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terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Resenha Cinema: Projeto Gemini


Vou ser bem franco... Eu já gostei mais de Will Smith.
Houve um tempo, até, em que eu ia ao cinema pra ver filmes com Will Smith por causa de Will Smith, mas isso foi há muito tempo. Hoje em dia o ator de Homens de Preto, Ali e Eu, Robô vem empilhando projetos duvidosos pra dizer o mínimo. Se Um Homem Entre Gigantes foi um bom filme, Bright, Esquadrão Suicida e Beleza Oculta flutuaram entre absolutamente podre e bem-intencionado, mas ruim. Não ajuda o fato de Smith ser um desses astros altamente vaidosos que recusam papéis importantes em grandes projetos a menos que possa ser o sujeito mais pirocudo do filme. O ator que negou o papel principal em Django Livre porque não mataria DiCaprio, trocou Matrix por As Loucas Aventuras de James West e produziu Depois da Terra para ensinar o filho Jaden a respeito dos perigos da fama é um ator talentoso e tem inegável carisma, mas honestamente, não me tira mais de casa pra ir ao cinema já tem alguns anos.
E desde o primeiro trailer era fácil ver por que Will Smith aceitou trabalhar em Projeto Gemini: O filme seria protagonizado por dois Will Smiths! Era tudo com que o astro poderia sonhar.
No longa Smith vive o assassino Henry Brogan.
Henry é o mais capacitado matador da agência de inteligência na qual trabalha, capaz de prodígios como acertar um tiro em um trem a duzentos quilômetros por hora a milhas de distância. Mas quando, durante um trabalho, ele acerta o pescoço de seu alvo ao invés da cabeça, Henry percebe que, talvez, esteja perdendo o jeito, e que provavelmente seja hora de parar.
Em uma conversa com seu contato Del Paterson (Ralph Brown, que poderia espancar Smith até a morte... Com seus próprios sapatos) Henry informa à agência que está fora do jogo e vai se aposentar, trocar o rifle pela vara de pesca. Mas em seu primeiro dia de aposentadoria Henry faz duas descobertas:
A primeira é que o sujeito que cuidava da marina onde ele deixa seu barco foi substituído por uma jovem atraente chamada Danny Zakarweski (Mary Elizabeth Winstead), e a segunda, que seu último alvo não era um terrorista, mas um cientista.
Somando dois e dois Henry chega à conclusão de que Danny é uma espiã enviada pela chefe de sua seção, Janet Lasseter (Linda Elmond), ou por Clay Verris (Clyve Owen), chefe de um departamento rival, para observá-lo após ele ter deixado o emprego e sondar se ele descobriu a verdadeira natureza dos trabalhos que lhe vinham sendo ordenados.
Eventualmente, tanto Henry quanto Danny são atacados na calada da noite por assassinos enviados por Lasseter que não são páreo para o protagonista, e o casal foge, é quando Varris assume o comando da missão e ativa o projeto Gemini do título que, óbvio, envolve o clone mais jovem de Henry Brogan enviado no encalço dos fugitivos.
Chamado de Júnior por Verris, o clone inicia uma caçada humana que obrigará as duas versões de Henry a chegarem ao limite na tentativa de neutralizar um ao outro.
Dirigido por Ang Lee, de O Tigre e o Dragão e As Aventuras de Pi, que entrou em modo Robert Zemeckis de obsessão tecnológica e abraçou como um carrapato o sistema de filmagens com 120 frames por segundo, que já havia sido usado em seu filme anterior, A Longa Caminhada de Billy Lynn (a tecnologia, ao que parece, é meio divisiva, alguns acham o máximo, outros odeiam, mas eu francamente nem sei se ela existe no Brasil. Pra efeito de comparação, O Hobbit com seus 48 frames por segundo, o dobro do normal, só foi exibido nesse formato em uma sala de Porto Alegre, e ficava esquisito no início.) parece querer um veículo para as técnicas que deseja empregar mais do que uma história pra contar.
Isso fica flagrante no roteiro de David Benioff, Billy Ray e Darren Lemke, que prima pela falta de humanidade de todos os personagens em cena, reduzidos a estereótipos de filmes de ação rasos feito pires.
Will Smith interpreta um tipo fechado que oculta suas emoções para se proteger dos efeitos nocivos de seu trabalho, isso se torna uma muleta para o filme justificar a ausência de qualquer relacionamento mais profundo do protagonista. Clyve Owen faz um vilão tão óbvio que é quase risível, enquanto Mary Elizabeth Winstead ao menos ganha a chance de trocar bordoadas com marmanjos ao invés de ser apenas a mocinha em perigo. B. D. Wong também está no filme fazendo o papel do velho melhor amigo que surge no momento de necessidade.
No tocante à trama, na maior parte do tempo ela parece existir apenas para empurrar os personagens de uma luta entre os Will Smiths para a próxima, e embora Ang Lee seja um diretor que entende de visual e seja capaz de filmar ação com qualidade, algumas cenas são apenas bobas.
A grande sequência de ação do filme, por exemplo, com a perseguição de motocicletas, funciona até os personagens começarem a usar suas motos como porretes. Além de não fazer sentido, o CGI fica simplesmente descarado.
Os efeitos de rejuvenescimento são bastante competentes, o Will Smith de vinte e poucos anos é bem convincente, o apuro técnico do filme como um todo é irretocável, e as sequências de tiroteios são bem filmadas, e meio que é isso.
É difícil esculhambar Projeto Gemini porque o filme, desde seu primeiro trailer, deixou clara a sua proposta anacrônica. Poderia ter sido um grande sucesso de público em 1997, mas hoje é apenas um exemplar perdido no tempo de um tipo de filme de ação que não tem audiência nos cinemas, conforme atesta seu retumbante fracasso de bilheteria mesmo com a presença duplicada de Smith, um astro acostumado a chamar público. Mas a verdade é que considerando a pobreza do roteiro é fácil entender porque o longa não emplacou.
Talvez Projeto Gemini seja um programa razoável para as tardes de domingos de fãs inveterados do eterno Maluco no Pedaço, para qualquer outro público, é um desperdício de talentos perfeitamente dispensável.
Em breve vai estar passando na Temperatura Máxima.

"-Quando eu o vi, foi como ver um fantasma... Como cada gatilho que eu já puxei."

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