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segunda-feira, 20 de maio de 2013

Tudo Dela



"Estávamos os dois no estrado sobre o qual ficava o teu colchão, na sala, posicionado estrategicamente enviesado em relação à TV. Eu estava atirado na transversal, com um travesseiro teu apoiando as minhas costas a cabeça encostada na parede e as pernas jogadas pro meio da sala. Tu estava deitada direito. Pés em direção à porta da rua, cabeça voltada pro lado do sofá-baú. Tua cabeça estava no meu colo, e eu estava acariciando o teu cabelo. Eu sempre gostei de acariciar o teu cabelo, pois quando eu fazia isso se soltava aquele aroma gostoso que eu me acostumei a chamar de cheiro de salão de beleza, e que era pra ser um elogio, mas eu nunca soube ao certo se te chateava por causa da indefinição da tua expressão facial quando eu dizia e da forma veemente como tu me explicava "É só xampu, só. Xampu caro... Mas só xampu.".
Enfim, eu estava acariciando o teu cabelo, e me sentindo particularmente chauvinista por estar te desejando muito além dos cabelos num momento de tanta meiguice inocente. Mas estávamos os dois sozinhos ali, com a TV desligada, nenhum de nós estava lendo, nem parecíamos, baseado na forma como estávamos confortáveis, estar nos preparando pra ir à parte alguma dali a pouco.
Ainda assim, eu refreei meus impulsos, e não tomei a iniciativa de te tocar com nenhuma lascívia nem nada do tipo...
Pra mim sempre foi muito importante que tu soubesse que, embora eu te desejasse inteira, cada milímetro cúbico da tua pele, eu não te via como um objeto sexual... Sexo, pra mim, sempre foi a consequência do resto todo. E por melhor que fosse, pra mim, era uma parte infinitesimal do que havia entre nós. Provavelmente a primeira coisa de que eu abriria mão, se fosse obrigado.
É estranho, eu sei... Mas o sexo, por melhor que fosse, não dava pra largada com as conversas... Com os passeios... Com as risadas, os beijos, e toda a afinidade que nós compartilhamos.
Então, eu continuei te acariciando os cabelos, embora sem conversa, beijos, passeio ou risadas, a ideia do sexo estivesse muito tentadora contigo ali, inteirinha do meu lado, de pernas de fora e toda aquela pele exposta com aquele cheiro doce de coisas que dá vontade de comer e talicoisa...
Eu estava te olhando... Devia estar fazendo uma expressão tipo a que o Willem Dafoe faz pra Kirsten Dunst antes do jantar de ação de graças no apartamento que o Harry e o Peter dividem no Homem-Aranha, porque tu me olhou erguendo bastante as sobrancelhas pra encontrar meus olhos e deu um sorriso bem grande enquanto se virava de lado e se aninhava nas cobertas sobre a cama... O edredom que eu te dei e o cobertor que espalhava as 'bolinhas vermelhas do amor'. Tu se ajeitou de lado, de modo a ficarmos olhando um para o outro. E tu me perguntou:
-Tu vai esquecer de mim, não vai?
E eu sorri com a boca, mas franzi o cenho enquanto virava a cabeça pra deixar bem claro o quanto aquela declaração me deixara confuso. E tu continuou:
-Tu vai esquecer de mim... Eu vou estar longe e tu nem sequer vai lembrar que eu existo.
E aí eu ri... Não uma gargalhada, mas ri, de verdade... Francamente. Eu ri e me endireitei, colocando as costas retas, e te virei de leve, pra poder continuar te olhando nos olhos. E eu disse:
-Tu tem noção de tudo o que tu arruinou na minha vida?
E tu fez uma expressão desconfortável com o rosto... Talvez achando que eu estivesse bravo, mas eu continuei:
-Tu arruinou tantas coisas que eu nem sei por onde começar... Mas eu não consigo mais ler meus quadrinhos favoritos sem pensar em ti. Eu não ouço as minhas músicas sem pensar em ti. Eu não consigo ver filmes de que eu gosto sem pensar em ti. Eu não consigo mais gostar de filmes com James McAvoy e Michael Fassbender porque tenho ciúmes deles, o que significa que tu arruinou X-Men - Dias de Um Futuro Esquecido, pra mim. Tu arruinou meus jogos porque eu ainda jogo como se tu fosse estar lá. Tu arruinou meu futebol porque eu penso se tu também está assistindo ao jogo e fingindo que manja muito de parte tática. Tu arruinou meu videogame porque eu queria que tu estivesse jogando comigo. Tu arruinou meu travesseiro duas semanas por mês, que é o tempo em que ele não está envolto nas tuas palavras, tu arruinou minhas cobertas porque elas não soltam 'bolinhas vermelhas do amor', tu arruinou até mesmo a pornografia porque eu não sei pensar em fazer sexo com mais ninguém, e, em suma, arruinou a minha vida, porque ela não existe se tu não fizer parte dela. Então me diz, minha pequena padawan... Como é que eu posso sequer pensar em tentar te esquecer?
E aí tu sorriu. E eu não precisei me preocupar em parecer chauvinista, pois tu é quem tinha tomado a iniciativa. E eu pude me dedicar a sentir teu gosto e teu cheiro e teu calor ao meu redor... E depois eu dormi sem roupa do teu lado, embora tu tenha ido tomar banho, e voltado cheirosa e limpa, usando um pijaminha de mulher. E eu juro que tentei te esperar acordado, mas não consegui, porque eu pego no sono tão rápido..."
E foi isso que ele disse, que ele escreveu após receber palavras dela após quatro dias sem notícias... Ele esqueceu de dizer que ela nunca o atazanava. Que receber notícias dela jamais seria um estorvo. E que ele tinha outro e-mail, ligado à sua conta do google, e que tinha um skype e que tinha um coração, atrofiado e demolido, mas que ainda era dela... Que sempre seria dela...

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