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sábado, 11 de maio de 2013

Termostato



Siu do banho e vestiu-se, sem lá muito esmero... Roupas normais. Tênis, jeans, camisa preta... Prendeu o cabelo com atenção, não por vaidade, mas por necessidade, mesmo. Era um cabelo de ET. Que requeria atenção o tempo todo, pois como os velociraptores de Jurassic Park, precisava de um único momento de distração para atacar.
Uma vez ajeitado, saiu. Ia comprar presentes de dia das mães com sua melhor amiga.
A encontrou em frente ao prédio. Abriu um sorriso.
-Oi! Tudo bem?
Dois beijos. Um abraço.
-Tudo, e contigo?
-Tudo joia!
-Vamos lá, então?
-Bora lá!
Saíram. Conversavam amenidades. Como tinha sido a semana. Como é que estava o emprego novo. Salários, benefícios, rusgas com o chefe. Tudo bem normal, tudo bem OK. A certa altura ela fez uma expressão estranha olhando-o de cima abaixo, e perguntou com aquela nota de dúvida na voz:
-E tu? Porque essa felicidade toda?
Foi estranho ouvir aquilo. Era tudo, menos felicidade que experimentava já tinha algum tempo. Por que diabos alguém acharia que estava feliz quando sentia exatamente o oposto?
Deu-se conta... Era o mecanismo de camuflagem.
Ele tinha isso. Bem ativo. Esconder emoções era importante na sua família. Praticamente como um Predador, mas ao invés de se esconder tornando-se transparente numa selva tropical calorenta, guardava a sua tristeza onde ninguém pudesse vê-la.
Estava mal ajustado, pensou. Esfuziante demais... Animado demais. Não era ele. Era como o termostato da geladeira marcando vinte graus. Não era normal.
-Nada... Só acordei bem, eu acho... - Foi o que ele disse enquanto a cada passo ouvia cacos figurativos dançando dentro do peito.

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