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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Rapidinhas do Capita


O guri, com aquela cara de moleque que fez bobagem, estava sentado em uma banqueta de madeira no corredor que ligava a sala de estar à cozinha.
Sua expressão era bastante clara:
Aguardava um castigo.
Contrariando as ordens de sua mãe, o piá jogara bola dentro de casa quebrando a compoteira de cristal que ficava em lugar de honra na estante da sala.
Em sua defesa, ele dissera que fora sem querer, que fora um acidente. Ainda assim, a mãe lhe disse, enquanto juntava os cacos de cristal do chão:
-Tu vais ver quando teu pai chegar.
Aquela frase apavorou o piá. O pai era um sujeito duro, literal em suas ações e palavras. Quando dizia algo, cumpria, jamais deixara de cumprir uma promessa. O menino, mesmo com tenra idade, sabia que seu pai era homem de palavra, e que suas ações sempre davam lastro à suas promessas.
A revolta da mãe era justificada. A tal comporteira de cristal era, de fato, bem bonita, ela apanhara na casa da avó quando esta morrera. Não quis mais nada, mas a compoteira trazia á ela lembranças dos verões que passara na casa da avó. Agora estava destruída por conta da desobediência do fedelho.
A desobediência do fedelho não era, também, totalmente gratuita, era um dia chuvoso de verão, a primeira semana de férias, ele precisava de alguma atividade para gastar toda a energia acumulada. Acabou desobedecendo a mãe, e, agora, teria de enfrentar a plenitude da ira de seu pai, um homem austero e resoluto.
Ás seis da tarde o pai chegou, sua chave fazendo grande alarido enquanto ele destrancava a porta. Entrou, viu o pequeno sentado perto da cozinha e perguntou à esposa o que acontecera.
Ela narrou em detalhes toda a epópeia que culminara na destruição da compoteira de cristal.
O pai não disse nada. Soltou o primeiro e o segundo botões da camisa, tirou o casaco, pegou o filho pela mão e o levou até seu quarto. Acendeu a luz, abriu a janela e tirou o cinto.
Mandou que o filho ficasse parado e disse:
-Isso vai doer mais em mim do que em você.
Girou a peça de couro no ar e golpeou as próprias pernas. Repetiu a operação outras quatro vezes sob o olhar atônito do moleque.
Após terminar, olhou para o menino e disse:
-Que isso não se repita, entendido?

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Cristina amava adolfo. Que amava Camila. Que amava Fábio. Que era uma tremenda bichona, mas tinha medo de assumir por causa da família, então não saía com mulheres nem homens.
Camila não sabia disso, se soubesse, talvez tivesse dado abertura ás investidas de Adolfo, nesse caso, Cristina, que não sabia por que era ignorada pelo homem que amava, saberia o por quê e talvez não tivesse se unido aos Médicins sans-frontiére e morrido em Ruanda num conflito com as milícias armadas locais, nem teria deixado a carta que foi entregue ao Adolfo onde dizia com riqueza de detalhes por que tinha ido para a África.
A culpa não teria consumido Adolfo e ele não teria se recolhido à solidão e esquecimento, onde morreu sozinho. E Camila não teria desperdiçado a vida perseguindo Fábio até ficar velha e sozinha, e amarga depois que o rapaz sumiu.
Ele, no final das contas, foi o único que terminou feliz, se mudou para o Rio de Janeiro sem se despedir de ninguém, e lá, passou a ganhar a vida como Fabi Ferrari, travesti de programa.

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Ele era um tremendo chato. Não que não soubesse conversar, mas depois de vinte minutois conversando com ele, chegava-se á conclusão de que era o mais incrédulo dos homens, ele não acreditava em nada.
Religião, pra ele era tudo bobagem. Formas de a humanidade lidar com seu medo da morte e apego aos entes queridos, além de um mecanismo de controle.
Políticas sociais, pra ele era só uma ferramenta de um governo corrupto para se manter nas boas graças das camadas mais empobrecidas de uma população ignorante e que é a mais numerosa, o que, obviamente, garante reeleição.
Homem na lua, pre ele era um engodo, um filminho porcaria filmado atrás de um quintal em Houston, mal dirigido, mal editado e que se prestava apenas ao papel de propaganda americana pra fingir estar na dianteira da corrida espacial contra os Soviéticos. Outra maneira de manter o povo na coleira.
O que ninguém sabia, porém, é que ele acreditava que ela podia amá-lo como ele era, e isso, á despeito de todo o seu ceticismo, fazia dele o mais crédulo entre os homens.

2 comentários:

  1. na verdade não sei se é bom ou ruim, mas eu acho que ninguém pisou na lua, então... e pois é, a cristina tinha que ter falado com o adolfo, que daria um fora nela sem gerar grandes traumas nem mortes (eu já pensei em me alistar no exército da salvação por conta de um "causo", hehehe). nesse meio tempo, a camila falaria com o fábio, que explicaria pra ela que o negócio dele "era quibe" e daí, a camila num dia muito triste e procurando consolo, sairia com o adolfo. todos ficariam bem! ah, esqueci do fábio: ele teria ido para a europa e conhecido um italiano muito gostoso que pagaria a mudança de sexo!

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  2. ora,ora, um niilista apaixonado. que lindo, eu acho que ela ama ele desse jeitinho que ele é.

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