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terça-feira, 21 de maio de 2013

A Trunfo de Mina



-Mina Gambetti Stock.
Era assim que a Mina se apresentava. Mina, obviamente não era um nome. Era um apelido. Um diminutivo.
Infelizmente não era o diminutivo de nada maneiro como Wilhelmina, como em Drácula, nem de nada tradicional como a tradução, Guilhermina... Não... O "Mina" de Mina estava ali para ocultar Firmina.
Não parece um mau nome, eu sei. Especialmente se tu for uma avó da colônia com cabelos encanecidos, 73 anos de idade que ordenha vacas, cozinha bolos e bate manteiga com o próprio punho. Se tu é uma moça da cidade e experimentou as agruras do ensino público e um bullying que ainda nem tinha esse nome mas cujas vítimas já sabiam o que significava, então Firmina podia ser um pesadelo.
Por triste que pareça, a Firmina não tinha no R.G. o pior momento da sua existência.
A Mina era feia, tadinha. Há quem diga que nenhum jovem vivaz é feio. Mentira. Há centenas, milhares de jovens vivazes feios.
Mina, do auto de seus vinte e seis anos, era uma moça muito feia. Descendente de alemães e italianos, conseguira o pior de ambas as ascendências. Sim, porque se há moças muito bonitas na Alemanha e há moças lindíssimas na Itália (Dê uma olhada nas seleções nacionais de vôlei feminino desses dois países se não acredita em mim), não é menos verdade que há canhões e buchos em número igual ou até maior...
Mina tinha a porção pior de alemães e italianos. Lábios finos em uma boca estreita cujos cantos apontavam pra baixo. Maxilar quadrado e ligeiramente projetado. Nariz adunco, apontando direto pra boca, e olhos que, se tinham uma linda cor, um verde mar do caribe algo azulado, eram feios, com os cantos externos caídos. O cabelo, pouco e liso, totalmente sem graça, castanho bem claro, e um par de orelhas que poderiam ser usadas como chinelos por moças de pés normais.
Não bastasse isso, a Mina tinha uma mãe que, como toda a mãe, pegava no pé da filha, dona Edna. A Edna era dessas pessoas que não fazem de propósito, mas que parecem, a cada frase querer destruir a auto-estima da filha. Tudo o que a Mina fazia era errado, o emprego dela era ruim, o apartamento dela era bagunçado, o gato dela era antipático, ela não conseguia segurar um homem... Pra piorar sempre comparava a vida de Mina à vida dos irmãos, Miguel, que também era muito feio, mas era alto, forte e personal trainer, e Otávio, que era um pouco menos feio, e funcionário público concursado, ambos casados com moças de fundamento e com filhos à caminho enquanto financiavam casas próprias pela Caixa Federal. E volta e meia terminava suas críticas à mina com um "Porque tu não podia ser mais como teus irmãos?".
Não era fácil pra Mina.
E ela até queria, ser mais esperta, como eram os irmãos. Não que fosse burra, não era. Mas não tinha aquela fome de grana e estabilidade dos irmãos. Também queria encontrar o amor. Um amor de verdade, pra vida inteira. Casar, ter filhos, dedicar parte de sua vida a um lar e à uma família.
Queria mesmo. Mas era complicado. Era complicado porque ela não se sentia pronta, porque era feia e porque ela era constantemente lembrada que não tinha atrativos.
Mas a Mina tinha um trunfo:
Uma bunda linda.
Linda mesmo. Bunda de mulher, não essas bochechas de ferro que mulheres de pagodeiro e dançarinas de palco têm nos dias de hoje e acham muito bonito.
Era uma bunda redondinha, macia, suave aos olhos...
E a Mina, que não era tonta nem nada, não queria viver da bunda, que nem uma Carla Perez da vida, mas sempre que que seu ego fora demasiado enxovalhado, vestia uma calça bem justa com uma calcinha tipo tanga por baixo, e ia dar uma volta na rua.
Era um santo remédio.
Enquanto ouvia gracejos e baixarias à sua passagem, Mina tinha duas certezas:
Sua mãe estava errada quanto à sua ausência de atrativos.
E ela não precisava ter pressa.

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