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sábado, 17 de agosto de 2013

Supermercado


Dentro do supermercado, sexta-feira, seis e meia, sete da noite... Um fervo. Desconfortável, desagradável, mas não uma surpresa. É sabido, afinal...
Véspera do final de semana, horário em que a maioria das pessoas sai do trabalho, se fosse verão seria pior. Haveria gente fazendo compras para ir à praia. Estaria calor. Seria pior.
As filas são grandes. Tu olha para as prateleiras como se fossem vitrines. Interessadíssimo no preço da maionese Heinz. Ela nem é tão boa... Porque custa oito reais? O ketchup da mesma marca vale o preço, a maionese, não. Mesmo a mostarda é superestimada.
Que importa? Tu tem ketchup em casa...
Salsichas de frango? Quatro e noventa e nove... O preço é bom. Salsicha de frango é bom. Mas depois de uma overdose de salsicha de frango terminar em dois dias de cama existe trauma. Mesmo sabendo que basta não comer seis ou sete de uma só vez junto com o cachorro, tu escolhe o caminho da irracionalidade, e acha melhor ficar sem comer salsichas de frango por um tempo. Será que foi isso que te fez abandonar as salsichas de frango da outra vez?
Andando por entre as prateleiras, freezeres e gôndolas repletas de ofertas e inutilidades, é bacana deter-se, vez que outra, nas pessoas que passam.
Não no óbvio.
Não na moça loira de curva generosas que se agacha casualmente diante dos cereais tornando-me inadvertidamente íntimo tanto de seus seios fartos quanto de sua roupa íntima e mesmo de sua bunda.
Não... Essa qualquer um olharia.
Mesmo o senhor, já na casa dos setenta anos que anda arrastando os pés, apoiando-se no carrinho pelo mesmo corredor.
Interessante como algumas coisas vão se acabando... A juventude, a virilidade, mesmo a vergonha, mas o prazer de comer com os olhos permanece, agarrado feito um parasita mesmo a um homem cujos óculos fazem o telescópio espacial Hubble parecer uma luneta, e que tem liberdade para ir ao supermercado vestindo chinelos com meias, calças de moletom e camisa de flanela xadrez.
Ele literalmente devora a loira com os olhos. Poderia-se, erroneamente, tomar a sua olhada por desaprovação. Aquele é um homem que viu tempos mais pudicos, em que para ver a roupa íntima de uma mulher tu deveria conhecer a ela, os pais dela, e ao menos dois vizinhos. Mas não... A teoria da desaprovação não dura o tempo que o senhor, com cara de vovô que começa suas histórias com "no meu tempo", e que agarra um pacote de granola para manter sua flora intestinal em dia, observa de maneira ostensiva a mulher.
Ela vale a olhada. Uma mulher que consegue passar tanto tempo de cócoras na ponta dos pés é interessante mesmo se for um bagulho, mas com tudo no lugar como ela tem, e tais habilidades, resistência nos músculos das pernas e equilíbrio, é difícil não pensar em alegorias de alcova das mais pujantes.
A deusa da fertilidade loira se levanta, sorri para o velhinho, vira-se, faz cara feia pra mim. Eu olho pro velhinho, ele me dá uma piscadela e faz uma cara de assombro, com a boca apontando pra baixo e balança a cabeça positivamente.
Com a aprovação tácita do veterano, viro a cabeça e dou uma olhada no traseiro da moça em movimento. As calças de ginástica parecem ter sido costuradas com ela dentro. Bela figura.
Volto a olhar pro velhinho e repito sua expressão. Assombro. Positivo. Agora somos cúmplices.
Ele segue seu caminho, eu sigo o meu. Matando tempo pra que as filas diminuam. De que mais preciso?

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