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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Dádiva


Antônio amava Raíssa. Não desde que se conheceram, não. Antônio não era do tipo que se apaixona a primeira vista, muito antes pelo contrário. Atração a primeira vista?
Sim, sem sombra de dúvida. Desde o primeiro olhar.
Tudo em Raíssa atraiu Antônio. Tudo acima do pescoço. O cabelo, os olhos, o nariz, a boca.
Tudo abaixo do pescoço, também. De uma maneira menos romântica, há que se admitir, mas atraiu em igual intensidade.
Não que Antônio fosse fazer algo á respeito. Tinha namorada, era fiel. Mesmo que não tivesse namorada, dificilmente Antônio tomaria alguma atitude. Não ele, não sendo pouco hábil em relações interpressoais como ele era.
Conversaram, ele e Raíssa, não foi a melhor das conversas. Ele agiu contra seus próprios instintos, foi expansivo, amigável em excesso.
Ela não gostou. Como poderia?
Em qualquer outra situação, Antônio não teria mais falado com a moça em questão exceto para dar bom dia, mas Raíssa... Algo em Raíssa desligava seus mecanismos de defesa.
Não totalmente, claro, mas Antônio, no tocante à interações sociais, estava em permanente estado de alerta DEF-CON 1, com Raíssa, baixava para uma saudável DEF-CON 3, em se tratando de Antônio e sua timidez convertida em transtorno de convívio social, um avanço oceânico.
Antônio não se afastou, ele a Raíssa acabaram, eventualmente, se tornando amigos.
Talvez, em algum momento, as conversas deles tenham beirado o flerte, ás vezes, quiçá, mais do que apenas beirado, talvez fosse assim, talvez fossem apenas as esperanças de Antônio, ele não sabia.
Seu namoro terminara, ele e Raíssa passavam mais e mais tempo juntos, conversavam muito, se divertiam e riam o tempo todo, ele se sentia bem com ela, queria tocá-la, queria beijá-la, mas como saber se ela se sentia do mesmo modo? E se ela se sentia da mesma forma, como saber se ainda se dariam tão bem se as coisas mudassem?
Como saber se, uma vez que ela descobrisse que ele não era divertido, inteligente ou charmoso ela continuaria gostando dele, como saber se ele perderia, não só uma mulher que amava, mas também uma amiga que amava?
Antônio amava Raíssa.
Em silêncio.
Estava por perto, mas nem sempre, tinha ela próxima o suficiente pra saber que seu perfume continuava delicioso, que seus cabelos continuavam esvoaçando acima da nuca e por trás da orelha quando ela os prendia, que sua pele alva permanecia com textura de veludo e que seus olhos eram encantadores sempre, mas prodigiosamente ficavam ainda mais encantadores em dias de sol brilhante e frio intenso.
Por vezes parecia uma tortura, abraçá-la, tê-la nos braços, sentir sua pele nos lábios ao dizer oi e tchau...
Por vezes parecia uma tortura, mas a maior parte do tempo, era uma dádiva.

2 comentários:

  1. Eu fico com a dádiva. Pode parecer que ver, sem poder tocar é torturoso, mas no fim é melhor que nada. Coração apaixonado faz banquete com qualquer migalha mesmo.

    *ps: óbvio que Antônio não vai conseguir levar essa situação por muito tempo, visto que essa coisa de paixão em silêncio depois de certo tempo causa falta de ar, convulsão, aperto no peito e queda de cabelo.

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  2. Esse cara, essa situação, me lembra uma antiga música que a Marina cantava:
    "Pessoa" (olhar você e não saber / Eu queria alguém lá no fundo do coração /Ganhar você e não querer / É porque eu não quero que nada aconteça / Deve ser porque eu não ando bem da cabeça / Ou eu já cansei de acreditar
    O meu medo é uma coisa assim / Que corre por fora entra, vai e volta sem sair, oh, oh !
    Oh, não ! Não tente me fazer feliz)

    Acho que é do teu tempo, hehe!!!
    Abraços autistas!

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