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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Amizade Colorida


Estavam o Paulo Roberto e o Everaldo no bar, sentados à sua mesa preferida. O Paulo Roberto tomava uma Coca-Cola e comia um sanduíche de salada de atum, enquanto o Everaldo tomava um chope e comia um pastel. Eles conversavam sobre uma descoberta que Everaldo fizera conversando com um amigo:
-Amizade colorida, Pê Erre. - Disse o Everaldo com um sorriso bem aberto, carregado de certa dose de escárnio.
-Quê? - Perguntou o Paulo Roberto, entortando a expressão facial de um jeito que não deixava claro se ele realmente não tinha entendido, ou se a ideia era abjeta demais para digerir.
-Amizade colorida, caralho... - Everaldo sustentou com naturalidade. E continuou:
-Amigos que fazem sexo. Não há aquela merda toda do compromisso. Ao menos não o compromisso tradicional de um relacionamento. Não existe aquela obrigação de lembrar dos aniversário, dormir abraçadinho, ligar no dia seguinte, conversar depois da foda... Tu pode te vestir, agradecer com um cumprimento tipo um soquinho no punho e te mandar...
-Isso não existe... - Disse o Paulo Roberto balançando a cabeça negativamente.
-Claro que existe. - Replicou o Everaldo. -E eu garanto, é saudável pra caralho... É só sexo. Não tem porque complicar as coisas. Ao invés de ficar, tu se masturbando na tua casa e uma amiga tua, na casa dela, vocês se encontram e fazem sexo. É como se vocês estivessem masturbando um ao outro, se isso deixa as coisas mais fáceis pra ti...
Não deixavam. O Paulo Roberto disse por que:
-Não... Eu não... Eu não masturbo minhas amigas, nem os meus amigos... Não é a mesma coisa...
-Porra, Pê Erre... Pra ti, ia ser a melhor coisa do mundo. Isso tira o peso de um relacionamento, saca? É amizade e sexo. Tu vai lá, encontra tua amiga, vocês conversam, tu pergunta se ela tá a fim... Ou liga pra ela, ou manda uma mensagem... Quer trepar? E vai lá, e trepa, e vocês continuam se dando bem depois... Tu, que te caga de medo de compromisso, ia se dar muito bem cultivando umas amizades coloridas...
-Epa, epa, epa... Quem disse que eu me borro de medo de compromisso? - Perguntou Paulo Roberto, se endireitando na cadeira.
-Eu tô dizendo, porra.
-De onde tu tirou isso?
-Ah, vai se foder, Pê Erre... Tu termina relacionamento em cima de relacionamento unicamente porque tem medo de compromisso... - Disse o Everaldo, com pouco caso, mordendo o pastel de calabresa.
-Não, não, não... Peraí, Everaldo. Não tem nada a ver com medo de compromisso...
O Everaldo mastigou, engoliu, bebeu um gole de chope e olhou muito sério pro amigo:
-Então me diz, caráleo. Por que é que teus relacionamentos terminam? O último, por exemplo?
O Paulo Roberto franziu o cenho olhando pro Everaldo. Ficou em silêncio um instante, olhando enviesado para o interlocutor. Por fim tomou fôlego:
-Não... Não vou entrar nessa. Tu tem razão, Everaldo. É uma ótima ideia. Teu amigo tá de parabéns, inclusive.
-Enfia a tua ironia no cu, Pê Erre...
Ficaram em silêncio. O Everaldo terminou o pastel, o chope, e pediu outro. O Paulo Roberto terminou o sanduíche, a Coca-Cola, e pediu outra.
O silêncio reinava, os dois olhando pra TV. O Everaldo bebeu um gole de chope e fez "Ah!". O Paulo Roberto olhou pra ele e disse:
-Tá. Terminou porque eu sou um idiota. Mas não. Eu não tenho medo de compromisso. Acho que todo o homem tem, mas eu, não. Eu curto compromisso. Gosto da ideia de ser de alguém e de considerar alguém minha. Eu acho que meu caso é mais grave. Eu tenho medo de estar feliz e de estar completo. Acho que foi por isso que meu último relacionamento acabou. Eu fiquei esperando algum deslize, mínimo que fosse, e desproporcionei a coisa toda. Aí eu fiquei como eu estou habituado. Triste, solitário, e infeliz.
O Everaldo continuou olhando pro Paulo Roberto com a mesma expressão. O Paulo Roberto continuou:
-E, não. Amizade colorida não funcionaria, pra mim. Eu gosto de sexo, claro. Mas sexo pra mim tem que ser a manifestação física de alguma coisa mais do que apenas vontade de se aliviar. Eu gosto de ficar abraçadinho depois. E durante. E antes. Gosto das preliminares. De conversar depois. Eu gosto de lembrar dos aniversários e de ser repreendido quando esqueço, mandar mensagens no dia seguinte, ligar, ou só ir encontrar a pessoa pra comer sorvete e falar besteira. E mesmo que eu falhe em fazer qualquer uma dessas coisas, ou todas elas, eu não consigo encontrar alguém, fazer sexo, e depois ir embora sem que essa pessoa signifique algo mais pra mim. Não rola. Então, amizade colorida, pra mim, está fora de cogitação, porque, pra eu chegar a querer fazer sexo com alguém, essa pessoa já tem que ser mais pra mim, do que apenas uma amiga.
Ficaram em silêncio, o Everaldo tomou fôlego pra falar, mas o Paulo Roberto interrompeu:
-E digo mais: Acho que esse teu amigo quer é comer a tua bunda.
-Vai te foder, vai Pê Erre?

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