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sexta-feira, 24 de maio de 2013

Quadrinhos: Homem-Aranha - Tormento



Como eu falei no review da excelente Marvel Knights: Banner, a Panini entrou numas de relançamentos em edições encadernadas.
As edições, com papel de qualidade no miolo e capa em papel-cartão, todas por menos de vinte reais, trazem histórias interessantes em republicações caprichadas.
Minha última incursão à banca de jornal me rendeu a supracitada história do Hulk e essa de que vou falar na postagem de hoje:
Homem-Aranha - Tormento.
Na trama de Tormento, o Lagarto inicia uma onda de assassinatos em Nova York, o que o coloca na mira do Homem-Aranha. O herói acaba encontrando a criatura, e a esse encontro seguem-se lutas brutais e violentíssimas do sobrinho preferido da tia May contra o alter-ego reptiliano do doutor Curtis Connors, nessa trama, um mero peão nas mãos de Calypso, uma xamã africana com um passado em comum com Kraven, o Caçador, inimigo do Homem-Aranha que após anos de humilhantes derrotas acabou cometendo o suicídio.
Tormento, arco de histórias que foi publicada nas cinco primeiras edições da revista Spider-Man no ano de 1990, foi um marco na História dos quadrinhos.
O lançamento da primeira edição da revista, turbinada por uma série de estratégias de marketing, como capas variantes e papel de qualidade superior nas primeiras edições, alcançou estratosféricos dois milhões seiscentas e cinquenta mil cópias vendidas, um recorde.
A história também marcava a estréia de Todd McFarlane nos roteiros. O canadense era desenhista de longa data de Homem-Aranha no título The Amazing Spider-Man, onde colaborava com o escritor David Michelinie e, em suas próprias palavras, assumiu o papel de roteirista pra ter maior controle sobre o que desenhava.
Isso fica bastante claro em Tormento. O roteiro é, parafraseando "desastrado, pretensioso e carece de sofisticação".
O quadro inicial, com o Homem-Aranha se balançando estilo McFarlane, com as pernas em posições inumanas e as teias do uniforme microscópicas é até bonito, mas o texto nos recordatórios ao redor, chega a ser constrangedor. Também constrangedor é a repetição da frase "Estar Acima de Tudo" nos quadros que iniciam e encerram cada capítulo, no que parece um pastiche doloroso dos primeiros e últimos quadros de cada página de A Piada Mortal do Batman, publicada dois anos antes... Tudo seria perdoado se a arte de Todd McFarlane fosse grande coisa, mas a verdade é que, apesar do dinamismo dos quadros do artista, ele simplesmente não parece entender nada de anatomia. Os braços e pernas dos personagens são, respectivamente, muito curtos e muito compridos. Os narizes ocupam rostos inteiros, coxas ficam grossas como troncos de árvores quando pernas estão flexionadas... Pra piorar, o desenhista se perde na quantidade excessiva de hachuras e rebuscamentos, arte-finalizar e colorir seu trabalho deve ser um pesadelo. No primeiro ataque do Lagarto, num quadrinho ao pé da página, o vilão está sem cauda. Na página 112 existe uma imagem do Lagarto pendurado em correntes que é tão mal construída que arte-finalista e colorista se perdem no acabamento do quadro de uma forma que é difícil entender o que está havendo, isso pra ficar só em um par de quadros particularmente flagrantes.
Tormento deu início ao conceito de fazer quadrinhos que originou aberrações como a IMAGE, o grande trabalho de autor independente que invadiu o mainstream com layouts abusados, mulheres com pernas de três quilômetros e desenhos cheios de hachuras cruzadas sem nenhum roteiro que desse lastro àquele monte de rabiscos, talvez por isso eu tenha particular desprezo pela revista.
A Panini atrasou o lançamento da edição, teria feito sentido no ano passado, aproveitando o fato de que o Lagarto era o vilão do bom O Espetacular Homem-Aranha (embora a encarnação muda do monstro em Tormento tenha levado muito imbecil a reclamar do vilão falando e tramando no filme...), esse ano, além de A Morte de Jean DeWolffe, a Panini podia republicar A Guerra de Gangues, Homem-Aranha: Azul, A Última Caçada de Kraven, ou uma compilação de histórias seminais do cabeça de teia... Todas essas seriam pedidas mais interessantes que Tormento. O registro histórico do momento em que a forma suplantou o conteúdo.

"Seu nome... Homem-Aranha! Seus poderes... Extraordinários! Sua teia... Fabulosa!"

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