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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Construção


-Tu és ruim de aproximação, Fortunatto.
-Sim.
-Muito ruim.
-É.
-Péssimo.
-Entendo.
-Pior que péssimo. É medonho.
-Arram.
-Podre, mesmo.
-Hmm.
-Tu é tão desgraçadamente ruim de aproximação, Fortunatto.
-É.
-Tu chega a feder.
-Tá.
-Se eu fosse tu, eu me mat-
-Entendi! Eu sou muito ruim de aproximação, Ok. Isso é tudo ou tem outro ponto?
-Ninguém vai te esperar pra sempre.
-...
-Tu estás ciente disso, correto?
-... Correto.
-E?
-Eu gosto de dar às pessoas a oportunidade de me surpreenderem.
-Não seja cínico, Fortunatto. Nós dois sabemos que não te cai bem.
-É... Fazer o quê? Eu sou ruim de aproximação. Nós dois também sabemos disso.
-E então?
-Então... Eu vou esperar. Até que pare de doer, ou que algo aconteça.
-Achei que tu fosse mais proativo, pra usar uma expressão da moda.
-É... Não pra esse tipo de coisa. Não depende só de mim.
-Compreendo. O que nós vamos ouvir, então?
-Taca Construção, aí. A versão com o Chico e o MPB4, por favor.
-OK.
"Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música"
-Boa pedida, Fortunatto.
-Obrigado, doutor Fiúza.

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