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sábado, 4 de maio de 2013

A Insônia de Heleno



O Heleno andava com um problema que vinha lhe tirando o sono:
Insônia.
Não conseguia pregar os olhos por mais de duas horas por noite. Em curtos períodos de sono de não mais do que dez, quinze minutos. Às vezes menos que isso.
Por conta dessa insônia, o Heleno levantava já fatigado de manhã, via o dia clarear através das persianas da janela e já começava a sentir uma ansiedade danada porque não tinha conseguido dormir ainda, e quando seu despertador soava ao seu lado, entrava em pânico.
Sabia que seria um dia longo e alquebrado.
Não que fosse novidade pro Heleno estar alquebrado e ver seus dias se arrastarem como minhocas lânguidas hora após hora... Não. O Heleno tinha lá sua cota de mazelas, tristezas, erros e tudo o mais. Mas a insônia era novidade... Embora já estivesse havia meses vivendo quase no piloto automático, o Heleno só tinha começado a experimentar a privação de sono havia poucos dias... Menos de duas semanas.
Resolveu tentar todas aquelas técnicas de avó pra dormir à noite:
Leite morno adoçado com mel.
Chá de erva cidreira.
Contar carneirinhos.
Mergulhar os pés na água morna.
Compressa de água fria na testa.
Nada deu certo. O Heleno tentou correr durante a tarde, após o serviço, na esperança de que o desgaste físico o deixasse particularmente cansado à noite, fazendo-o dormir.
Mas não deu certo. Heleno de fato sentia-se moído de cansaço, mas suas dormitadas de quinze minutos continuaram. Parou de comer após as sete da noite. Parou de ingerir líquidos após as nove horas. Não adiantava.
Suas noites em claro continuaram por mais uma semana.
Parou de deitar pra tentar dormir, de modo a se doutrinar para que o corpo não pensasse que ele estava deitado pra ler ou ver TV... Não adiantou.
Aquelas foram as três semanas mais longas da vida do Heleno.
Estava em frangalhos, mas se conformou... Uma hora teria sono, seu corpo não suportaria tanto tempo naquele arremedo de sono, e ele capotaria dormindo e assim ficaria por dez ou doze horas ininterruptas... Paciência.
Dois dias depois dessa decisão, quase trêmulo e com olheiras tão profundas quanto a caverna vertical de Voronya, foi à máquina de lavar apanhar uma muda de roupa de cama para trocar pela que tinha usado nos últimos dias.
E deparou-se com uma fronha que não era qualquer fronha... Uma fronha especial.
A colocou na secadora, e vestiu-a em seu travesseiro com o carinho e a delicadeza que a peça pedia. E naquela noite, ao deitar a cabeça sobre as palavras dela, escritas em sua letra bem particular, reta na base, por toda a peça, finalmente teve paz.
E dormiu um longa e revigorante noite de sono.

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