Gates, que passou semanas falando sobre o quão seguros eram os papéis da companhia.
O desesperado Kyle obriga Lee a vestir um colete de explosivos e mantém o apresentador sob a mira de uma pistola enquanto busca respostas para o que deu errado com a Ibis, e porque ele perdeu tudo enquanto o dono da empresa anda de um lado para o outro em seus jatinhos particulares.
Enquanto a polícia cerca o estúdio julgando que a eliminação de Kyle é a meta e a vida de Lee pode ser dano colateral aceitável, Patty e sua equipe lutam desesperadamente para encontrar o sumido Camby e oferecer ao desesperado investidor as respostas pela qual ele anseia.
É muito bom.
O longa dirigido com segurança por Jodie Foster, afastada da direção desde Um Novo Despertar, é uma bem dosada mistura da crítica ao capitalismo desenfreado de filmes como Grande Demais pra Quebrar e A Grande Aposta, um filme de sítio policial como Um Dia de Cão ou O Plano Perfeito (onde Foster trabalhou e de onde parece ter aprendido um bocado com Spike Lee), e um longa de sátira à mídia como Rede de Intrigas que se equilibra em um roteiro enxuto de Jamie Linden, Alan DiFiore e Jim Kouf e no bom trabalho de um elenco muito seguro que conta com gente como Giancarlo Esposito (o Gus Fring de Breaking Bad), Ron Sprecher (de Argo) e a linda Caitriona Balfe, o foco é todo na trinca de protagonistas.
Jack O'Connell manda bem como o desesperado homem que perdeu tudo enquanto Julia Roberts é uma atriz segura que, à essa altura já deixou claro o quanto é talentosa. Ela é, em grande parte do filme, a voz da razão de Gates, e sua guardiã protetora, movendo céus e terra para mantê-lo o quão seguro for possível, e o faz com graça e segurança, além disso sua química com George Clooney é reconhecida desde Onze Homens e Um Segredo, e continua ativa, ainda que, durante a maior parte da projeção, eles se comuniquem apenas por um ponto eletrônico.
Clooney, por sinal, chegou a um ponto de sua carreira em que encontrou seu lugar especial, e consegue convencer mesmo fazendo apenas variações do mesmo tema como gente do calibre de Denzel Washington.
Seu Lee Gates é um personagem que podemos ler depois da primeira cena. A celebridade que aprenderá a ver a vida com outros olhos após uma dolorida lição. Ainda assim, Clooney o torna convincente, abraça com vontade a tal lição, e a faz crível.
O que vale para Clooney, por sinal, também vale para o longa como um todo. Não há novidades em O Jogo do Dinheiro, é um longa, sob diversos aspectos, absolutamente previsível, mas isso nem sempre é uma coisa negativa.
Quando bem conduzida, ganhando peso nos momentos certos, mesmo a história mais clichê pode deixar o espectador na ponta da cadeira, e mesmo o personagem mais recorrente vai suscitar torcida da platéia.
É o caso em O Jogo do Dinheiro.
Assista no cinema, vale a pena.

"-Você veio aqui atrás de respostas. Você merece conseguir essas respostas."

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