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sábado, 21 de maio de 2011

Hora certa.


O Argeu era desesperado pela Francielly. Não no mau sentido, ele era desesperado por ela no bom sentido. Após algum tempo, ele supôs que a Francielly gostasse dele também. Haviam indícios espalhados por todas as interações entre ambos.
Os amigos diziam:
-Vai, Argeu, quando a égua passa encilhada, tu tem que montar.
A analogia comparando sua amada Francielly à uma égua não agradava Argeu, mas enfim, ele também achava que ela estava pronta pra ele. Talvez, quem sabe, anciosa por ele.
Argeu não tinha, porém, certeza de que estava ele preparado para Francielly, para o que representaria ela e ele se tornarem eles. Ele queria que, quando chegasse a hora, tudo estivesse perfeito. Queria tudo conforme o figurino. Queria ser o melhor ele que pudesse ser. O primeiro passo, pensou, seria não usar mais a expressão "O melhor ele que pudesse ser.". Enfim, queria que tudo estivesse nos trinques. Se não estivesse tudo como tinha que estar, então não era hora, simples assim.
Deu, momentâneamente as costas ao seu amor dizendo a si mesmo que as coisas aconteciam na hora em que tinham que acontecer.
E Argeu foi cuidar das suas coisas, melhorar como como trabalhador, estudante e homem. Cresceu na vida, ralou demais, trabalhou até quase se estourar e melhorou de emprego, de vida, de status social. Comprou um carro, comprou lençóis e colchões, e quadros pras paredes do apartamento que alugou. Estudou até pensar que seus olhos cairiam, e então continuou estudando. Com muito esforço conseguiu seu diploma, e se sentia uma pessoa mais completa e mais capaz de encarar o mundo. Assumiu responsabilidades, aprendeu a trocar resistência de chuveiro, consertar fechadura, trocar courinho de torneira, pneu de carro, e tudo mais.
Estava finalmente pronto como queria estar pra receber Francielly em sua vida. E foi atrás da dona de suas afeições.
Recebeu, porém, más notícias de amigos que a conheciam.
Ela estava praticamente casada com um sujeito chamado Carlos Eduardo, que fazia faculdade com ela e trabalhava meio período no mercado do avô. Parecia feliz, a Francielly. Como ela ousava estar feliz sem ele?
Foi isso que Argeu pensou enquanto esperava, em frente à faculdade, que Francielly saísse. Foi o que impulsionou seus passos enquanto caminhava com decisão até Francielly pra dizer à ela que se esfalfara feito um condenado à morte pra estar à altura dela, para ser a pessoa que ela merecia, e agora aquilo? Aquela apunhalada violenta nas costelas?
Quando se aproximava, porém, viu o Carlos Eduardo chegar de mansinho por trás dela, abraçá-la pela cintura e dizer em alto e bom som que a amava. Viu o sorriso dela, tão lindo, quando ela fechou os olhos e envolveu com os braços delicados o pescoço daquele pulha sortudo. Então parou. Deu dois passos pra trás, e seguiu seu caminho no sentido oposto.
Descobriu à duras penas que as coisas, de fato aconteciam na hora em que tinham que acontecer. Infelizmente, raramente essa hora era aquela que escolhemos.

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